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VIVENDO E APRENDENDO

Atualizado: 11 de ago.


Em memória a Josias Raimundo dos Santos***

Sempre tive curiosidade pela história de uma forma geral e em particular sempre tentei montar a árvore genealógica de minha família. Nessa tentativa, sempre me deparei com a falta de dados e fontes documentais, pois uma família de origem pobre pouco guarda sobre o passado e a reconstituição da mesma é bastante fragmentada.

Foi á partir do conhecimento da História Oral que tive motivação para dar o 1º passo. Procurei conversar, gravar, transcrever, transcriar  á partir da motivação familiar. Fiquei pensando sobre o significado da minha história, meus antepassados, suas vidas, suas alegrias e tristezas. Pensei que toda dificuldade se põe por falta de iniciativa e se eu nada escrever, os que virão depois terão ainda maior dificuldade em construir e reconstruir nossa história. Outro elemento que considerei foi sobre o significado e a importância de escrever História dos empobrecidos. Histórias que do ponto de vista da classe dominante pouco significa, pois fomos educados a pensar que o pobre não faz nem constrói, nem participa o processo histórico. Tomei coragem e convicção de que tudo na vida tem um significado e importância, da mesma forma que a história precisa ser vivida e passada de geração em geração para servir de referência, de reflexão, ação e identificação para nosso povo cuja história é relegada ao esquecimento pelos meios de produção e comunicação dos detentores do poder.

É de fundamental importância escrever, registrar, por mais insignificante que possa parecer, pois nossa identidade esta firmada no reconhecimento de nossa trajetória. Escolhi a história de meus pais como contribuição presente para que na posteridade tenhamos menos dificuldade que tive, uma vez que a história oral sem registro se perde no tempo e cai no esquecimento. Faça você também sua parte. Comece a escrever e documentar a digna historia dos pobres, num ato revolucionário rumo a afirmação histórica de seres que contribuíram e contribuem no presente e no futuro da evolução classe trabalhadora e da humanidade.

 Um abraço a todos/as.

 

PROF. ALDO JOSIAS DOS SANTOS

   

HISTÓRIA DE JOSIAS RAIMUNDO DOS SANTOS


"Josias Raimundo dos Santos nasceu no dia 25 de maio de 1925 na Comarca de Missão Velha,  Ceará. È filho de Maria Inês de Jesus Filha e Raimundo Pereira dos Santos. Seus avós maternos são Raimundo Martins dos Santos e Maria Inês da Conceição, falecidos. Sua avó paterna era dona Bárbara. A Bisavó materna chamava-se Josefa Maria de Jesus, sendo que Josias não a conheceu. Todos nasceram na comarca de Missão Velha, Ceará.  Josias teve vários irmãos, sendo eles:  José Raimundo dos Santos, Assis,  Luzia Maria de Jesus, Naíde Maria de Jesus, Antônio Raimundo dos Santos, Maria Inês Santos, Zeca, Mariquinha e Neco. Todos os irmãos nasceram em Brejo Santos – Ce. A maioria não possuíam registro de nascimento, tendo apenas o batistério. A mãe de Josias, Maria Inês de Jesus Filha, faleceu em 1930 por consequência das sequelas do parto de Antônio Raimundo. Seu pai, Raimundo Pereira dos Santos faleceu em 1931 com mais ou menos 42 anos de idade. Era gordo, parecido com o neto Cleonaldo, trabalhava como distribuidor de bebidas e tinha uma propriedade de mais ou menos 20 tarefas de terra, batizada de Sítio Pau-Branco, situada no  município de Brejo Santo. O Sítio produzia milho, feijão de corda, mandioca, algodão e arroz. Após a morte de seu pai, o irmão mais velho, José Raimundo,  foi para o Maranhão. Aos 16 anos de idade, Josias vem para o estado de São Paulo. Viaja pelo rio São Francisco de vapor e pela estrada de ferro de Pirapora, chegando á São Paulo após 15 dias de viagem. Josias não tinha idade para viajar, veio fugido. No Estado de São Paulo trabalhou de boia-fria na fazenda Monte Alvão, Presidente Prudente. Trabalhou de diarista (recebia por dia de trabalho) plantando e colhendo algodão, milho, feijão. Trabalhava muito e não ganhava quase nada.  Em 1944,  voltou para Brejo Santo, Ceará. Casou-se na igreja com Maria Bevenuta de Jesus. O primeiro filho do casal nasceu e nos primeiros dias de vida veio a óbito. Nasceram depois, Raimundo Josias dos Santos, Francisco Josias dos Santos, um outro irmão que viveu por volta de um mês de vida também faleceu. Nasceu Erivaldo Josias dos Santos, Aldo Josias dos Santos, Tânia Maria dos Santos, Cleonaldo dos Santos, Francisco Raimundo dos Santos e Alda Maria dos Santos. Na época de seu casamento, trabalhava na lavoura e no boteco “bodega seca”. Nos anos de 1952 e 1953 a seca acabou com a lavoura. Josias e a família, não vendo outra saída, migram para São Paulo. Viajaram 18 dias de Pau-de-Arara. Em São Paulo, foram morar na fazenda Santa Amália, Rancharia. Josias trabalhava como boia-fria. Em 1958, foi trabalhar como cortador de lenha em Porto Alvorada, no Paraná , com o Seu Zé, um cearense cuja passagem de volta nós pagamos. Foram morar depois na fazenda Palmeira, Murutinga do Sul. Trabalhou com o arrendatário Arlindo e depois com o Sr. Horácio Miranda. Esta região era conhecida como ‘terra de cascavel”.   Depois foram para Mesópolis trabalhar na lavoura também como arrendatário. Nesta época, Josias comprou um sítio de dois alqueires localizado na fazenda São João. Depois adquiriu mais dois alqueires da terra vizinha á sua.  Em 1966, depois do fracasso da lavoura, a família de Josias migra para São Paulo. Foram morar no Bairro Independência, São Bernardo do Campo e depois em Diadema. Estudou na época em que a palmatória era usada como castigo nas escolas.  Na Grande São Paulo,  trabalhou de ajudante geral na Mercedes e na Panex. Josias adquiriu doenças ligadas á pressão arterial e precisou ser aposentado. Sua aposentadoria foi feita pelo Dr. Aron. Morou muitos anos em Diadema e atualmente mora com os filhos". Que orgulho do nosso Pai e da nossa família que não mediram esforços para superar o estado de sofrimento e pobreza a que fomos submetidos na infância e, com dignidade, vencemos grandes batalhas com fé na vida e consciência histórica e politica.

Bastante debilitado doente, foi morar em Hortolândia onde veio a falecer em  09 de maio de 2010, deixando a família constituída e relativamente posicionadas na vida.


HISTÓRIA ORAL EM 07/02/99


Aldo dos Santos - Ex-vereador em sbcampo. Professor de Filosofia, Psicanalista e Escritor.

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