Por: Alberto Souza.
Aconteceu o golpe militar de 64. Implantada uma ditadura de 21 anos . Um período macabro, de torturas, prisões e assassinatos de muitos que lutavam pela democracia. À frente destes crimes, fardados dos vários escalões , do sargento ao ocupante de palácios. Todos de uma crueldade descomunal, a serviço do poder econômico nacional e estrangeiro. Todos contra o país e seu povo. Todos de uma monstruosidade indescritível nas suas ações criminosas. Houve casos de tortura de mulher grávida, outros, de lutadores serem torturados na frente de filhos pequenos.
Muita coisa a ser dita ainda sobre tamanha tragédia de nosso povo.
Quando milhões de pessoas foram às ruas contra o regime, veio a sua derrota. Contudo, os setores burgueses da oposição logo partiram para a conciliação . Como sempre acontece, a burguesia recorre ao povo para alcançar seus objetivos, depois, o trai.
A primeira traição foi criar uma lei de anistia que não só anistiava os que lutaram contra a ditadura , mas também a todos os agentes dela, que torturaram, mataram, cometendo até mesmo crimes de lesa-humanidade; tratados como se nenhum crime tivessem cometido. Na verdade, verdadeira legitimação de suas práticas criminosas. O que contribuiu para que boa parte da sociedade se esquecesse de tudo que tinham feito.
E o pior, graça a esta indulgência, deu-se efeito inverso:com imagem positiva na mente de boa parte do povo, ao invés de serem vistos como criminosos capazes de crimes tão monstruosos, de máxima crueldade, hediondos.A ditadura foi derrotada, mas os seus agentes,não.
E as consequências deste fatos não tardariam a se manifestar. Muitos fardados e policiais civis, sentindo-se legitimados por uma lei para reproduzir práticas de sevícias e matanças da ditadura militar, com torturas em delegacias e assassinatos de trabalhadores residentes em favelas, periferias e no campo.
O terror contra gente do povo continuou. Morte para quem luta pela terra, para quem luta para ter o mínimo de meios para viver. Morte de filhos da classe trabalhadora.
Entretanto, os derivados da ditadura fardada não pararam por aí. Todas as forças de direita se uniram para um novo golpe de Estado, após a reeleição de Dilma. Uma exigência dos grupos capitalistas para derrotar um governo que não representava seu projeto, o neoliberalismo, com suas medidas contra o povo e o pais: destruição dos direitos das massas trabalhadoras e privatização de patrimônios públicos, como a Petrobras, Pré-Sal e outros.
O golpe vingou. Aparentemente, apenas obra da direita de toga, liderada por Moro; dos parlamentares; de grupos de ruas financiados por dinheiro de empresário e por fontes outras suspeitas; pela grande mídia, com destaque para a Rede Globo...Contudo, deveras, a direita de farda e seus aliados também, com disfarce, não deixaram de marcar presença no novo golpe. O que ficaria claro, perceptível, na fase posterior do ataque à democracia, em 2018.
A direita militar tem um candidato a presidente, um defensor de todas as ditaduras do nosso continente, admirador de seus ditadores e seus crimes contra o povo e a própria humanidade . Um tipo , inclusive, ligado a milícias criminosas, que também, de forma mais ou menos velada, participaram do movimento golpista dos anos 2015- 16.
Em 2018, só havia um candidato capaz de derrotar o candidato da direita fardada: Lula
Foi aí que os neofascistas militares abriram de uma vez por todas o seu jogo. Quando estava prestes a ser votado no STF o Habeas-Corpus, que poderia livrar o ex-presidente da prisão, um general, de forma destacada, se insurgiu contra qualquer decisão dos ministros e ministras da Corte que não fosse pelo encarceramento do candidato petista. Uma clara ameaça ao STF, à própria Constituição e à enfraquecida democracia.
O Golpe de 2016 chegava, frente a este atentado à ordem democrática, à sua fase crucial, ao seu AI-5.
Os militares elegem o seu candidato, por segurança maior do que pretendiam, também o vice-presidente, um dos seus .
Era a volta deles ao governo, adeptos de uma ditadura de torturas e matança, que a defendem por questão de princípio.
Resultado de um perdão de crimes que outros países da América do Sul não toleraram, como a Argentina e Chile, por exemplo. O que explica por que nestes países não apareceu nenhum Bolsonaro da vida. O que explica por que nestes países militares não voltaram ao governo. Neles, ninguém se esqueceu dos crimes cometidos por seus fardados de direita.
E a ameaça à democracia e ao país persiste. Há dias, na CNN, um general de pijama afirmou ser inaceitável uma " manobra jurídica" para tirar Bolsonaro do governo, dizendo, com isso , não aceitar um impeachment dele, como se pudesse estar acima da Lei. Além disso, o capitão fascista, com certeza, com tantos fardados em seus governo, já demonstra estar disposto a não aceitar o resultado das eleições de 2022, caso não lhe seja favorável.
Desta forma, a questão dada não é apenas derrotar Bolsonaro, mas sim um governo militar de direita, de ideologia neofascista explícita .
Quando se ocultam crimes, o criminoso pode passar a ser visto como santo.
Alberto Souza- Ex-vereador/sbc e militante dos Direitos Humanos.
Comments