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Uma quartelada institucional dos caranguejos?


Dentre as várias sugestões de leituras e livros que tenho recebido, acabei de ler o livro de Carlos Heitor Cony - O ato e o fato (O som e a fúria do que se viu no golpe de 1964, uma publicação da Editora Nova Fronteira, 2014)

São dezenas de crônicas escritas à época aos jornais, que retratam fielmente o significado daquele movimento. É uma leitura necessária para compreendermos o que significou a usurpação do poder, os bastidores da ditadura e o que representou, naquele momento, a intervenção dos militares, que frequentemente recorrem às práticas golpistas para se lambuzarem inconstitucionalmente com o poder.

Dentre as inúmeras crônicas, destaco uma publicada no dia 14/04/1964, intitulada “REVOLUÇÃO DOS CARANGUEJOS”.

Ele caracteriza que, por insistência dos militares, os mesmos afirmavam que se tratava de uma revolução e Cony completa: “é uma Revolução, sim, mas de caranguejos. Uma revolução que anda para trás”(página 36)

Avançando nas criticas contundentes à dita "revolução", o autor ainda caracteriza o movimento como “Um patriotismo estéril, que não leva a nada, que não constrói nada: lembro a patriotada do marechal Osvino mandando que os postos de gasolina hasteassem a bandeira nacional. É quase uma anedota, mas é típico da espécie de patriotismo que rege nossas Forças Armadas”, conclui Cony.(pagina 37)

O tom das crônicas são virulentas, afirmando que “ a ordem que os militares desejam é uma ordem calhorda, feita de regulamentos disciplinares do exercito, de estagnação moral e material”.

Além de criticas pontuais ao governo João Goulart, Cony mais uma vez afirma: ”Sem medo, e com coerência, continuo afirmando : isso não é uma revolução. É uma quartelada continuada, sem nenhum pudor, sem sequer os disfarces legalistas que outrora mascaravam os pronunciamentos militares. É o tacão. É a espora. A força Bruta. O coice.”(pagina 38)

Vai finalizar a crônica dizendo que “os caranguejos continuem andando para trás. Nós andaremos para frente, apesar dos descaminhos e das ameaças”. (pagina 38)

Na verdade, todo livro é instigante, apesar de conhecermos a figura do Cony ao longo de sua existência e de seus compromissos históricos. Estou me referindo a um momento histórico e neste particular, vale a pena a leitura do inteiro teor deste livro.

Mas a leitura desta crônica é muito significativa, comparando, com as devidas proporções e diferenças com o atual governo, que praticamente deu uma quartelada institucional via executivo, colocando milhares de militares em postos chave de comando, observando uma semelhança com as categorias empregadas pelo autor, dado que esta “quartelada institucional” representam, a grosso modo, uma prática dos caranguejos, que estão andando para trás, tendo por base os piores argumentos e os maiores compromissos patronais e de dilapidação do poder público, privatizando e desconstituindo a máquina administrativa e os parcos direitos conquistados. Esses são na prática os parasitas do poder, haja vista o papel nefasto à frente do Ministério da Saúde, no qual os cargos técnicos foram totalmente ocupados por militares sem noções básicas na área da saúde, como o próprio Pazuello, contrariando toda a farsa de campanha quanto à ministérios "técnicos", deixando o país em uma situação na qual dezenas de países já estão vacinando seu povo e aqui "tudo continua como dantes no quartel de Abrantes.”

Afinal, o que esperar politicamente de uma gestão militar? E quem ganha com o prolongamento da pandemia?


Aldo Santos - militante do movimento sindical , popular e do Psol.

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