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A força revolucionária da Alegria e da Esperança


Prof. Chico Gretter*


A vida é alegria e lamento. “Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isto não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita!” (“O que é, o que é” – Gonzaguinha – 1982) Porém, há o absurdo é da morte, todas as mortes! Todavia, se nos afogamos na desesperança e nas tristezas da vida, tudo perderá o sentido e seremos tragados pela areia movediça do ressentimento e da depressão, ou seremos levados pelo vendaval do ódio e da cólera destruidora.

Jesus, na véspera de ser pregado na cruz, reuniu seus discípulos e celebrou a Vida num jantar festivo e pediu para que eles e nós repetíssemos esse gesto em sua memória; e no jantar havia alimentos, pão, vinho, conversa séria e conversa fiada. Os discípulos estavam até eufóricos, pois, como Judas, um zelote, alguns pensavam que Jesus iria libertar Jerusalém da dominação romana. Pedro e vários outros, que eram zelotes, traziam na cintura uma espada e estavam a fim de iniciar uma revolução que certamente seria sangrenta, pois o povo de Israel, vindo de todas as regiões do país, celebravam naquela semana a libertação do Egito, a Páscoa, a passagem do Mar Vermelho e os 40 anos vagando e sofrendo pelo deserto do Sinai.

Narra a Bíblia, o Pentateuco, que o povo de Israel vagou por quarenta anos no deserto, fazendo um trajeto que não duraria mais que um mês indo a pé; mas foram 40 anos de aprendizado, de revolta, fome, tristezas, esperanças e alegrias. Não se chega a nenhum destino sem caminhar, não se alcança nada sem luta. Muitos judeus morreram antes de chegar à "Terra Prometida" por Yahweh, Javé ou Jeová, ou Eloim. Inclusive Moisés foi "castigado" por Deus por ter perdido a esperança de chegar ao destino prometido por Deus, fraquejou na fé e na Promessa; por isso ele apenas pôde olhar de longe no horizonte para a Terra que seria dos filhos de Israel, pois morreu antes de chegar até lá.

Nem é bom lembrar que o exército hebreu, comandado pelo general Josué, derrotou e eliminou pelo fio da espada vários povos que encontraram pelo caminho para só então conquistar a Terra Prometida; e nem escravos faziam, era genocídio mesmo, tudo em nome do "Deus acima de todos", o poderoso Deus de Israel, Javé, "Aquele que é"! O único Deus, o "Senhor dos Exércitos", que deve ser adorado e temido por todos os povos da Terra, segundo outra promessa feita a Abrahão! Deus terrível, poderoso, dominador, que esteve à frente do exército genocida de Josué, que havia derrotado nas águas do Mar Vermelho o mais poderoso exército daquela época, o temido exército do Faraó do Egito. Antes havia sido as "dez pragas do Egito" que arrasou com a então potência mundial e levou à morte seus primogênitos.

Esse é o Deus de Israel descrito e adorado no “Antigo Testamento”; é também o Deus de muitas igrejas ditas evangélicas, pentecostais; igrejas cristãs, como cristã é a Igreja Católica Romana, que também comandou muitas guerras nesses dois mil e vinte dois anos de história depois de Cristo, alcunha atribuída a um certo Jesus de Nazaré, um aparente desajustado que andava pela Galileia pregando coisas impossíveis, chegando até Jerusalém, nas barbas dos líderes religiosos e das autoridades romanas que dominavam a “Terra Santa”. Ele falou em paz, em perdoar os inimigos, em "amar o próximo como ele amou", o que significa dar a própria vida pelo irmão, como Ele mesmo deu o exemplo, morrendo numa cruz, pena de morte aplicada na Roma Antiga.

Porém, conta-se nos Evangelhos (Boa Nova, em grego) que Jesus ressuscitou ao terceiro dia, apareceu à Maria Madalena, aos discípulos de Emaús, depois aos apóstolos trancados no sinédrio, um bando de barbudos, tido como os líderes de uma seita perigosa, mas de fato comandados por algumas mulheres, como Madalena e Maria, mãe de Jesus! Finalmente esse homem Jesus, vindo de Nazaré (e pode vir coisa boa de lá, do Nordeste de Israel?), apareceu a mais de quinhentos discípulos na Galileia e depois elevou-se aos céus, escoltado por anjos ("...dois homens vestidos de branco..." - Atos 1, 10 - 11) que vieram buscá-lo, segundo consta nos Atos dos Apóstolos, capítulo 1°. Por isso Jesus se tornou O Cristo, o Ungido de Deus, que ordenou aos seus discípulos: "Ide por todo o mundo e pregai a Boa Nova do Reino! Em breve voltarei! Para busca-los”.

Todavia, qual é ou seria a tal Boa Nova trazida por Cristo? Aqui começa uma grande confusão que se arrasta pelos séculos da era cristã no Ocidente; como não sou teólogo nem cristão, nem sigo qualquer religião, não entrarei em polêmica teológicas ou exegéticas; o fato é que os seguidores de Jesus, considerado O Cristo por eles, identificado como sendo o Messias prometido ao povo hebreu pelos profetas, se dividiram em centenas ou até mesmo milhares de igrejas e seitas, cada um com versão diferente da Verdade; como escreveu Carlos Drummond de Andrade em sua poesia com o mesmo nome – VERDADE - "Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia".

Como sou agnóstico, não entrarei nessa polêmica milenar! Voltando ao que dizia no início, Jesus de Nazaré, reunido com seus discípulos na "Última Ceia", pegou o pão e o vinho e distribuiu entre eles, e olhando para os céus, disse: "Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância"! "Façam isto em minha memória"! Jesus, como Deus que passou a ser no Cristianismo, não veio trazer a miséria, as doenças, a opressão, a dominação, a fome, as injustiças, a tristeza, o medo e a morte! Ele veio nos ensinar o Amor, a Alegria e quis encher os nossos corações de esperança, que se a gente quiser e se unir é possível ser feliz!

Esta é a mensagem de Jesus Cristo, que penso está clara nos Evangelhos; é isto que representa o Pão e o Vinho repartidos por Jesus na última refeição feita com seus amigos. Fora disso, não há presença do divino na vida humana e esta de desumaniza. A humanidade de Jesus, mesmo que não tenha existido, representa o anseio dos seres humanos por sua essência divina, conforme expressou o filósofo alemão Ludwig Feuerbach em sua obra “A essência do cristianismo” (1841). Se a transcendência do divino não transparecer, desde já, na imanência da História e da materialidade, tudo em que acreditamos será apenas ilusão e mentira, ou alienação segundo Feuerbach, Freud, Nietzsche, Marx, Sartre, entre outros.

Quem prega outra coisa, como esse “deus” acima de todos, terrível, patriarcal, “Senhor dos exércitos”, não entendeu nada da mensagem cristã, portanto, não é cristão de verdade, não entendeu e não segue o mandamento que Jesus pediu, praticou e viveu: o Amor de fato, não restrito a Eros, mas o Amor-caridade-doação-desapego-entrega. Por acaso esse amor existe? Ou é apenas um sonho de uma noite de verão? Um ideal inatingível para os humanos, portanto, uma utopia irrealizável? Por isso teria dito Jesus que o seu Reino não é deste mundo? Esse é o sonho, a esperança e a alegria que move os cristãos!

Os primeiros que receberam o anúncio da Boa Nova, "alegria para todo o povo", não foram os ricos nem os poderosos, que serão derrubados de seus tronos, conforme o hino – Magnificat – proferido por Maria ao receber a notícia, dada pelo Anjo Gabriel, que seria Mãe do Salvador; os primeiros a receber a Notícia que um Menino-Rei havia nascido foram os pastores de Belém: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados" (Lucas 2, 14). Todavia, se esta Alegria e Esperança anunciada aos pastores de Belém já não se fizer presente, desde agora, no meio dos que dizem seguir Jesus, considerado o Cristo, Salvador, que ressuscitou e vive no meio de nós, segundo a Fé, o Cristianismo é apenas um mito, uma farsa, mais uma ilusão que ilustra os pesadelos e embala os sonhos da humanidade.

Eu prefiro ficar com a melhor parte, aquela escolhida por Maria irmã de Marta, amigas do Mestre, e tomar uma taça de um bom vinho com meus amigos. Aqueles que me odeiam como inimigo, que não sou de ninguém, bebam sozinhos a taça do veneno e do fel que vocês próprios destilam! "Eu sei que a Vida devia ser bem melhor e será; mas isto não impede que eu repita, é bonita, é bonita e é bonita!" Não vale a pena maldizer o mundo, dando razão assim àqueles que apostam no ódio, na destruição e na morte! O problema não é morrer, o problema é viver morrendo em vida! Viva a alegria e a esperança! E brindemos enquanto é tempo!


* Chico Gretter mestre em História e Filosofia da Educação, professor de Filosofia e História por 35 anos nas redes pública e privada, ensino médio e superior, filósofo, músico e presidente da APROFFESP.

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