Por:Hugo Allan Matos
Sobre a posição do PSOL de não entrar na "liga democrática" contra Bolsonaro, qual inclui PSL (o partido fundado por Bolsonaro) e outros do centrão e da direita, quais fundaram à ordem atual das coisas...
A posição do PSOl é vista por alguns, inclusive por Marcelo Freixo, como infantil. Penso eu que qualquer partido que se pretenda revolucionário precisa se recusar de compor alianças com os partidos da ordem burguesa, sobretudo, quanto a causa é falsa. Tirar Bolsonaro, nos salvará do neoliberalismo? Parece-me óbvio que não. Pode vir coisa ainda muito pior....
Essa é uma visão no mínimo reducionista que se funda sob uma perspectiva de que a política que aí está é a única forma possível de fazer política. É a política que metade da população, dos que poderiam votar e não votam mais já não dão a mínima, em grande parte por saberem uma política corrompida e corruptora, uma política de uma pequena elite de um país de população pobre, que se elege para representar seu povo e não o faz. Representa apenas os interesses da burguesia, abrindo mãos de qualquer princípio ou valor, pautando-se no possível...Mesmo sabendo que o possível é aquele que já está possibilitado pelos interesses de quem controla esta política: a burguesia.
Se é infantilidade querer e saber que uma outra política é possível, desde baixo, com os de baixo, contra à modernidade, contra o capitalismo, por mundos melhores, que bonito! E que sejamos todas crianças! Só hoje, mais de centenas de povos no Brasil vivem de formas política-econômica não capitalistas, não modernas. Povos indígenas, ribeirinhas, quilombolas...
Sim, a política institucional é importante? Óbvio, mas já está limitada em sua forma e conteúdo. A função de uma esquerda verdadeiramente revolucionária, não é fazer o possível, como fez o PT, porque se esse possível sair um pouquinho do que deseja a burguesia, em dias, não só tiram do poder, como anulam tudo o que fizeram, mostrando quem manda neste jogo. Às esquerdas revolucionárias, cabe estar ali, em resistência, reduzindo impactos, mas usando seus mandatos e toda a força possível ao que realmente importa: a política desde baixo, com os de baixo, fortalecendo, educando e provocando poder popular. Só há revolução com o povo! O resto sim, é conversa.
Os vanguardismos, centralismos, messianismos, iluminismos, daqueles que SABEM o que é melhor para o povo, julgando-no burro, ignorante e assentando-se nos colos da burguesia, confortando-se com os palácios e gabinetes, sujando-se na lama dessa política que é em si, excludente, perversa e genocida, isso sim, é brincar com o povo, mas não como crianças, mas como perversos, apolíticos, que já perderam qualquer esperança e entregam-se às lógicas da morte.
Sejamos crianças!!! Sonhemos com outras possibilidades, outros modelos de Estado, outras formas políticas, quais estamos ainda por construir e que só são possíveis desde a exterioridade, desde aqueles e aquelas que ainda não se corromperam e confortaram com esta cultura que afirma apenas uma possibilidade e exclui todas as outras. O Estado Democrático de Direito burguês, liberal, é apenas uma possibilidade política, econômica, cultural e social. E ele não se desenvolverá naturalmente ao socialismo, como pensou Marx, ele pode piorar muito, de diversas formas, que nem Marx e nem nós sonhamos, como mostra o neoliberalismo.
Que ousemos ser crianças, talvez seja isso que nos permite construir no hoje, novas realidades.
Bolsonaro é só um títere dessa política. Ele não é o maior problema. Se Lula tivesse concordado em ficar no poder, estaria fazendo coisas bem parecidas com ele (como o PT já tinha realizado, implantando políticas neoliberais). O maior inimigo é a cultura burguesa, o capitalismo e o modelo de Estado burgues. Não dá para separar. E precisamos de lutas contra isso, contra o pacote todo. Não haverá revolução que não seja contra o pacote todo. Negar-se à este reducionismo de aceitar esta forma política (cultura e modelo social) é a condição primeira para qualquer revolução possível...
Sejamos como crianças. Esperancemos, construindo no hoje, junto ao povo, desde baixo, à esquerda. E sempre que possível, celebremos, brindemos, festejemos nossas conquistas, pois é na festa, da festa, que vislumbramos uma sociedade onde mais gente possa festejar e menos gente morra.
Professor Hugo Allan Matos - Militante das pastorais sociais e dos Direitos humanos.
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