Salário Já! Não à Bonificação Excludente
- Aldo Santos

- 20 de ago.
- 3 min de leitura

Sérgio Linhares Hora***
São Bernardo do Campo sempre teve um papel de vanguarda quando o assunto era educação. Ao longo de sua história, a cidade se destacou por diversas iniciativas inovadoras e pelo esforço em construir uma educação pública de qualidade, refletindo o dinamismo de uma cidade em constante evolução. No entanto, o cenário atual revela um triste contraste com o passado de muita luta na defesa da educação pública laica e de qualidade.
Hoje, São Bernardo do Campo vive uma realidade onde a educação, apesar de ser um pilar essencial para o desenvolvimento social e humano, está à margem das prioridades da atual administração. A ausência de um projeto claro e definido para a educação tem se refletido diretamente na qualidade do ensino oferecido. Políticas públicas robustas e humanizadas são urgentes, mas a atual gestão parece tratar a educação como um tema secundário, enquanto outras áreas recebem maior atenção, deixando de lado o que mais importa: a formação das nossas crianças e adolescentes.
O que se observa nas escolas é a crescente pressão sobre todos os profissionais da educação. Professores, coordenadores, diretores, auxiliares, merendeiras e tantos outros que desempenham papéis fundamentais no cotidiano escolar, mas enfrentam salários achatados e condições de trabalho precárias. A valorização dessas profissões, essenciais para o bom funcionamento das escolas e para a formação dos estudantes, tem sido negligenciada. Esses profissionais, que se dedicam incansavelmente para criar um ambiente seguro e acolhedor, não têm o reconhecimento devido, o que impacta diretamente a qualidade da educação oferecida.
Além disso, a infraestrutura das escolas continua precária. Muitos alunos estão sendo atendidos em ambientes inadequados para o aprendizado, e as políticas públicas necessárias para uma formação sólida e cidadã estão ausentes. O recente projeto de bonificação, por exemplo, ao invés de promover uma verdadeira valorização de todos os profissionais da educação, acaba por ser excludente e descontextualizado, não levando em consideração o histórico educacional da cidade e as reais necessidades das escolas. As avaliações realizadas para a bonificação foram extremamente mal planejadas, o que resultou em sérios problemas em muitas escolas. O uso de voluntários sem o devido preparo técnico ocasionou diversos imprevistos e falhas no processo. Além disso, não foi levado em consideração o calendário escolar, especialmente no período em que se preparavam os conselhos de escola na rede. Isso gerou uma tremenda desorganização, prejudicando o andamento das atividades educacionais e comprometendo o objetivo inicial da avaliação. Em vez de contribuir para o fortalecimento da educação, o projeto apenas aumenta a pressão sobre os educadores e demais profissionais, sem reconhecer o trabalho árduo e os desafios diários enfrentados por todos aqueles que fazem a educação acontecer.
Outro ponto alarmante é o crescente adoecimento dos profissionais da educação. As estatísticas mostram um nível de adoecimento que só aumenta, reflexo das condições precárias de trabalho, da sobrecarga de atividades e da falta de apoio emocional e psicológico. Esse quadro de adoecimento não só compromete a saúde dos profissionais, mas também afeta a qualidade do ensino e o bem-estar dos alunos, pois a ausência e o desgaste desses educadores têm um impacto direto no ambiente escolar.
A grande questão é que os profissionais da educação não precisam de bonificações excludentes ou descontextualizadas. O que eles necessitam, com urgência, é de um salário digno que reflita a importância e a responsabilidade de sua profissão. A valorização verdadeira passa pela melhoria das condições salariais e de trabalho, e não por programas que, ao invés de fortalecer a educação, acabam por gerar ainda mais divisões e desorganização no ambiente escolar.
Como afirmou Paulo Freire, "Se a educação sozinha não muda a sociedade, sem ela, tão pouco a sociedade muda". A educação de qualidade não se constrói com números e metas isoladas, mas com políticas que considerem as realidades das escolas, que reconheçam e valorizem todos os profissionais da educação, e que priorizem o bem-estar e o desenvolvimento integral das nossas crianças e adolescentes.
É fundamental que a educação volte a ser uma prioridade nas decisões administrativas. Somente com políticas públicas claras, consistentes e humanizadas, que valorizem todos os profissionais da educação e promovam condições adequadas para o aprendizado, poderemos garantir que São Bernardo do Campo retome seu papel de referência na formação de cidadãos críticos, criativos e preparados para os desafios do século XXI.
Sérgio Linhares Hora
Professor e Presidente do Instituto Vida de Direitos Civis e Ecológicos



Comentários