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A Ilusão das Evidências: Uma Educação que Desconsidera Pessoas, Contextos e Realidades

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Sérgio Linhares Hora!!!


Educação Baseada em “Evidências” e à Entrevista do Secretário de Educação de São Bernardo do Campo

A entrevista concedida em abril de 2025 pelo Secretário de Educação de São Bernardo do Campo, Júlio César da Costa, ao Diário do Grande ABC, chamou minha atenção desde o primeiro momento.

No entanto, demorei para digerir o conteúdo, pois quis compreender com calma qual concepção de educação a Secretaria de São Bernardo do Campo pretende realmente adotar. Agora, após esse tempo de reflexão, me pronuncio com convicção: a proposta apresentada expressa uma visão tecnicista, limitada e distante de uma educação verdadeiramente transformadora.

Ao afirmar que pretende “aniquilar o analfabetismo em quatro anos”, o secretário reduz o processo educativo a metas e indicadores, esvaziando seu sentido político e humano. Essa lógica gerencial, inspirada em modelos empresariais, desconsidera a complexidade do ato de educar e o papel essencial do diálogo e da escuta. Como ensinou Paulo Freire, educar é um ato de amor e coragem, e não um processo de controle e padronização.

A escola deve ser espaço de vida, de trocas e de libertação não um campo de testes estatísticos.

A chamada educação baseada em evidências, apresentada como solução moderna, mascara uma concepção fria e desumanizada de ensino. Falar em evidências sem falar de contexto, cultura, território e afetos é ignorar o que realmente forma sujeitos críticos e conscientes. A escola não precisa de mais relatórios — precisa de escuta, diálogo e condições reais para educar.

Além disso, é preciso reconhecer que alguns setores da educação sequer funcionam adequadamente, e que as manutenções nas escolas deixam muito a desejar.

Falar em qualidade educacional exige enfrentar a realidade da infraestrutura precária, da falta de recursos humanos e da ausência de políticas consistentes de inclusão. Não se constrói uma educação inclusiva apenas com discursos, mas com estrutura física acessível, profissionais preparados e projetos pedagógicos que respeitem a diversidade e as necessidades de cada estudante.

A política de bônus por resultados, exaltada como estímulo à melhoria, tem mostrado efeitos contrários: aprofundou a competição entre escolas e o adoecimento dos profissionais, ao transformar o trabalho pedagógico em mera corrida por números.

Ontem, ao assistir a um conteúdo televisivo sobre a realidade escolar, ficou ainda mais evidente o sofrimento e a exaustão emocional de professores e professoras. Esses profissionais não precisam de cobranças disfarçadas de “incentivos”, mas sim de reconhecimento, acolhimento e valorização concreta.

O adoecimento docente é um grito silencioso que precisa ser ouvido. Sem escuta e sem cuidado, não há educação de qualidade possível. É urgente que a gestão municipal reconheça que cuidar dos professores é também cuidar dos alunos e do futuro da cidade.

A educação pública que desejamos não se constrói com planilhas, mas com práticas humanizadas e coletivas, pautadas no diálogo e na esperança. Como dizia Paulo Freire, “ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho, os homens se educam em comunhão”.

São Bernardo do Campo precisa escolher: quer uma educação que produz números, ou uma educação que forma pessoas e transforma realidades?


Sérgio Linhares Hora, Professor

Presidente do Instituto Vida de Direitos Civis e Ecológicos

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