UM PADRE ALÉM DOS MUROS DA IGREJA.

Aldo dos Santos***

Recebi da Professora Rita Diniz o livro: Peregrino por Terra, Teto e Trabalho , escrito por Antônio Canuto, sobre a vida do seu irmão, o Padre Severino, ”um Padre além dos muros da igreja”.

Neste livro nos identificamos com a vida sofrida do povo nordestino, que resgata a história de Severino em busca de outras alternativas pelo Brasil afora. Relata ainda seus romances, suas buscas desesperadas na superação das dificuldades do núcleo familiar e o abraço solidário à vida e à causa dos empobrecidos pelo sistema capitalista.

Logo depois que li o livro, liguei para a irmã do Pe. Severino, Professora Rita Diniz, para entender melhor o cruzamento das nossas histórias junto às nossas famílias nas terras do Ceará.

Segundo consta no livro, “No dia 10 de outubro de 1954, Severino Nasceu. Era o terceiro dos nove filhos de sua mãe Raimunda Leite Diniz Figueiredo e segundo de seu pai Antônio José Diniz”, na zona rural, Sítio Jenipapeiro município de Milagres, no Ceará (pág 21).

O autor vai descrevendo a tragédia da fome e da miséria, bastante comum ao povo pobre desta região, “eram muito pobres, de tal forma que quando em 1959, nasceu Rita, os padrinhos dela manifestaram desejo de a levar para ser criada por eles.”(pág 23) Portanto, Rita foi criada pela irmã da minha mãe a tia Lu, que conheci e que ela e minha mãe se davam muito bem.

Quando conheci a professora Rita num Congresso Estadual da Apeoesp, em 2001, fiquei muito contente quando ela me chamou de primo, e, a partir dai, a nossa identidade de militância sempre foi marcante e constante.

Nos relatos contidos no livro achei importante ainda a seguinte informação: após falar da dureza da vida, do avô, da mãe e do pai, Severino traz uma importante informação que eu não tinha o menor conhecimento e que certamente são raízes fundamentais para compreendermos as nossas rebeldias e compromissos de classe.

Após relatar as condições frágeis de saúde do pai, ele relata ainda que seu pai “em 1960 candidatou-se a vereador pelo Partido Comunista do Brasil, PCB. Em 1964, quando os militares deram o golpe de Estado e assumiram o poder passaram a perseguir os que não concordavam com suas ideias, sobretudo os que eram considerados comunistas. Seu Antônio Diniz passou a ser perseguido e teve que viver praticamente isolado, escondendo-se em casas de parentes e até em recantos da mata.” (pág 25)

Levando em conta que a região era desprovida de escola pública ao alcance das famílias mais pobres, além de desenvolver a alfabetização ao seu modo na família e com as pessoas conhecidas, ele ainda formava agentes que desenvolviam também a educação popular local. Ou seja, era uma figura pública e ainda uma espécie de educador popular.

Aos 17 anos, Severino ganhou o mundo em busca de uma saída para aquele estado de pobreza e sofrimento em que viviam. Passou por várias experiências no trabalho pesado e forçado. Com a morte do pai, assume a responsabilidade de amparar as irmãs e irmão, agora, aqui em São Paulo. Incentivado pela irmã Rita acaba iniciando os estudos, sempre com muita dedicação e afinco.

Do ponto de vista sentimental, estabelece relações amorosas inconclusas e inesperadamente acaba sendo personagem de uma carta no programa de Hebe Camargo que publicisa a carta escrita por uma mulher à procura do amor de sua vida. Este amor procurado era o próprio Severino, agora na condição de Padre.

Determinado e consciente de seu papel histórico assume a posição junto ao Partido dos trabalhadores e do Movimento Sem Terra, enquanto militante da comissão pastoral da terra.

Na vida como padre sempre lutou pelo que era, justo, certo e ético, tendo como premissa o compromisso ao lado dos despossuídos e silenciados do sistema capitalista vigente.

Como educador popular sempre buscou a leitura, o conhecimento como premissas determinantes na vida das pessoas.

Ao falar com a Rita, após a leitura do livro, começamos a pensar e buscar nexos nas raízes que, possivelmente, influenciaram nossas famílias e tenham chegado a nós com as nossas atividades sindicais e políticas partidárias nos dias atuais, sempre no campo da esquerda.

Este tema será aprofundado em novos levantamentos, através das prospecções que faremos na escrita do Livro da minha querida prima, Professora Rita Diniz.

Este livro, Peregrinos por Terra, Teto e Trabalho é uma preciosidade que vale a pena ser lido, debatido e divulgado, pois conta a história dos migrantes, expulsos de suas terras em busca de novos horizontes e oportunidades, e, além disso, serve também de inspiração e de farol revolucionário nos dias de hoje para as atuais e futuras gerações.

Forte abraço e parabéns ao autor e ao ilustre personagem deste livro, Pe. Severino Leite Diniz.

Aldo dos Santos – Ex-vereador em SBCampo, Diretor Estadual da Apeoesp, Psicanalista e Escritor.

Citação bibliográfica:

CANUTO, Antônio, Peregrino por terra, teto e trabalho: um padre além dos muros da igreja, Antonio Canuto.— Goiânia, GO: Gráfica e Editora América, 2025