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Essa não é a sua história!


Anne Cauduro***



Em algum lugar do Pantanal morava Maria Bruaca e Tenório, dessa união nasceu a única filha do casal, cuja graça é Maria Augusta.

Maria para casar com Tenório pulou a janela, não realizando o sonho de sua mãe que era vê-la casar de vestido véu e grinalda. Eles casaram aos olhos da lei, como ela mesmo disse, ou era isso ou o pai dela cortava os "documentos" do Tenório.

Maria, uma mulher simples, devotada, pronta para servir o marido, passava seus dias lavando, passando e cozinhando. Tenório, um homem misterioso, dono de muitas terras, fazia várias viagens dizendo que era a negócio. Eles moravam na fazenda. Maria fazia a manteiga, o queijo, a maioria dos alimentos, como dizem os mais antigos, era uma mulher prendada. Os anos foram se passando, a filha do casal cresceu e foi estudar em São Paulo, na fazenda ficou Maria com sua devoção.

Bruaca era apelido que o marido mesmo deu, dizendo ser uma forma de carinho. Maria era perdidamente apaixonada por seu marido. Todas as noites colocava a camisola e soltava os cabelos em busca de carinho, seu marido estava sempre cansado... E quando ela reclamava, ele dizia que mulher de respeito não procurava o marido. Mesmo assim, para Maria ela tinha a vida perfeita.

Até que um belo dia, descobriu que seu amado, tinha outra família na cidade São Paulo e três filhos fruto dessa traição. Ela resolveu que, daquele dia em diante, ela não iria mais ser Bruaca, ela mudou o visual, deixou os afazeres da casa. Resolveu conhecer a fazenda que morava, por incrível que pareça em todos esses anos de casada ela nunca tinha andado a cavalo, muito menos um passeio de barco. Seu primeiro passeio foi revigorante, ela ficou maravilhada e percebeu que existia a vida fora da casa. Ela não tinha amigas, não tinha família por perto, não tinha telefone na fazenda, não tinha televisão, não tinha livros, não tinha revistas, ela não tinha acesso a nada. O mundo dela era servir o seu marido. Até então, tudo bem! O problema foi descobrir a traição. Que deixou Maria perdida.

E agora? Qual seria seu destino, uma mulher ferida e magoada. Movida pelo rancor quis dar o troco em seu marido. E acaba se sentindo pior do que estava. Nesse caso traição é um desvio no caráter. Que não era o seu caso. Ela é apenas uma mulher ferida e magoada, que perdeu sua identidade, passou anos sendo desvaloriza, sofrendo violência doméstica.


É Sempre bom lembrar que violência doméstica não é somente a violência física.

Qualquer forma de violência contra mulher é crime.

A data marca a sanção da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, que instituiu instrumentos jurídicos a fim de garantir proteção para as mulheres brasileiras vítimas de violência doméstica.

Vale ressaltar que:

estão previstos cinco tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher na Lei Maria da Penha: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial − Capítulo II, art. 7º, incisos I, II, III, IV e V.

Recuperar sua autoestima, sua autoconfiança é necessário para poder se libertar e voar.

Mas, não se preocupe, essa não é a sua história.

Como diz um antigo dito popular em briga de marido e mulher não se mete a colher!

Só que não!

Anne Cauduro - Professora de Filosofia da rede Estadual SP

Especialista em Filosofia Clínica.

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