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“RUMO À ESTAÇÃO CATANDUVA” e “VIDAS SECAS”, ALÉM DA INTERDISCURSIVIDADE ESTÉTICA


por Wagner Guedes[i]

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Ao longo desses dias, na verdade desde o lançamento do livro de nosso amigo Aldo Santos, uma intersecção de pensamentos vem tomando minha cabeça, os quais se intercalam entre os campos da Filosofia e da Literatura. Ler a sensacional obra do Aldo, sem dúvidas me remeteu diretamente ao não menos célebre, Graciliano Ramos, em citação direta a obra social “Vidas Secas”.

Oras, poderia ser uma mera coincidência, ambos os livros não apenas relatam experiências, mas choram e apresentam os problemas sociais dento de um campo de esperança, dor e, sobretudo das nuances em que o povo nordestino é submetido. Mas, tudo isso com uma grande diferença – a de que Aldo não foi um personagem, mas a cobaia de carne (pouca digamos assim) e osso que fora arremetido à própria sorte, uma roleta russa com perfil nacionalizado pelos que empreendem a morte e o desprezo ao povo nordestino.

Se nas interações cotidianas de “Vidas Secas” e “Rumo à Estação Catanduva”, podemos fazer alusões –, as ideias narradas por um, a um fato ocorrido em outra obra, encontramos tantas semelhanças entre seus exemplares, que ficamos indiscutivelmente atônitos. Dois irmãos são vítimas diretas do destino –, enquanto Aldo e seu irmão Valter, escapam da ficção e adentram ao mundo dos personagens reais de “Rumo à Estação Catanduva”, em meio a tantas peripécias, “Vidas Secas”, traz-nos o “filho mais novo” e o “filho mais velho”. Vimos incontestáveis semelhanças, uma vez que não só fogem de um mundo cruel, mas o enfrentam com o ímpeto necessário e o instinto de sobrevivência inerente à situação.

Nesse cenário de miséria e sem se darem muita conta do que acontecia a seu redor, viviam os dois meninos, os filhos da família Santos e os “filhos” de Graciliano. O mais novo via na figura do pai um exemplo. Já o mais velho queria aprender sobre as palavras...

Fato é que muitos diriam que Graciliano teria adaptado sua “Vidas Secas” ao livro “Rumo à Estação Catanduva”, senão fosse pelo fato de tê-lo escrito quase 30 anos antes de Aldo.

Se tratarmos ambos os escritores como fonte comparativa, também facilmente observaremos um traçado crítico social retratando as dificuldades encontradas por pobres retirantes nordestinos, submetidos a miséria e as intempéries da vida, em consonância, obviamente, com a morte que se mantém à espreita.

Eu, em particular, esperava há longo tempo uma porção de emoção e literatura realista de qualidade. Aldo se superou e sua relevância o precede.



[i] Contato: wagner@dialogicaeditora.com.br

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