Alberto Souza***
Que a esquerda, inclusive a socialista ou comunista, participe de eleições é correto, acerto tático. Mas sua relação com o povo, em especial com a classe trabalhadora, mesmo em momentos de disputas eleitorais, deve ser de novo tipo, fazendo nova cultura política; de debater com as comunidades projetos que interessam a elas, deliberados por elas.
É um erro a velha prática, por exemplo, de o candidato tirar de sua cabeça que deve ser feito para o povo. É este que tem de fazer suas escolhas, aprovando as medidas que lhe interessam, criando seus projetos. Isso vale para povoados , bairro e para o Município como um todo, no atinente à realidade municipal.
Para esta discussão com a população, o candidato precisa estar municiado de informações sobre a situação financeira da Prefeitura, mormente no referente ao seu orçamento.
Isso porque é o povo quem deve decidir acerca de um dinheiro que é seu, público. Sobre seu uso.
Um debate de nova prática democrática, popular, direta, já desenvolvendo a democracia socialista . Conduta, obviamente, a ser regra geral com o fim do capitalismo.
Esta nova política - diga-se de passagem - exige formas novas de organização, conversas organizadas.
Daí a importância de se criarem conselhos de bairro, de comunidades, eleitos pelos moradores; os quais tomam a frente das reivindicações, deliberando com a população local sobre elas e formas de lutas para forçar sua realização junto ao poder público.
É a lógica do poder popular.
Nesta perspectiva , o eleito , no caso do exercício da vereança, não fica sozinho na cobrança dos benefícios reivindicados pelo povo, uma vez que o que cobra do Executivo não é produto de sua decisão, escolha. É resultado da determinação popular.
Esta prática traz um nova forma de consciência política da população. O povo passa a compreender que pode tornar-se poder, determinando o que é de seu interesse econômico-social e político. Vê-se, aos poucos, assumindo o próprio destino do Município, como este deve ser administrado.
Se a esquerda se recusa a organizar o povo, na estratégia da construção do poder popular, por meios de conselhos comunitários, populares, isso que dizer que ela não se dispõe a ir além do modelo de democracia vigente, democracia burguesa, controlada pelos donos do capital. Não quer lutar pela hegemonia político- ideológica da classe trabalhadora e seus aliados. Não luta pelo socialismo.
Se o candidato a este ou àquele cargo dirige-se ao povo apenas para pedir-lhe voto, mesmo com as melhores das intenções, sem a compreensão de que é a comunidade organizada que decide sobre suas reivindicações, seus projetos de busca de benefícios, como militante de esquerda, comete grande equívoco, subordina-se às regras da vigente hegemonia, da classe dominante.
Ressalte-se que, em qualquer conjuntura, de momento eleitoral ou não, a centralidade para o(a) militante de esquerda é a organização popular, pelo protagonismo do povo.
É comum parlamentares e prefeitos, militantes de esquerda, agirem consoante a prática de políticos orgânicos do poder econômico, tratando as demandas do povo longe dele, evitando sua pressão, seu poder de força organizada.
O político de esquerda, se se considera socialista, anticapitalista, tem o dever de participar da organização do povo, antes, durante e depois de eleições - partindo do princípio de que sem povo organizado, sem a classe trabalhadora se organizando rumo ao poder político, desde já ,praticando a sua democracia, caminhando para ser hegemônica na sociedade, sujeito da transformação da atual realidade -não se dá a marcha para o socialismo.
Fora disso, é primar pela conciliação de classe. E quando o explorado concilia com o explorador, tem-se mais uma vitória de quem o explora.
Alberto Souza - Ex-vereador em sbcampo, militante sindical e escritor.
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