Bloco de carnaval "Chega Mais Independência" completa 10 anos de ação cultural e social em São Bernardo do Campo SP.
- Aldo Santos

- 16 de set.
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Atualizado: 18 de set.

Sérgio Galvão de Oliveira*** Fundado no dia 15 de setembro de 2015 por um grupo de ativista e defensores da cultura do samba, o Bloco de Carnaval "Chega Independência" completa 10 anos promovendo através da cultura do Carnaval de Rua de São Bernardo do campo.
Com o anúncio de que a proibição dos desfiles de carnaval das escolas de samba na cidade, moradores do Jd. Independência se reuniram para dar continuidade as atividades culturais e sociais do bairro Independência ao dos desfiles da Escolas de Samba em São Bernardo do campo em 2016.

Esta proibição foi imposta pelo prefeito eleito Orlando Morando (PSDB), e diante deste fato, um grupo de moradores composto por Andrea Gotardo, Sérgio Galvão, Aldo dos santos, Claudete Gotardo, Lenice Bezerra, Wanda Simões, Vanda Santana, Thais Teles e Anderson Morgado resolveram criar um Bloco de Carnaval no Bairro Independência, onde foram apresentados vários nomes, mas o nome escolhido foi o Chega Mais Independência por conta do nome do bairro e da semana de comemoração do dia da Independência do Brasil, uma independência inconclusa.

A proposta do bloco foi aceita, para tanto deveria ser realizado com critica social e com ênfase aos problemas dos direitos humanos diante da conjuntura nacional muito desafiadora.
Com a aceitação dos moradores e com muita dificuldade pois o Carnaval de blocos não tem e nunca teve apoio ou verba de nenhum departamento municipal, estadual ou federal.
No decorrer desse período o Bloco Chega Mais Independência realizou e participou ativamente de inúmeras ações e eventos culturais, chegando inclusive a ser homenageado por diversas entidades culturais da região do grande abc,

Reafirmando seu compromisso com os Direitos Humanos e seu compromisso social todos os anos é homenageada pelo Premio Divos e Divas LGBTQIA da ONG ABCDS Ação Brotar pela Cidadania e diversidade pela luta em defesa do Carnaval e sua diversidade, que tem em sua corte LGBT e pessoas portadoras de deficiência.

O Bloco Chega mais bairro Independência também realiza Natal Solidário e Festa do dia das crianças, levando em conta a importância da dignidade humana, o respeito a melhor idade e a defesa do Estatuto da Igualdade Racial e Estatuto da Criança e do Adolescente sendo um dos poucos blocos que realiza baile de matinê gratuito para as crianças.

A preocupação com a segurança alimentar também tem seu espaço e sua luta no nosso bloco, onde realizamos arrecadação de alimentos para as vitimas das enchentes da vila Galileia, nossa presidente Andrea distribui alimentos em forma e marmitas aos que estão em situação de rua e da campanha de arrecadação de alimentos da CUFA são Bernardo, pois acreditamos na força da solidariedade humana e estaremos presente na luta contra a fome.

Reafirmamos nosso compromisso com a cultura do Carnaval e somamos na luta pela volta das Escolas de Samba para a avenida. O Carnaval é uma manifestação cultural brasileira que ecoa através dos tempos, para além de ser a mais importante manifestação cultural brasileira, é o exercício concreto e sensível de vários direitos conquistados e consagrados desafiando fronteiras físicas e sociais, e reivindicando os espaços públicos das periferias para o grande palco da sociedade (avenida do desfile) como arenas democráticas para a expressão de nossa identidade cultural afro coletiva.

A cultura do Carnaval, nas suas diversas facetas, é sim, um processo político de disputa de espaços onde essa condição não aparece apenas nos debates promovidos através da festa, mas também pela possibilidade de desfrutar uma vida livre de censura moralista de qualquer tipo por parte de pessoas de todas as regiões do País, em suas mais distintas realidades.

Nesse sentido precisamos observar que o Carnaval se torna desta forma lúdica uma ferramenta vital e importante na disputa pelos imaginários urbanos, como festa pagã e sincrética, afirma o direito à liberdade religiosa sem ser proselitista, na qual cada batida de tambor que nasceu dentro dos terreiros de povos de matrizes afro onde a falsa liberdade os expulsaram das senzalas para os morros, palafitas, mocambos e favelas, ou seja, “do ruim para o pior “ é onde cada passo de dança se transformam em narrativas de pertencimento e luta por uma cidade mais inclusiva e plural.
Inspirados pelas palavras poéticas de Cecília Meirelles a esse baile ao ar livre, sempre seremos levados a refletir sobre a importância do Carnaval não apenas como uma celebração efêmera, mas como um ato de resistência de um povo e afirmação da nossa identidade cultural e da disputa dos imaginários urbanos.

É um momento total de reflexão da história que será narrada pelo samba enredo que geralmente se deflagra sobre a nossa própria identidade social e a história esquecida e negada para debaixo do tapete da burguesia sobre o tipo de cidade que sonhamos em viver e constituir coletivamente, e nesse caso, observamos as roupas encantadas que vestimos durante a festa narrada pela música não são apenas meras fantasias coloridas, cheias de brilho, mas sim símbolos de uma luta utópica coletiva, onde a diversidade é celebrada e as diferenças são respeitadas, literalmente é onde o negro festeja com o branco e o LGBTQIA é destaque.

Aos ignorantes culturais que defendem a liberdade de expressão como instrumento de um extremismo da direita não tem legitimidade ou estatura moral para condenarem, perseguirem ou assediarem os que se fazem representados em cores, corpos, movimentos, cantos ou ideias vindas dos blocos de rua, desfiles, performances, rodas de samba e tantas outras maneiras de expressar a alegria e a convivência diversa na forma de festa e arte carnavalesca.
Nos versos de Cecília Meirelles, encontramos a imagem poderosa da máscara, do disfarce que nos permite transcender nossas próprias identidades e nos misturarmos anonimamente na multidão. Essa é uma metáfora rica para a experiência do Carnaval, onde os brasilienses se libertam das amarras do cotidiano e se permitem experimentar novas formas de ser e de se relacionar com o mundo ao seu redor, em uma cidade tão desigual.
Para tanto, é preciso resistir às tentativas de cerceamento desta cultura e proibição desses espaços relevantes, celebrando a diversidade e reafirmando o direito de todos, todas e todes à cidade. Que o Carnaval seja sempre uma festa de resistência, de alegria e de democracia cultural.
Sérgio Galvão de Oliveira
Membro do Coletivo Enfrente do PSOL SBC.
Bacharel em Direito e Pedagogo.
Especialista em direitos Humanos e na questão Sócio Racial.
Email: advocacia.sergio@yahoo.com

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