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Protagonismo estudantil ou protagonismo regulado?


Por:Alessandra Fahl Cordeiro Gurgel.



Protagonismo estudantil sempre existiu. Talvez não com esse nome. E talvez sem tanta regulamentação. Ou tutela? Uma rápida lembrança da História do nosso país resolve isso sem mais delongas.

Protagonismo estudantil aconteceu em São Paulo em 1932, quando, dentre manifestantes de rua, havia um menino de 14 anos chamado Dráusio de Souza que foi morto a tiros por soldados. Ele não estava sozinho. Estava acompanhado por outros estudantes que não aceitavam o então presidente da República, Getúlio Vargas, governando sem uma Constituição.

Protagonismo estudantil aconteceu em 1937 foi criada a União Nacional dos Estudantes, que não teve medo de afrontar um grupo nazista no Rio de Janeiro em plena Segunda Guerra Mundial.

Protagonismo estudantil aconteceu entre os anos da ditadura civil-militar, nos anos 60 e 70, quando estudantes se organizavam para realizar encontros clandestinos correndo um risco enorme de repressão.

Protagonismo juvenil aconteceu na campanha pelas Diretas Já (1984) e no Fora Collor (1992). Estamos chegando pertinho da época atual, aviso para quem possa pensar que é texto de museu.


“(...) Mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem (...)”

(Belchior)


E vem mesmo. Em 2015, o governo estadual paulista pensou que seria moleza fechar um número de escolas até hoje não exatamente definido, mas anunciado na casa das centenas. Ah, vale contar que uma série de dados da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo é guardado a sete chaves, sabia disso? Até professores universitários, doutores, com pesquisas acadêmicas em curso, tem relevante dificuldade para acessar uma série de informações de interesse público, sustentadas pelo dinheiro público e muitas vezes “ficam no vácuo”, simplesmente. Para que tanto mistério?

Voltando. Quando este anúncio chegou até as Diretorias de Ensino, e os nomes das escolas foram sendo pouco a pouco divulgados, ah, não teve erro. O protagonismo juvenil aflorou da forma mais linda possível. “O quê, vão fechar a minha escola? Ah, para!”.

Daí para adiante foram explodindo ocupações estudantis em escolas Estado afora. Algumas resistiram meses. Alguém pode abrir- a vontade- a boca para falar “Ah, os sindicatos e partidos políticos influenciaram os inocentes estudantes”.

Bom, aí temos dois pontos. Primeiro que se partidos e sindicatos tivessem tamanha influência, já teriam tomado as rédeas da escola pública faz tempo, né? Só pensar um pouco. Segundo; esse discurso sim desqualifica o protagonismo estudantil, como se todos fossem ocos do couro cabeludo para dentro, acéfalos, marionetes, massa de manobra, sem capacidade alguma de escolher os próprios rumos da sua vida. Passaram fome, frio, foram atacados por invasores governamentais-impedindo o seu protagonismo mais legítimo? -e também de outros “grupos”. Qual o crime? Impedir que a escola fosse fechada? Tem coisa mais linda do que um jovem lutar pela própria escola, pela existência física e pedagógica da mesma?

Protagonismo juvenil é o estudante ter a sua própria entidade representativa. Se a UNE, a UEE, a UPES, a UBES, ou qualquer que seja a sigla, não interessa, os estudantes tem o direito de saber que podem criar outras. Tem o direito de saber que estas já existem. Tem o direito de saber que grêmio estudantil não é da direção da escola, que não precisam de benção e nem aval para existirem. Que assim como as categorias trabalhistas tem os seus sindicatos, e os trabalhadores tem o direito de se filiar ou não, os estudantes idem. Direito de conhecer. Direito de saber. Direito de escolher depois de muito analisar.

É lindo ver nossos alunos trabalhando em campanhas solidárias contra a fome, arrecadando agasalhos para o inverno, envolvidos em campanhas de reciclagem e jardinagem. Não contem ironia. Pois isso é realmente ótimo, desperta excelentes valores de organização solidária e empatia com o próximo. Mas paramos por aqui? Nossos alunos sabem o nome do Ministro da Economia, sabem para que serve uma CPI, foram informados de contrapropostas aos itinerários formativos? Quais serão as consequências do “Novo Ensino Médio” daqui a 20 anos? Apagar a História é um meio bem prático para passar o rolo compressor. Em meio a uma pandemia. Com o nosso dinheiro direto para as mãos de bilionários. História incomoda, né?

Alessandra Fahl Cordeiro Gurgel - Bacharel em História, Licenciada em História (PUCSP), Professora da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, autora do livro “Numa Tarde de Neblina”, coautora da Coletânea “Além da Terra Além do Céu” vol. IV, Militante da Apeoesp Subsede Franco da Rocha e da Enfrente!.

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