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Perseguição e censura?




Professor Me. Fernando Armandilha***



Eu professor Fernando de Filosofia, Mestre e Doutorando em Educação e a professora Djulia professora de Arte com experiência em vários projetos sociais, também formada em outras áreas como fotografia. Sempre valorizamos uma educação voltada para a construção identitária dos estudantes, visando sempre a sua ampliação de horizontes, a desfragmentação dos processos de ensino aprendizagem e sobretudo pensando o estudante como cidadão pensante, consciente, sensível e crítico.


Desta forma, "na eletiva realizada na EE laudo ferreira de Camargo, ministro", na DE de São Bernardo do Campo, juntamente com uma colega de profissão, Djulia que é docente de Arte, ofertamos para os estudantes a eletiva Seja Arte, que tinha como propósito principal ampliar o repertório cultural do estudante a partir dos conhecimentos estéticos, artísticos e contextualizados, além de propiciar um espaço de criação e reflexão sobre variados modelos artísticos. Desta forma, o estudante teria um espaço no qual poderia falar, refletir, produzir, criticar e questionar todos os aspectos sociais, culturais, linguísticos e artísticos que causam impacto no indivíduo e na sociedade.

Na culminância desta eletiva o tema central foi REPRESENTATIVIDADE, desta forma os estudantes fizeram desenhos que trouxessem à tona alguma causa que na visão deles (estudantes) não tinha representatividade em nossa sociedade. Entre essas representações que foram pintadas no muro interno da quadra da escola (com autorização da gestão escolar), os estudantes proporcionaram reflexões acerca dos povos indígenas, das mulheres, dos negros, dos animais, da comunidade LGBTQIAP+, entre outros.


Entretanto, num movimento que no mínimo é caracterizado como censura, a gestão da escola ordenou que dois desenhos fossem apagados, sendo um com a frase “Mariele Presente” e o outro sendo um desenho no qual dois homens estavam se beijando. Após irmos até a direção da escola para saber o motivo pelo qual os desenhos foram apagados, a gestora da escola informou que os desenhos não representavam todos os estudantes e que havia na escola muitos docentes evangélicos. Dissemos a gestão que aquilo estava muito errado, que não houve nenhuma conversa com os responsáveis pela eletiva e tão pouco com os estudantes.


Quando a turma que fazia parte da eletiva ficou sabendo e viu os desenhos apagados, eles quiserem refazer as obras e numa força conjunta os mesmos foram refeitos, porém no desenho do casal se beijando, antes era a figura de um homem negro e de um homem branco, quando o desenho foi refeito, ficou com dois homens brancos por falta de tempo e material (tinta) para voltar a representação original.


Entramos em contato com a APEOESP de São Bernardo do Campo para informar tudo o que sucedeu na UE, eles prontamente se colocaram a disposição para auxiliar e ajudar, tanto que três de seus representantes foram até a escola conversar comigo, e fizeram o envio de tinta preta para que o desenho do casal voltasse a sua representatividade primeira.


O caso ganhou grande repercussão no Estado de São Paulo, sendo transmitido pelo jornal G1 da Rede Globo. Mas, sabido que toda luta gera baixas, após essa transmissão a diretora da escola foi remanejada para outra UE, o que gerou um desconforto para os envolvidos na Eletiva, uma vez que, outros profissionais da escola julgaram que nós, professores da Eletiva fomos responsáveis diretos pela remoção da direção. De lá pra cá houve alguns indícios de perseguição para com os envolvidos, até que na segunda-feira dia 15/08/22 a professora Djulia e eu tivemos nossos contratos (somos categoria O) extintos.


Após todo esse desfecho começamos a perceber e sentir que os olhares para conosco estavam diferentes, tanto por parte de alguns docentes quanto por parte de pessoas da gestão. As visitas para verificar o que estava acontecendo nas aulas de Arte da professora Djulia se tornaram constantes, qualquer ato era passivo de convocação até a coordenação para assinar termos de ciência, coisas arbitrárias como na vez que a professora em questão elaborou uma atividade avaliativa e utilizou as questões de um livro do PNLD, mas a gestão a chamou para dizer que a questão não estava bem elaborada e a fez modificar.


Outro caso explicito foi quando na aula de Eletiva seguinte ao fato descrito acima, nós havíamos feito o roteiro de aula que descrevia toda a atividade que seria realizada, levamos um videogame para trabalhar gamificação e motricidade (com jogos de dança), mas a gestão foi até a nossa sala e mandou desligar, isso no decorrer da atividade. Mesmo estando no roteiro de aula e ser uma atividade com uma pedagogia ativa.


A extinção se deu por conta de uma denúncia feita através da ouvidoria na qual alegava que em uma performance feita em maio, (dois meses antes da culminância da Eletiva), onde eu vestido de homem aranha simulava o salvamento desta mesma professora. Tal performance ocorreu num momento que estávamos com um alto índice de transferências entre os estudantes, em uma ATPCG que tivemos a própria coordenadora levantou essa pauta e nos orientou a conversar com os estudantes para que os mesmos continuassem na escola e que pensássemos em práticas que pudessem reduzir esse número de transferências. Desta forma, o lúdico que foi apresentado por meio da performance é um aspecto que os estudantes levam em conta na hora de solicitar uma transferência, uma vez que, uma atividade diferenciada que traga um momento de descontração e até mesmo aprendizado, faz com que o estudante veja a escola de forma mais atrativa.


Com a extinção dos contratos, estamos agora observando todos os recursos legais que possam auxiliar e tentar reaver nossos empregos, novamente a APEOESP de São Bernardo do Campo/SP está nos dando apoio jurídico e funcional para que essa ilegalidade possa ser revertida e que a perseguição possa ser encerrada.



Professora Djulia Zinanni.

Professor Me. Fernando Armandilha.


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