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Torcidas desorganizadas: futebol e fanatismo


Chico Gretter***


Uma minoria de torcedores sempre pode estragar a festa!


                O Corínthians conquistou ontem 31° título e, o que é melhor, em cima de seu arquirrival Palmeiras; uma rivalidade de mais de cem anos na história do futebol brasileiro. É fato que o Palestra Itália, nos confrontos de finais estaduais e dos campeonatos nacionais, leva uma boa vantagem sobre seu adversário: quatro vitórias a mais! Mas ontem a festa foi do Corínthians!

                Por falar em festa, uma parte da torcida do “Timão” quase estragou a festa dos corinthianos quando começaram a acender sinalizadores, que são proibidos nos estádios, e a jogar objetos dentro do gramado sobre os jogadores do “Verdão”. E isto ocorreu por mais de meia hora a partir do pênalti perdido por Rafael Veiga, muito bem defendido pelo grande goleiro Hugo. Dali para frente, praticamente não houve mais jogo, já que algumas bombas caíram no campo, quase atingindo os jogadores e a fumaça que se espalhou pelo ar impedia um jogo minimamente técnico. Como se diz, naquele momento o jogo havia acabado e o Corínthians garantiu mais um título paulista, sendo seu maior vencedor na história.

                Está tudo muito bom, está tudo muito bem, mas o que eu quero refletir aqui é esta relação entre o fanatismo e o futebol, o que tem provocado muita violência e mortes entre torcidas no decorrer dos anos. As partidas de futebol que vieram para substituir as batalhas nas guerras não conseguem eliminar totalmente uma parcela das partes envolvidas de reviverem suas contendas pré-históricas e medievais. Parte dos torcedores incorporam a selvageria dos primórdios e parte para a agressão direta sobre seu adversário que nesse momento passam a ser inimigos de guerra. E essa atitude belicosa sempre estraga a festa do futebol.

                Sobre isto, vou narrar um acontecimento do ano de 1995 que marcou o futebol paulista após o confronto físico entre torcedores do São Paulo e do Palmeiras na final do Torneio de Futebol Júnior no Estádio do Pacaembu em que o Palestra foi campeão; todavia, a morte de um torcedor são paulino estragou a festa. Vamos ao fato.

Sobre essa morte de um torcedor são paulino, São Paulo e Palmeiras disputaram a final do Torneio Júnior, ganhando com um gol de “morte súbita” na prorrogação. A torcida do time são paulino praticamente lotava o Estádio do Pacaembu em 1995; após o gol do time palmeirense, alguns torcedores do Verdão entraram em campo para comemorar junto com seus jogadores (não havia mais que mil torcedores do Palmeiras contra uns 15 mil torcedores do São Paulo).

No momento em que os palmeirenses comemoravam, dezenas de torcedores do São Paulo pularam um pequeno bloqueio de uma obra que estava sendo realizada e, com paus e pedras que ali estavam à disposição, invadiram o estádio e começaram a agredir os poucos torcedores do  Palmeiras; neste momento, a torcida organizada "Mancha Verde", que se encontrava nas arquibancadas opostas, também invadiu o campo e, armados com paus, partiram para cima dos torcedores são paulinos, iniciando uma batalha campal no gramado; desse confronto, um torcedor são paulino foi atingido na cabeça e veio a falecer dias depois.

Narro este triste episódio com detalhes porque estava no estádio assistindo ao jogo com meus dois filhos e minha filha caçula, como também minha esposa, no meio da torcida do São Paulo (pois meu filho mais velho torcia para o São Paulo) e foi um grande sufoco sair com eles do estádio em segurança; quase houve um verdadeiro pisoteamento entre os torcedores, o que ajudei a evitar com alguns outros torcedores que acalmaram a torcida em pânico que procurava abandonar o estádio pela parte de cima; porém só havia uma pequena porta de saída naquele setor, sendo que as demais estavam trancadas. Não havia seguranças agindo e poucos policiais estavam presentes no início da confusão. Houve falhas graves na segurança das torcidas, cuja maioria tinha vindo somente para torcer e se divertir.

Portanto, a morte de um torcedor são paulino por um torcedor palmeirense é fruto de vários fatores que levaram ao lamentável ocorrido! Foi devido a esse triste acontecimento que as forças de segurança do Estado e os clubes resolveram determinar que os jogos que envolvem os principais times locais tenham apenas uma torcida, o que tira o brilho dos espetáculos, razão pela qual sou contra, mesmo porque, passados mais de 25 anos da tragédia, a violência entre torcedores continua, não diminuiu, sendo que vários outros torcedores já foram feridos e mortos da mesma forma, não dentro dos estádios, mas nas ruas da cidade e nas estradas. A proibição de torcidas organizadas não resolve o problema, o que as forças de segurança não aceitam, e a impunidade dos criminosos – não torcedores – continua!

Por isso alertei: "Ontem, quase que uma minoria de torcedores corinthianos provocou um incidente ou acidente grave no final do jogo", com o uso de sinalizadores e jogando objetos e também sinalizadores no campo sobre os adversários, mas que quase atingiram os atletas do próprio time. Se algo tivesse acontecido, a festa dos corinthianos terminaria muito mal!

Praticamente não houve mais jogo depois que o pênalti foi marcado; tudo isso mancha o brilho da arte no futebol e estraga a festa dos vencedores! Para mim, que já pratiquei muito o futebol desde a minha infância, tendo quase me tornado jogador profissional nos anos 70, o futebol é um esporte social e economicamente relevante,  é entretenimento, é arte, alegria e emoção individual e coletiva. Poucas emoções se igualam ao grito da torcida após um gol ecoando pelo estádio e arredores; ou quando um goleiro consegue defender um pênalti, como no jogo de ontem. Este momento de celebração é indescritível, é inenarrável, como dizia um célebre locutor de rádio: “É gooooooooolllllllllllllllllll!!!” E concluía emocionado: “E o tempo passa, torcida brasileira...” (Fiori Gigliotti – 1928 + 2006). Lamentavelmente a violência social de um país profundamente desigual deságua nos espetáculos de futebol, assim como “nas escolas, campos e construções”!

Parabenizo os corinthianos que foram campeões ganhando do adversário no seu mando de campo e parabenizo principalmente o goleiro Hugo que tem se revelado um grande goleiro do futebol brasileiro; espero que não seja vendido como tantos outros craques que brotam nessa terra, mas se tornam "commodities" dos grandes mercadores do futebol mundial e nacional, como a corrupta CBF! O povo não merecia mais este sofrimento, mesmo assim festeja a vitória de seus times e isto é muito bom para a saúde mental e emocional deste “povo marcado, povo feliz”! Vai “Curíntias”!

Embora triste como palmeirense, não estou totalmente triste, até alegre estou, pois tenho dois irmãos mais velhos que são corinthianos fiéis, e principalmente por minha tia-mãe-madrinha, Dona Nica – Antônia, que era corinthiana roxa, a cor original do uniforme do Corínthians Paulista, fundado em 1910 no bairro do Bom Retiro, capital paulistana, e deve estar comemorando numa outra dimensão do Universo ou do Multiverso onde só há uma torcida organizada!

Bom dia! E como diziam e viviam os epicuristas, “Carpem Die” - aproveitem o dia!


São Paulo, 28/03/2025 - Chico Gretter – Every Green!!!

Palmeiras, o maior Campeão do Brasil – Duo Decacampeão Brasileiro!


*Chico Gretter é professor de Filosofia e História, ministrou aulas nas redes pública e particular durante trinta e cinco anos, ensino fundamental, médio e superior, mestre em Filosofia e História da Educação pela FEUSP (1997), membro fundador da APROFFESP e seu atual vice-presidente; e fiel torcedor do Palmeiras – Palestra Itália – desde 1963!

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