Odilon Nogueira***
Rumo à Estação Catanduva, nos apresentam a saga da família Santos, essa jornada tem início no Estado do Ceará, precisamente na cidade de Brejo Santo na década de 50, na tríplice fronteira da Paraíba, Pernambuco e Ceará, exatamente no cariri cearense; vamos em algumas linhas, apresentar a região em que nasceu professor Aldo Santos.
No século 19 o cariri (região que se localiza em três estados) já era palco de muitos acontecimentos no âmbito do messianismo, coronelismo, jagunços e cangaceiros. Desde os primórdios a região já apresentava uma serie de conflitos, conflitos esses que iram se agravar em 1887, com o advento da grande seca, em meio ao flagelo, retirantes aos milhares caminhavam por estradas, vilas e cidades, a procura de saciar a fome, morria todos os dias dezenas de famintos, muitos praticavam roubos e saques em fazendas e armazém das cidades, alguns não tinham forças até pra mendigar, as vezes antes de conseguir consumir as esmolas, caiam agonizantes em seu derradeiro transe.
Em 1915 outra grande seca levou o governo federal a construir currais humanos no Ceará, que na verdade eram campos de concentração, estes locais não tinham estrutura, a higiene não existia, a comida era ruim e nem sempre tinha, morreu milhares de pessoas nestes currais por desnutrição e doenças diversas, todos enterrados em valas comuns. Na verdade, o objetivo desses curais eram conter a massa de miseráveis, que se dirigiam a capital Fortaleza e outros estados. Estes genocídios nos campos de concentração tupiniquins, são páginas que os governos tentam fazer cair no esquecimento, todos os documentos que registram essas ocorrências estão ocultos, a justiça do Ceará manobra de todas as formas para manter esse episódio triste da nossa história no esquecimento.
O messianismo agitou a vida do povo das catingas, agora eram os beatos e outros religiosos exemplo do Padre Cicero, Canudos do grande Antônio Conselheiro, Pau de colher e o Sebastianismo da Pedra do Rei, todos dizimados de forma violenta por forças do estado.
Diante dessa calamidade, vamos encontrar a cidade de Brejo Santo, encravada no meio desse cenário desolador, neste ambiente vai sendo forjado a figura do famoso cangaceiro Calangro, que se refugiava em uma montanha hoje conhecida por Pedra do Cangaceiro Calangro, no município de Brejo Santo, diante do caos e da seca de 1877, do mandonismo, do banditismo e etc. O Cangaceiro Calangro passou a atuar fazendo a sua lei, defendendo as propriedades do ataque de salteadores (flagelados da seca), garantindo a ordem nas feiras, chegando ao ponto de autoridades requisitar os serviços do cangaceiro para manter a ordem.
Em 1950 em Brejo Santo, na estação da vida, embarcou a numerosa família Santos levando uma criança de quatro meses, no percurso várias estações, inclusive Rancharia, onde alguns desembarcam, a criança agora um jovem adolescente segue sua viagem, passando na turbulenta estação Catanduva, até chegar à estação São Bernardo, o trem para e abre as portas, saindo um moço carregando na bagagem, uma mochila militante, uma mala humanista, um casaco ativista, um chapéu filosófico, filho, pai, avô... O menino de Brejo Santo nos presenteou o professor Aldo Santos!
Odilon Nogueira
Presidente da ONG Grupo Vida
Professor de história e militante do PSOL
Que texto importante! A História como ela foi escrita e deveria ser ensinada nas escolas. Prof Aldo é um digno representante desta História, construída com sofrimento e dor. Trouxe-me à lembrança o cactos, justa simbologia destes sertões, que para enfrentar as adversidades impostas pela natureza de um sertão tão árido, retira da sua própria força interna os nutrientes para sobrevivência. E humildemente,nos devolve flor de enorme beleza. Assim é a sua incansável luta!