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Vamos a luta e não apenas decorar a história escrita pelos vencedores!

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Aldo dos Santos***


Companheiras e companheiros,

boa tarde a quem veio pra luta — e não para decorar a história escrita pelos vencedores!


Hoje nós vamos falar daquilo que muita gente tenta esconder: a verdade crua, dura, sangrenta sobre como este país foi construído.

E mais que isso: vamos falar sobre como vamos destruir as estruturas que ainda hoje tentam manter o povo negro de joelhos.


Porque a atual história do Brasil não começa com “descobrimento”.

Começa com invasão, com espoliação, com pilhagem — e com o maior crime contra a humanidade cometido em massa: a colonização e a escravidão.


Em 1415, Portugal toma Ceuta e inaugura a rota que vai alimentar o comércio triangular.

Em 1444, Dom Henrique preside o primeiro leilão africano oficial de gente escravizada.

Ali nasce o que depois se tornaria o Brasil: um projeto de morte, planejado, lucrativo, racista e europeu.


Em 1492, Colombo invade as Américas;

em 1500, Cabral invade o Brasil.

E aqui já viviam milhões de indígenas — milhões! — que foram tratados como obstáculos, como mercadoria, como alvo.


Depois chegam os primeiros africanos sequestrados.

E o que acontece?

O Brasil se torna o maior cemitério de africanos das Américas:

5 milhões desembarcados, 13 milhões traficados, 8 milhões de indígenas escravizados e a grande maioria exterminados.


E ainda tem gente que chama isso de “civilização”.

Nós chamamos pelo nome correto:

necropolítica europeia.

Um projeto consciente de destruir povos inteiros para enriquecer impérios.


Mas, companheiros — e isso é o que eles não suportam! — nós resistimos.


Não fomos apenas vítimas.

Fomos rebeldes.

Fomos guerreiros.

Fomos quilombolas.


A partir de 1590, ergue-se a maior guerra pela liberdade deste continente: o Quilombo dos Palmares.

E quando assassinaram Zumbi, em 20 de novembro de 1695, acharam que matariam a luta.

Erraram.

Zumbi vira bandeira. Vira rua. Vira feriado. Vira consciência.


E hoje existem mais de 8 mil comunidades quilombolas vivas, pulsando resistência neste país que nunca nos deu paz.


Mas o Estado brasileiro não parou de organizar o racismo.

Em 1850, cria a Lei de Terras, uma armadilha institucional para impedir negros e pobres de terem onde viver.

E em 1888, vem a maior farsa da história: a Abolição sem terra, sem escola, sem salário, sem reparação.

Uma “libertação” que largou o povo negro na miséria, nos cortiços, nas margens — e depois acusou de favelados e “preguiçosos.


Pois eu digo: a escravidão não acabou; ela mudou de forma.

Ela está na polícia que mata, no salário que não chega, na favela sem saneamento, no encarceramento em massa, no desemprego seletivo.


E no ABC, a história também foi sequestrada.

Tentaram vender a mentira de que esta região foi construída só por imigrantes europeus.

Mas os dados mostram: menos da metade da população era branca.

Quem construiu São Bernardo foi o povo negro.

São Bernardo é quilombo. E sempre foi.


E quando nós denunciamos a farsa do 13 de Maio, quando denunciamos o racismo da direita local, quando enfrentamos setores da imprensa que queriam calar nossa voz — eles tentaram nos destruir.

Mas nós vencemos.

Hoje o 20 de Novembro é feriado, é bandeira, é luta.


E agora, companheiros, vamos ao ponto principal:

quais são nossas tarefas históricas?


Primeiro:

defender a vida do povo negro, atacada todos os dias por doenças produzidas pela desigualdade — hipertensão, anemia falciforme, saúde negada.


Segundo:

Reparação já!

Não existe justiça sem reparação.

As prefeituras devem pagar pela escravidão que existiu aqui.

Devem identificar os descendentes.

Devem devolver a terra.

Devem indenizar.

Não é esmola. É dívida histórica.


Terceiro:

Criar o Museu da História e Luta do Povo Negro do ABC, para impedir que a casa-grande apague nossa memória.


Quarto:

Fortalecer o Quilombo da Jurubatuba, último quilombo vivo da região, e transformá-lo em centro de filosofia e história africana.


E quinto — e mais importante:

politizar o movimento negro.

Racismo não se combate só com discurso.

Racismo é estrutura de classe.

É projeto do capitalismo.

E para derrotar o racismo, temos que derrotar o sistema que o alimenta.


O capitalismo é a morte organizada.

Nós defendemos a vida organizada:

um socialismo igualitário, antirracista, popular, revolucionário.


Companheiras e companheiros,

nós somos a continuidade de Palmares.

Nós somos herdeiros de Zumbi, de Dandara, de João Candido, de Carolina de Jesus.

E a nosso projeto de luta é o mesmo deles:


Lutar, Resistir e Vencer!


Aulão na subsede da apeoesp/sbc, numa atividade do Psol

15/11/2025



Aldo dos Santos - Ex-vereador em SBCampo, Ativista da Filosofia Africana, Diretor Estadual da Apeoesp e militante do Psol.

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@ 2020 ABC DA LUTA 

OS TEXTOS PUBLICADOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES

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