
Nos últimos dias, uma gigantesca campanha midiática foi levantada em todo o continente visando deslegitimar as eleições presidenciais venezuelanas, que levaram o candidato do PSUV, Nicolás Maduro à reeleição. As forças reacionárias derrotadas se organizaram para questionar a legitimidade do processo, alegando que os resultados foram fraudados. Como já era esperado, a negativa em reconhecer a vitória dos chavistas foi seguida por governos vizinhos e pela grande mídia do continente, de forma geral.
Apesar do alarde entorno do país, atitudes como essas são bastante conhecidas, de Washington à Brasília a extrema-direita tem tornado regra provocar esse tipo de situação, atuando para gerar entre a população um clima de desconfiança e descredibilização para com as eleições antes mesmo de acontecerem, fazendo com que a legitimidade do resultado seja questionada, pavimentando assim um caminho para a efetivação de suas tramas golpistas. Na Venezuela há muito a burguesia do país tem escolhido o caminho do golpismo para suprimir a vontade do povo, em 2002, no dia 11 de março, foram às vias de fato e deram um golpe de Estado, prendendo o presidente Hugo Chávez e declarando um novo governo provisório, que existiu por apenas 48 horas em vista da intensa mobilização popular e de setores do Exército aliados a Chávez, obrigando os golpistas humilhados a recuarem e restituírem o presidente.
Nas eleições presidenciais de 2013, a primeira ocorrida após a morte de Chávez, Maduro concorre e vence por margem apertada o direitista Henrique Caprilles, que logo após a divulgação do resultado lança uma campanha questionando o resultado, alegando fraude e exigindo a recontagem dos votos. O Conselho Nacional Eleitoral fez uma auditoria e confirmou a vitória do chavistas, mas Caprilles se negou a reconhece-la e tentou em vão impugnar a eleição na Justiça. A oposição derrotada então se lançou às ruas e deu inicio a uma série de protestos violentos e abertamente golpistas que ficaram conhecidos como guarimbas, levando dezenas de pessoas a morte. Vale dizer, que a principal liderança da extrema-direita venezuelana hoje, a ex-deputada Maria Corina Machado – que inicialmente seria a candidata pela Plataforma Unitária este ano, mas acabou inabilitada pela Justiça por irregularidades na declaração de bens - era uma das lideranças deste movimento junto de Caprilles e Leopoldo López, este ultimo sentenciado a prisão por incitação à violência que levou a morte treze pessoas nos atos de rua naquele ano.
Maduro conquista a reeleição em 2019. Dessa vez, os setores mais extremos da oposição boicotaram as eleições, alegando que não eram confiáveis. Levaram então o deputado Juan Guaidó a se autoproclamar presidente da República, o que por sua vez foi reconhecido por dezenas de governo na América e na Europa, todos subservientes a Washington. Não fosse o bastante, Guadó tentou naquele ano articular com o governo de Donald Trump a invasão do país a pretexto de estarem recebendo ajuda humanitária. Mais uma vez, os chavistas conseguiram contornar a situação contra os golpistas e sabotadores e conduzir o país numa conjuntura de extremas dificuldades.
A campanha de sabotagem do projeto chavista não alcançaria tamanha dimensão não fosse o apoio internacional com que conta. A Revolução Bolivariana retirou o Estado venezuelano e suas gigantescas reservas de petróleo da órbita dos EUA, uma afronta imperdoável para o imperialismo e seus vassalos no mundo e no continente, e que explica o país estar em tamanha evidência há anos. O que se vê atualmente é somente mais um episodio de uma sequencia de intentonas golpistas que se acumulam na Venezuela há mais de duas décadas, e que a cada dia assumem mais abertamente seu caráter fascista. Lamentavelmente, setores da esquerda brasileira e da América do Sul, incluso alguns governantes como o presidente chileno Gabriel Boric têm vacilado em reconhecer a legitimidade do processo eleitoral na República Bolivariana. Ao deixarem se levar pelas desconfianças causadas pelas forças reacionárias de todos os países, fazem o jogo de nossos inimigos de classe, que não tem qualquer compromisso com a democracia ou a soberania nacional. Sempre que as forças de esquerda latino-americanas foram vítimas da injustiça e do crime, os governos chavistas as defenderam publicamente. Em 2016, em meio ao processo de impeachment da presidenta Dilma, Maduro declarou aos seus apoiadores em uma marcha em Caracas, que "Fomos testemunhas de um evento que, sem lugar para dúvidas, constitui um golpe de Estado parlamentar contra a legítima presidente do Brasil, Dilma Rousseff". Sobre a prisão de Lula em 2018, foi à TV falar em rede nacional: “Venho expressar a consternação e a dor de todo o povo da Venezuela pela perseguição contra o ex-presidente do Brasil, Lula da Silva. É uma canalhice vergonhosa o que está se fazendo contra ele". E no auge da pandemia, quando o governo Bolsonaro atuava criminosamente para multiplicar as mortes diárias pela Covid-19, deixando o país sem estoques de oxigênio, o governo bolivariano Maduro prontamente enviou 130 toneladas de oxigênio para o povo brasileiro, isto a despeito de alarmante situação econômica que o país vivia, e de o governo brasileiro de então ter reconhecido o golpista Guaidó como presidente. O governo bolivariano tem sido, além disso, uma das mais contundentes vozes contra o crime genocidas que Israel promove na Palestina, bem como na denuncia do criminoso embargo econômico que ainda hoje os EUA impõem contra Cuba.
É evidente que a administração de Maduro deve ser avaliada de forma crítica, observa-se que o projeto iniciado pela Revolução Bolivariana vive desde a morte de Chávez um momento de desaceleração, há conflitos entre setores da esquerda com o chavismo e dentro do próprio, e as contradições existentes distanciam o país do tão almejado socialismo do século XXI. Mas tais questões não podem nos levar a ter posturas centristas e vacilantes, ao longo dos anos, os governos chavistas demonstraram sua firmeza na luta contra o imperialismo e a extrema-direita, e não resta dúvidas que são aliados na luta pela democracia e pela justiça social na região e no mundo, sua solidariedade com os governos progressistas, partidos de esquerda e movimentos sociais é conhecida e deve ser valorizada.
As lideranças da extrema-direita venezuelana alegam que Edmundo Gonzáles Urrutia venceu as eleições, mas não apresentam provas de sua acusação, apenas declarações desconexas encima de imagens e informações dúbias e manipuladas. O que os fascistas e o imperialismo fazem na Venezuela é não outra coisa se não tentar destruir a soberania de uma nação e jogá-la em um mar de caos e instabilidade. O chavismo levantou a bandeira da paz, a extrema-direita a da guerra, para que seja feita a paz, que seja feita a guerra contra seus inimigos.
Lutar, Resistir e Vencer a Burguesia é Preciso!
ENFRENTE!
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