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ZUMBI VIVE

Atualizado: há 17 horas



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Deobaldo Barbosa da Silva***


Na América Latina, países subdesenvolvidos ainda carregam resquícios profundos do processo colonial, como o racismo estrutural e ambiental, a desigualdade social que empobrece a classe trabalhadora e a manutenção de um índice de analfabetismo alarmante — um tenebroso projeto das elites, destinado a manter a população na ignorância e impedir que, ao adquirir conhecimento, questione seus privilégios.


Como desdobramento contemporâneo dessas estruturas coloniais, os bancos, o agronegócio e o Congresso Nacional — onde boa parte defende o orçamento secreto e a PEC da blindagem — de certo se mantêm em uma engrenagem política e empresarial que favorece os seus próprios interesses. Importa, nesse segmento, manter um contingente considerável de trabalhadores em condições de trabalho análogas à escravidão, amparados pela égide do neoliberalismo que flexibiliza, terceiriza e precariza as relações trabalhistas a fim de aumentar os lucros empresariais e diminuir salários, sob o argumento de conter gastos.


Políticas públicas para manter o planeta estável e construir um desenvolvimento sustentável podem diminuir o sofrimento de uma maioria historicamente empobrecida — entre eles quilombolas, indígenas e imigrantes — que perseveram ao adverso desenvolvimento predatório, danificando a natureza e colocando na lista de extinção diversas espécies animais.


Contudo, um outro mundo é possível, intrínseco às organizações dos movimentos negro, indígena, de mulheres, sem-teto, sem-terra, ecológico, imigrantes, LGBTQIAPN+ e nas organizações de empregadas domésticas que resgatam a sua ancestralidade no estilo das candaces — mulheres negras africanas que detinham o poder político na antiga civilização africana e não se deixaram escravizar. Junto às organizações antirracistas, em ambientes que ressignificam os quilombos contemporâneos e extinguem qualquer tipo de exploração, discriminação, estereótipo, xenofobia e misoginia, sugerem um novo paradigma de um outro mundo possível — espaços em que se vive comunitária e fraternalmente, onde ninguém larga a mão de ninguém.


Uma sociedade alternativa, justa, igualitária, sem opressores e oprimidos — legado que, por quase um século, o Quilombo dos Palmares existiu e resistiu às investidas do colonizador. E, na contemporaneidade, os preceitos dessa organização decolonial vivem em nossa memória, onde o espírito de Zumbi dos Palmares permanece vivo.


SILVA, Deobaldo Barbosa da. Zumbi Vive. São Paulo, 20 nov. 2025.

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