Uma reflexão sobre um processo de atribuição que é contra a educação do Estado de São Paulo
- Aldo Santos

- 24 de set.
- 2 min de leitura

Sérgio Linhares Hora ***
O último modelo de atribuição de professores e professoras no Estado de São Paulo revela um profundo desrespeito à profissão docente e às reais necessidades da educação pública.
É um absurdo que as licenças médicas e as faltas justificadas por motivos de saúde sejam utilizadas como critério punitivo, ignorando o fato de que a doença, muitas vezes, é consequência direta da sobrecarga de trabalho e das condições precárias nas quais os professores exercem suas funções.
Ainda mais grave é a proposta de avaliação em que alunos julgam o desempenho de professores de maneira simplista e equivocada, sem considerar que o papel do docente não é apenas agradar, mas sobretudo garantir o processo de ensino-aprendizagem. Nesse caminho, o professor cobra compromisso, disciplina e responsabilidade, elementos que nem sempre encontram respaldo na cultura escolar atual.
Nos últimos 10 anos de experiência como professor, tenho presenciado o empobrecimento crescente da categoria. Muitos colegas são obrigados a assumir jornada tripla para prover o sustento de suas famílias, chegando à exaustão diante de tanta cobrança e de um salário que não acompanha a importância do trabalho realizado. Essa realidade gera adoecimento, desmotivação e uma constante sensação de desvalorização.
O cenário torna-se ainda mais caótico diante da enorme rotatividade nas gestões escolares, o que fragiliza a continuidade dos projetos pedagógicos e impede avanços concretos. Some-se a isso a ausência de políticas sólidas de mediação de conflitos: nos últimos 15 dias, na EE. Maurício de Castro, ocorreram três brigas sérias entre alunos, evidenciando a carência de iniciativas estruturadas para lidar com a violência escolar.
Ao invés de priorizar medidas que promovam a aprendizagem, o Governo do Estado concentra esforços em fiscalizar e punir professores, tratando-os como culpados por falhas que, em verdade, decorrem de uma estrutura capenga e de uma concepção de educação cada vez mais voltada para o cumprimento de metas em plataformas digitais.
Esse modelo reduz a escola a números e relatórios, esvaziando-a de sua dimensão humana.
Se quisermos uma educação pública de qualidade, é urgente que o professor seja valorizado, que suas condições de trabalho sejam respeitadas e que a política educacional volte-se para o essencial: a formação integral do aluno e o fortalecimento de uma escola verdadeiramente democrática e inclusiva.
Sérgio Linhares Hora - Professor e presidente do Instituto Vida de Direitos Civis e Ecológicos

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