Aldo dos Santos***
Frequentemente nos deparamos com discursos ensimesmados, escritas de ninguém para ninguém e nos debruçados nos enormes muros de lamentações ou de intermináveis reclamações sobre as dificuldades da vida, da ofensiva dos governantes, da gangorra nas disputas eleitorais a cada dois anos e demais conflitos derivados da opressão do capital.
Estas agonias condicionam no conjunto da classe uma agenda sempre pautada no marco da disputa, do campo e do jogo da burguesia, ou seja, a própria disputa eleitoral em que, via de regra, o limite no horizonte de muitos oportunistas ou “discurseiros” levianos é a centralidade do calendário eleitoral.
A classe dominante tem uma agenda definida, tem o campo, a bola, o juiz e previamente o resultado calculado ao seu favor, enquanto que a classe trabalhadora usa seu potencial transgressor sempre em base as pautas e narrativas da burguesia, que via de regra alimenta o fazimento dos dominantes e por vezes, reclamamos dos resultados das eleições e das pautas da própria burguesia institucionalizada historicamente, pois entra ano e sai ano e praticamente as condições de vida pioram para nossa classe.
Sem uma pauta autônoma, sem uma metodologia definida e se sem a radicalidade necessária diante das pautas da classe dominante, aumentam o muros das lamentações, pois via de regra, buscamos solução onde não está a solução, que é a politica de resultado eleitoral que a cada ano aumenta as abstenções pelo efetivo descrédito existente neste balcão de negócio que se transformaram as disputas eleitorais.
Não devemos negar a disputa eleitoral em si, mas naturalizar a pauta eleitoral ou priorizar como critério de transformação da sociedade a partir somente deste círculo vicioso, é um erro histórico diante da urgência, dos anseios e da vida dos empobrecidos pelo sistema capitalista.
Nos grupos das redes sociais, praticamente só se discute e se propagandeia as informações e imagens dos nossos algozes, e muitas vezes, sequer damos atenção às iniciativas e sugestões dos que pensam e praticam nossos legítimos movimentos e lutadores/as sociais.
Ao invés de apenas discutir a pauta dos governos em suas investidas por exemplo no âmbito da educação e o seu mercado promissor para eles, deveríamos denunciar o resultado vergonhoso do que fazem ou praticam no cotidiano, usando, abusando e dilapidando o erário público dos contribuintes, tanto fadigados e sobrecarregados de tanto trabalharem para alimentarem os parasitas do sistema.
Precisamos apresentar uma pauta propositiva para sairmos deste estado de agonia e sofrimento econômico/mental que a grande maioria se encontram nesta encruzilhada histórica do neoliberalismo.
Precisamos reafirmar nossas pautas e trabalhar sobre elas e não sobre as pautas e as propagandas dos nosso inimigos de classe.
Não podemos nutrir qualquer ilusão sobre o capitalismo e sobre as correias de transmissão de sua ideologia através dos livros didáticos ou das plataformizações das instituições governamentais, visto que estamos diante do efetivo antagonismo de classe, pois precisamos transformar nossa pauta em permanente educação classista revolucionária com os recortes e retalhos das nossas vidas, costurando nossa defesa, nos livrando da chuva, da tempestades de horrores e terror, próprio da classe que detém o poder econômico e político ao longo da nossa história.
Ao invés de ficarmos reclamando somente contra as maldades do governo, vamos denunciar o que ocorre com as políticas dos mesmos, dialogando não com eles, mas com os colegas do chão de giz, com os alunos agoniados pela situação econômica de seus pais, visto que que muitas vezes os estudantes são obrigados a interromper os estudos para ajudar nas despesas da casa, abandonados pelo poder público e sem perspectivas de uma vida melhor.
Denunciar a falta de infraestrutura como a construção e cobertura de quadras para os alunos/as, falta de funcionários de limpeza, a desvalorização e falta de professores/as, a falta de medicamento nas unidades básicas de saúde, insegurança no direito de ir e vir, dentre outras, nos coloca na pauta dos nossos, naquilo que nos interessa e coloca os governantes na berlinda.
O capitalismo é sinônimo de eterno sofrimento, miséria, fome, doenças, morte precoce e extermínios pelas guerras a serviço destes impérios execráveis. Precisamos voltar nosso olhar para os nossos farrapos humanos que vagam pelas cidades e campos, dormindo nas ruas e praças, invisibilizados por aqueles de deveriam ser os aliados de classe, pois muitas vezes, enxergamos os prédios ou “shoppings” que pouco tem a nos oferecer mesmo sob intensa propaganda consumista dos patrões e dos governos e muitas vezes, sequer nos solidarizamos com os empobrecidos do sistema.
Em suma, a inversão do comportamento, do olhar humanizante, das manifestações e das revoltas contidas e introjetadas pelos poderosos no cotidiano do nosso povo, é uma movimentação urgente e necessária.
Canalizar e organizar esta revolta, desespero e falta de perspectiva é a base inicial para o enfrentamento permanente no cotidiano.
A busca de uma vida nova, requer uma nova leitura e posicionamento diante do mundo, bem como exige urgentemente uma nova dimensão revolucionária.
É preciso romper com o conformismo ideológico que domina a vida do nosso povo em proveito dos inimigos da nossa classe. Questionar tudo, inclusive o papel de dominação do uso ideológico das religiões para manter ou transferir para outro mundo de forma compensativa todo grau de sofrimento que nos deparamos na sociedade capitalista do hoje, é uma lição insofismável. Transformar a si mesmo na interatividade com o coletivo humano é a única saída para uma educação militante e libertadora.
A Educação revolucionária é a grande premissa da existência dos empobrecidos. É a causa fundamental para transformar o mundo materialmente sem compensações ou transferências para os/as outros/as.
Portanto, para derrubar o modo de produção capitalista, é urgente a organização de um potente partido internacional da classe trabalhadora em base programática, sendo indispensável uma leitura precisa da classe, a coragem, a consciência de classe e a radicalidade que transforma coletivamente a vida e escreve sempre uma nova história numa perspectiva transformadora.
Mesmo parcialmente desfigurado pelo uso oportunista de espertalhões que se denominam como “socialistas”, o socialismo científico é a base para alcançarmos o comunismo científico e a evolução necessária para a justiça da maioria, a liberdade sem condicionantes e a igualdade econômica rumo a plena solidariedade e tecedura da felicidade humana.
Aldo dos Santos - Formado em Estudos Sociais, Filosofia, Bacharel em Teologia, Especialização em Filosofia da Educação, Sociologia do mundo do trabalho, Mestre em História e Cultura e Psicanalista. Diretor de relações sindicais da APROFFESP, vice-presidente da APROFFIB e Diretor Estadual da APEOESP.
08/04/2024.
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