
Prof. Chico Gretter*
Quando me falam em “stress térmico”, lembro da minha infância e adolescência quando trabalhava na roça (colheita de café, amendoim...) no Oeste do Paraná (Cianorte, Alto Piquiri, PR), anos 60/70, debaixo de um sol escaldante que torra as tardes por lá. Comecei a trabalhar com apenas sete anos de idade; estudava pela manhã e ia para o cafezal à tarde! Não era fácil! Era extenuante e geralmente ficava esgotado, com aquele calor terrível e com as tempestades que vinham durante a tarde, com raios e trovões. E nós – pais, irmãos, primos, vizinhos, contratados – não sabíamos o perigo que corríamos quando buscávamos proteção sobre árvores, choupanas e tulhas de pau a pique.
A maioria dos meus colegas e amigos/as estudava só até o 4° ano primário. Então os pais deles diziam: "Já estudou demais, vá aprender agora no cabo da enxada!" E eles deixavam a escola; naquela época poucos estudavam e a grande maioria não passava da 4ª. Série do ensino “Primário”, hoje a 4ª. Série do ensino fundamental. Graças aos meus tios/padrinhos que me criaram, eles não me tiraram da escola, pois davam valor ao estudo; me incentivavam, vendo que eu “tinha jeito para os estudos” era estudioso e tirava notas altas. Lembro-me de minha primeira prova e do 9,5 que tirei, enquanto a maioria dos meus colegas e vizinhos não passaram de um 6,0; era a glória!
E agora vêm esses burgueses que nunca trabalharam na vida dizerem que o trabalho infantil é salutar e educativo. Sim, desde que não seja na roça ou em serviços pesados, compulsórios e a troco de uns trocados pra não morrer de fome. Vocês não sabem o que é acordar às 4:00 h, ir pra roça, trabalhar das 06:00 h da manhã até às 18 h da tarde como "boia fria", sob um sol de mais de 35° graus! Eu trabalhei assim também! Era cansativo, duro, sofrido. Mas não tenho vergonha disso, tenho é orgulho de ter trabalhado, resistido e superado a escravidão a que muitos brasileiros ainda estão submetidos, inclusive crianças.
E vem o Zezé Di Camargo dizer, num programa de domingo, horário nobre, que isso é bom para as crianças!? O mesmo Zezé (ou foi o Luciano?), que num banquete com o Bozo (eleição presidencial), na companhia de várias duplas “sertanojas”, debochou dos trabalhadores pobres que votam no Lula. A exploração do trabalho infantil não é educativa, não é legal e é crime, saibam disso! Está no E.C.A. que as elites dominantes detestam e querem alterar para poderem continuar explorando mão de obra barata, inclusive de crianças. Bandidos!
Bem, pessoal, vamos evitar o "stress térmico" neste carnaval; mas o pior "stress" é aquele que frita os miolos de uma classe média “coxinha” e das elites tacanhas, insensíveis, cruéis que ainda dominam o campo no Brasil. O agro não é tech, o Agro é truculento, estúpido e burro.
Bom carnaval, pois a alegria de viver não tem preço!
São Paulo, 02/03/2025.
*Prof. Chico Gretter é caipira, professor, mestre em Filosofia e História da Educação, vice-presidente da APROFFESP e filósofo da Lapa! 🙌🦉🌻
Comments