Prof. Luiz Eduardo Prates***
Estive no último sábado, 27/4, no lançamento do livro do companheiro Aldo Santos “Lutar é Preciso! A saga de Aldo Josias dos Santos”, escrito por Ana Valim. Foi um momento ímpar e extremamente expressivo de confraternização e testemunhos sobre a vida e a luta de Aldo. Presentes muitos companheiros e companheiras, antigos e novos, deste lutador social. Inclusive se fez referência à polêmica estabelecida pelo artigo do Frei Betto, falando de cabelos brancos. Presentes, como disse Ana Valim, cabelos brancos, cabelos grisalhos, cabelos pintados e cabelos pretos. E carecas, acrescentou Aldo (rsrs). Na roda de conversa, muitos depoimentos.
Mais de uma vez se atribuiu a Aldo as palavras de Bertold Brecht: “Há os que lutam a vida toda. Esses são os imprescindíveis”. Houve também quem disse, pedindo compreensão e desculpas a todos os outros, vários presentes, que Aldo foi o melhor vereador do ABC de todos os tempos. O motivo? Porque ele nunca tomou para si a sua investidura de vereador, mas sempre e em todas as circunstâncias seu mandato, inclusive com os bens inerentes ao mesmo, como o automóvel de vereador, esteve a serviço do povo e do povo mais pobre e sofrido.
Um dos jovens presentes, em seu depoimento, lembrou versos do poeta mato-grossense Manoel de Barros: “O olho vê. A memória revê. A imaginação transvê!”. Aldo ‘transviu’, em sua imaginação e entrega incessante, o horizonte de nossa luta: uma sociedade em que não haja exploração de ser humano sobre ser humano, uma sociedade em que não haja acúmulo indecente e injusto de rendas, riquezas e oportunidades por uma minoria, enquanto a maioria sofre as agruras da miséria e da dor. Parafraseando Martin Luther King Jr, um dos citados então, em que as pessoas sejam reconhecidas pelas suas qualidades humanas intelectuais e morais, não pela cor de sua da pele, ou por sua orientação sexual, acrescentaria eu. Uma sociedade em que não aja, como gosto de citar, nas palavras de Ataualpa Yupanqui, “quien cuspa sangre p’a que otros vivam mejor”. Aldo ‘transviu’, em sua imaginação e empenho incessante, a urgente necessidade de vencermos o capitalismo e instaurarmos uma sociedade socialista, na falta de palavra melhor, de justiça social, justiça de gênero, justiça racial, justiça ecológica.
No final do evento, em uma fala potente e lúcida, Aldo disse, entre outras coisas, talvez não exatamente assim, mas como recebi, entendi e testemunho, “minha luta não é por uma imaginação ou por um sonho etéreo. Minha luta tem sua raiz e sua motivação no sofrimento e na dor. Minha e da minha família, que emigrou para São Paulo quando eu era uma criança pequena em busca de vida melhor. Na dor que acompanhei, testemunhei e contra a qual lutei e luto sempre, das populações mais empobrecidas e sofridas de nossa país. Na dor e sofrimento que ainda hoje vejo campeando nas periferias miseráveis de nossas cidades”. Parece romântico, não é? Mas Aldo foi uma das únicas pessoas que presenciei ultimamente, mais de uma vez, em discurso público, usando a expressão luta de classes.
É esse o horizonte de nossa luta. E é urgente. Sob pena de sucumbirmos todos e todas. Sob pena da extinção do projeto civilizatório humano. Sob pena da mãe natureza varrer da face de sua terra este único animal capaz de matar sem ser por sobrevivência ou para se alimentar.
Cabe um último esclarecimento: esse pequeno texto não quer fazer referência à vinculação político-partidária (aliás, quando é que vamos deixar de nos dividir por opiniões e opções menos importantes e nos unirmos todos e todas pelo único horizonte de nossa luta?) mas à Política maiúscula da convivência humana e digna de toda a humanidade e inclusive com a natureza.
Minha convivência com Aldo é recente e tem sido enriquecedora. Mas deixo o registro do que vi, ouvi e li da vida deste batalhador pela liberdade.
Viva Aldo Santos! Vida longa e longa luta Aldo Santos! “Tamo junto”!
Prof. Luiz Eduardo Prates
Professor Universitário, Sociólogo, Teólogo e Educador.
29/04/20224
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