Profa Neuza Ap de Oliveira Peres***
Gênero (também) é uma questão de discriminação!
“Gênero: construção social dos papéis masculino/feminino dentro de uma cultura; compreensão da forma como se constituem as relações entre homens e mulheres identificando o significado e a dinâmica das desigualdades e do poder, das hierarquias, preconceitos e estereótipos.” (SILVA, Profa. Dra. Elaine Moura da, Programa do Curso de Especialização em Ciências Humanas, UNICAMP/SP)
A necessidade de haver uma data para essa sociedade patriarcal, “homenagear” a mulher, é por si só, discriminatória.
Como mulheres que lutamos por direitos e acreditamos num mundo sem opressores, devemos privilegiar a História Revolucionária, quando em 08 de março de 1917, na Rússia, uma gigantesca multidão de mulheres operárias, lideradas por Clara Zetkin, decretaram greve e tomaram as ruas das cidades, clamando por melhores condições de trabalho, igualdade de direitos e a retirada da Rússia na Primeira Guerra Mundial. Elas exigiam “Pão e Paz” e somado a outras questões políticas, econômicas e sociais, este evento teve tão forte impacto que foi considerado como o estopim da Revolução Socialista na Rússia.
Na segunda fase da Revolução Industrial, tanto na Europa, EUA, e, numa Rússia ainda semifeudal, governada por um czar autocrata e dominada por nobres parasitas, as condições de exploração do proletariado beirava ao desumano. Não haviam leis que assegurassem minimamente os direitos: tanto homens, mulheres como crianças, trabalhavam até 16 horas diárias, seis, e às vezes sete dias por semana em um ambiente insalubre, o salário era pago de acordo com o que o patrão se dispusesse a pagar. Para as mulheres com dupla, ou tripla jornada, as condições de trabalho dentro das fábricas, era ainda pior, visto que, numa sociedade patriarcal e conservadora, eram submetidas a abusos sexuais por seus patrões e capatazes, que em razão de assegurar o emprego, mantinham-se caladas.
No final do século XIX, as mulheres já estavam organizadas em grupos, associações e sindicatos. Em agosto de 1910, Clara Zektin e Alexandra Kolontai, feministas e defensoras das mulheres trabalhadoras e pelos direitos de igualdade de gênero e classes, participam como delegadas russas na II Assembleia Internacional de mulheres socialistas, realizado na Dinamarca com a participação de representantes de 18 países. Iriam debater as condições desumanas em que eram tratadas nas fábricas e no campo. Neste congresso, com a participação de Clara Zetkin, fica instituído um dia de luta da mulher, sem data definida, mas as discussões deveriam continuar acontecendo nos grupos de cada representante. Na Rússia, em 1918 o dia 08 de março passa a ser oficializado como o dia da Mulher Heroica e Trabalhadora.
Em 1975, o 08 de março foi instituído mundialmente pela ONU como o Dia Internacional da Mulher, para celebrar as conquistas e não para lutar por direitos, tendo como referência o incêndio em uma fábrica em Nova Iorque, onde morreram asfixiadas 130 mulheres em 1856, durante um protesto por melhores condições de trabalho. Elas foram trancadas na fábrica sem condições de sair.
É um acontecimento triste, marco histórico e não pode ser esquecido. Mas, o objetivo passou a ser outro, tirar o foco da data como um evento Revolucionário Russo. Lembremos que estávamos em plena Guerra Fria, período de bipolarização entre EUA e ex-URSS. Este decreto então, torna a data como uma estratégia capitalista, se apossando e invertendo o objetivo da comemoração, antes dia de luta agora conclamando para o consumismo, sem destacar o mais importante: é um dia de reivindicar uma sociedade com direitos garantidos para a mulher e sem desigualdades sociais.
A luta das mulheres ao longo destes mais de cem anos teve alguns avanços, não podemos negar, mas estamos muito longe de esmorecer.
Tendo o socialismo no horizonte, dentro do capitalismo defendemos:
1- que as mulheres merecem reconhecimento profissional em igualdade com os homens, mesmos salários para mesmas funções;
2- direito para decidir sobre seu corpo, devemos defender o direito ao aborto legal, seguro, gratuito, para não morrer, não à objetificação sexual, direito à segurança em caso de abusos com penalidades efetivas aos abusadores;
3- direito à uma Educação, desde a base, que privilegie a desconstrução de conceitos machistas, misóginos e discriminatórios nas escolas para transformar esta sociedade patriarcal construída durante séculos de exclusão.
Sabemos que somente quando a mulher trabalhadora se organiza e luta junto com os demais trabalhadores é que a sociedade se transforma! LUTEMOS!
“Nada assusta mais a ordem estabelecida do que mulheres que sonham e lutam! Por que todo dia é dia de luta! Todo dia é dia da mulher!”
Profa Neuza Ap de Oliveira Peres -Professora de História e Presidenta da Aproffib
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