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Diante da guerra, tomar partido é preciso!


Por: Aldo dos Santos***


Para entender a guerra em plena vigência, é necessário esclarecer os interesses que alimentam este conflito anunciado, e neste contexto, tomar partido diante das várias leituras existentes, é urgente e necessária.


Numa perspectiva marxista, a história da sociedade humana sempre foi a história de lutas antagônicas entre opressores e oprimidos e nos dias atuais, entre capital e trabalho, (Burguesia versos Proletariado).


Interesses antagônicos do ponto de vista econômico se manifestam a partir dos modos de produção e o desenvolvimento das forças produtivas.

A guerra em curso se traduz numa luta sem precedente, porém, ainda inspira a necessidade da compreensão e dos consolidados interesses de classes.


Na primeira guerra mundial, (1914/1918) triunfa a primeira e nova experiência histórica, levando a implantação de uma nova modalidade política, uma espécie de contra ponto aos interesses reais da burguesia. A teoria da revolução e do governo dos trabalhadores toma corpo e habita entre nós.


Após a segunda guerra mundial (1939/1945), o mundo saiu dividido em dois grandes blocos consolidados, em suas representações, a saber:

Organização do Tratado Atlântico Norte foi assinado em 04 de abril de 1949, liderado pelos Estados Unidos e outros países, visando defender os interesses capitalistas, e tentar impedir o avanço do mundo socialista.


O Pacto de Varsóvia foi firmado em 14 de maio de 1955, estabelecendo por sua vez uma aliança com os Países Socialistas do Leste Europeu, liderado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Portanto, existia uma relativa “neutralização de forças”, denominada por longos anos como Guerra Fria.

Os tensionamentos avançaram com a revolução Chinesa e Cubana onde a população assumia sua condição de libertação da opressão do capital e se transformam por décadas em economias planificadas de conteúdo socialista.


A revolução Chinesa tem dois momentos que devem ser observados e destacados: O movimento nacionalista que derrubou a dinastia Qing, em 1911 e posteriormente a revolução de 1949, com a proclamação da República Popular da China sob a liderança de Mao Tsé-tung.


A Revolução Cubana foi outro marco nesta disputa, onde de forma revolucionaria derrubaram Fulgêncio Batista em 1 de janeiro de 1959 e aos poucos implantaram o socialismo neste país.

Ou seja, mesmo na Guerra Fria, ninguém ficava brincando de atirar blocos de gelo uns nos outros.


Para se ter uma ideia, veja a relação de países onde a OTAN e os Americanos implementam uma política de invasão a países indefesos como tática de crescimento para se contrapor ao Pacto de Varsóvia, mesmo depois de sua diluição em março de 1991.

“Intervenções, guerras e golpes patrocinados pelos EUA e pela OTAN desde 1945:

- China - 1945/46

- Síria - 1949

- Coreia - 1950/53

- China - 1950/53 (na Coreia)

- Iran - 1953

- Guatemala - 1954

- Tibet - 1955/70

- Indonésia - 1958

- Cuba - 1959

- República Democrática do Congo - 1960/65

- República Dominicana - 1961

- Vietnan - 1961/73

- Brasil (golpe militar) - 1964

- Guiana Britânica - 1964

- República do Congo (parte) - 1964

- Guatemala - novamente - 1964

- Laos - 1964/73

- República Dominicana - 1965/66

- Indonésia - novamente - 1965

- Peru - 1965

- Grécia - 1967

- Guatemala - novamente - 1967/69

- Camboja - 1969/70

- Chile 1970/73

- Argentina - 1976

- Angola - 1976/92

- Turkia - 1980

- Polônia - 1981

- El Salvador - 1981/92

- Nicarágua - 1981/90

- Camboja (novamente) 1980/95

- Líbano - 1982/84

- Granada - 1983/84

- Líbia - 1989

- Filipinas - 1989

- Panamá - 1989/90

- Haiti - 1991

- Iraque - 1991

- Kuwait - 1991

- Somália - 1992/94

- Iraque - 1992/96

- Bósnia - 1995

- Iraque - 1998

- Sudão - 1998

- Afeganistão - 1998

- Yuguslávia - 1999

- Afeganistão - 2001

- Iraque (terceira vez) 2002/2003

- Yemen - 2002/2020

- Haiti - 2004 (com participação vergonhosa do Brasil)

- Somália - 2006/07

- Iran - tentativa de golpe em 2005

- Honduras 2009

- Líbia - 2011

- Síria - 2011/até os dias de hoje

- Brasil - 2016

- Bolívia 2019

- Venezuela 2019 (tentativa de golpe)

- Guiana - 2020

- Iraque - (quarta vez) 2020

- Somália (novamente) 2020

- Afeganistão - 2020

- Somália – 2022.”


Esta relação é de domínio público e observa-se que o imperialismo se mantém como tal, às custas de milhões de cadáveres espalhados pelo mundo afora.


Como braço auxiliar desta matança através das colonizações em várias partes do mundo, em 1957 vai surgir o embrião da União Europeia, e em 1993, a partir do tratado de Maastricht foi instituída a União Europeia com inúmeras atribuições na geopolítica mundial.


Com o avanço das forças capitalistas e com as fragilidades no mundo socialista, a partir de 1980 profundas mudanças começam a acontecer, particularmente, no Pacto de Varsóvia, que foi fundado em 14 de maio de 1955, vindo à extinção em 31 de março de 1991. Além de mudanças na Europa, a União Soviética entrou em profunda crise politica e econômica, derrubaram o muro de Berlim e a Guerra Fria deixou de existir.


Entendido por muitos como um contraponto à Otan e temido pela mesma, a partir do artigo do economista do Goldman Sachs – Jim O'Nei, em 2001, vai ter origem um novo bloco denominado de BRIC, onde o autor do artigo afirmava que o Brasil, Rússia, Índia e China seriam as economias do futuro. Posteriormente acrescentaram a África do Sul.


Com o fim do Pacto de Varsóvia a Otan e os Estados Unidos continuam operando para remover qualquer pedra no caminho e numa disputa pela hegemonia capitalista tentam se impor como a primeira economia mundial, reinando contra tudo e contra todos, apesar dos desgastes internos e de sua necropolítica belicista.

Porém, com o crescimento e avanço econômico da China, “respaldada” pelos BRICs, a ordem mundial vem sofrendo profundas mudanças, e em breve, os Estados Unidos diminuirá sua importância, comparativamente com outras economias mundiais.


Portanto, a corrida armamentista e a atual guerra na Ucrânia é mais uma tentativa de abafar outras iniciativas concorrentes e tentar manter a hegemonia do Império Americano, usando de todas armas possíveis e imagináveis, como tem feito historicamente até o presente momento.

O primeiro ensaio formulado desta vocação americana foi a Doutrina James Monroe de 1823, que ainda faz eco nos dias atuais, quando afirmava que “a América é para os americanos”.


A partir de 1992, os Estados Unidos se comportava como dono absoluto do mundo, realizando arriscadas manobras nas águas territoriais da Rússia, China e até mesmo na Coreia do Norte.

Ou seja, a guerra como princípio de dominação e subordinação de tudo e todos, uma espécie de barbárie permanente.


Aliás, por ocasião do ataque às torres gêmeas, George Bush materializou sua sanha sanguinária ao declarar uma nova estratégia de dominação denominada de “Guerra Infinita e Sem Fronteiras". A partir desse quadro da geopolítica, as guerras da Otan, do imperialismo, da União Europeia e dos Nazistas impõe aos Russos a urgente necessidade de se defenderem de seus algozes, neste momento, pois tudo caminha para o efetivo cercamento e estrangulamento do seu espaço geopolítico que tem enorme concentração e potencial de petróleo e gás, e certamente, outras regiões estarão a curto e médio prazo na linha de fogo, como a Coreia do Norte, Venezuela, Cuba e a própria China.


De acordo com a nota do Partido comunista da Rússia, é urgente, “desmantelar os resultados de muitos anos de esforços para Banderizar a Ucrânia. A verdadeira política em seu território é ditada de muitas maneiras por nacionalistas raivosos. Eles aterrorizam o povo ucraniano e impõem às autoridades um rumo político agressivo. Ao ceder a esta pressão, Zelensky traiu os interesses de seus compatriotas que o elegeram como presidente de paz em Donbass e de boas relações de vizinhança com a Rússia”.


Qual seria então o significado de Banderizar a Ucrânia?

Stepan Bandera é um dos símbolos na luta pela independência do povo Ucraniano, que colaborou com o nazismo para se livrarem da figura de Josef Stalin. Depois de 2014, Bandera passa a ser cultuado e é elevado à condição de herói Nacional.


Stepan Andriyovych Bandera, nasceu em 1 de janeiro 1909 e foi morto em 15 de outubro 1959. Um grande líder reacionário que dirigia a (OUN), Organização dos Nacionalistas Ucranianos.

Outro momento marcante na luta politica das disputas geopolítica foram os acontecimentos de 2014, como descreve o texto abaixo.

“Quem acompanha meu trabalho há vários anos sabe por que tenho um envolvimento com este tema da Ucrânia e Rússia.

Quando aconteceu o golpe de estado em 2014 na Ucrânia, eu participava do Conselho Mundial da Paz e da articulação da juventude do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Na ocasião, recordo-me de algo que me dói no fundo da alma até hoje. Jamais esquecerei do depoimento de um líder sindical de Lugansk contando no Congresso da Federação Sindical Mundial os crimes do governo ucraniano em sua república. Mas, nada se compara à dor que foi ter acompanhado quase em tempo real o massacre de Odessa. Eram centenas de trabalhadores voltando do protesto do 1° de maio, Dia do Trabalhador, que se reuniram na Casa dos Sindicatos para um ágape fraternal. Só que, de forma organizada, um grupo de mais de mil nazistas ucranianos com bandeiras de suásticas, tochas e gritando "Heil Hitler!" cercou a Casa dos Sindicatos e começou a incendiá-la. Pareciam voltados das catacumbas de 70 anos atrás, sem que ninguém esperasse. Havia cerca de 250 sindicalistas lá dentro do prédio e os nazistas não os deixaram sair. Foram inúmeras mortes de pessoas carbonizadas. Outras foram agredidas e mortas por espancamento. No dia seguinte, os nazistas divulgaram memes fazendo piadas das fotos dos sindicalistas mortos. Não houve condenação por parte dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia. Esse massacre não entrou na primeira página do Estadão nem teve editorial na Globo. Nem a Rússia interviu em Odessa. Trabalhadores jogados à própria sorte, traídos pelo seu próprio país e ignorados pelo mundo, recebendo apenas a solidariedade de outros trabalhadores internacionais. Aí, o que aconteceu na Ucrânia desde então? Os partidos de esquerda foram proibidos. Nazistas invadiram-nos queimando seus livros e violentando suas secretárias. Os sindicatos foram fechados e seus líderes perseguidos por esses nazistas. Os nazistas participaram das eleições e fizeram bancadas. A esquerda está fora da institucionalidade desde 2014. Seus partidos foram proibidos de existir e seus símbolos criminalizados.


Ou seja, a UCRÂNIA NÃO É UMA DEMOCRACIA.

Aí, esse tal de Zelensky foi fabricado nos porões dos serviços de inteligência ocidentais para ser uma marionete dos interesses da indústria bélica. Foi colocado no poder com um discurso de extrema-direita para transformar o seu próprio país num palco de guerra, provocando a Rússia até chegar à situação atual. Agora, simplesmente ignoram que, de 2014 pra cá, o governo da Ucrânia já matou 14 mil pessoas em Donetsk e Lugansk. Nunca mais tive notícias daquele dirigente que conheci na Federação Sindical Mundial. Será que está vivo? Também conheci russas da região de Donbass. Nunca mais consegui falar com elas. Será que ainda habitam o mundo dos vivos?


Bom, é isso. Não virei 'analista de rede social' em uma semana. Este tema faz parte da minha trajetória de vida como Professor de Relações Internacionais. Inclusive, orientei monografias e fiz simulação da ONU com meus alunos da época. Havia decidido sair das redes sociais, mas essa situação me fez voltar. Não vou mais me calar vendo tanta gente falando bobagem sem saber.

Está na hora de mostrar o que de fato acontece. Vim pra ficar. Sigam-me no YouTube." Thomás de Toledo.


No livro 18 Brumário, Marx vai afirmar que: “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.”

A classe trabalhadora nunca defendeu a guerra como princípio e condição necessária da sua libertação. Ela sempre tentou se defender das garras dos opressores do ponto de vista dos modos de produção existentes.

Foi assim no escravismo, no feudalismo e agora no capitalismo. Sabemos também que numa dada situação ou fato histórico, não é possível achar que exista neutralidade defensável, visto que, como resultado de uma guerra, os prejudicados são sempre os trabalhadores conscientes dos acontecimentos, ou não.


Neste sentido, e em base à realidade filosófica, somos chamados a tomar partido numa perspectiva dialética apontando as seguintes premissas:

Diante da tese da Otan, do Imperialismo, da União Europeia e do crescimento nazista que permeia as relações politicas e econômicas na Ucrânia, a antítese defensável da guerra defensiva da Rússia, diante do cercamento deliberado dos históricos inimigos, conforme tese exposta, nos leva a somar esforços para inviabilizar ainda mais a polarização capitalista neoliberal abrindo espaço para efetivo equilíbrio da geopolítica mundial, reorganizando a classe trabalhadora mundialmente num Partido Internacional da Classe Trabalhadora, tendo por base um programa revolucionário de acordo com os anseios de mudanças e transformação, instituindo um novo patamar de protagonismo dos oprimidos do mundo inteiro.


A síntese dessa guerra é uma declaração de guerra à classe dominante que historicamente oprime e mata nosso povo ao longo da nossa existência.


A classe trabalhadora é contra a guerra, todavia, as guerras são contra a classe trabalhadora. Portanto, enfrentar as especificidades das lutas e das guerras faz parte do cotidiano revolucionário.


Emir Sader no seu livro SÉCULO XX UMA BIOGRAFIA NÃO AUTORIZADA, faz uma radiografia do referido século, vamos perceber que o século 20 tem início dentro de uma nova expectativa histórica e econômica, a partir do surgimento de uma classe operária organizada e de conteúdo socialista, e termina o mesmo século como o século do imperialismo. O século XXI deve ser a antítese do século XX e a libertação da nossa classe já desponta no horizonte revolucionário como síntese/tese deste novo amanhecer.


Aldo Santos: Militante das entidades de filosofia (Aproffesp e Aproffib), militante sindical e do Partido socialismo e liberdade.

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