Não Me Desviarei
- Aldo Santos

- 14 de set.
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Atualizado: 15 de set.

Heba ayyad ***
Eu não sou covarde,
não é o peso do ferro que acorrenta meus passos.
Ali, bandos de vítimas, os trabalhadores cansados,
que regressam com a escuridão das fábricas e dos campos,
encheram os caminhos.
Seus olhos, feridos nas profundezas, apagados no brilho,
sussurram baixinho,
enquanto o chicote do carrasco conduz seus passos.
— O que produzem?
Troa a voz terrível,
como se fosse o destino maldito.
E permanecem abertas, na noite funesta,
as fauces das prisões.
E eles murmuram:
— Somos os povos que trabalham.
E há uma caravana que uiva perdida
nos labirintos do tempo,
cega, sem rumo, sem destino.
Milhões marcham — descalços, nus, famintos, sem lar.
Nas encostas, no mundo dos lixões e das ruínas, vasculham,
enquanto os ricos, satisfeitos, gargalham,
rasgam a noite nas tavernas do prazer.
O jazz ardente inflama peitos e gargantas,
mesas verdes transbordam de vinho e flores.
Um fogo de desejos atravessa marcos e fronteiras.
Será que ouvem? O estrondo dos trovões?
O clamor dos milhões de famintos rasgando os ouvidos da existência?
Não, não ouvem!
No inconsciente vivem, como se fossem rochas surdas.
Mas amanhã voltaremos,
certamente voltaremos,
à aldeia florida, ao casebre enfeitado de flores.
E caminharemos sobre os crânios dos senhores,
erguendo nossas bandeiras.
As vizinhas soltarão vivas,
as crianças dançarão, os pequenos cantarão,
as palmeiras, os salgueiros,
as acácias, plenos de frutos,
e as espigas douradas de trigo nos campos e lares.
Não, não nos desviaremos da luta!
Nossas pátrias hão de voltar,
e com elas, de novo,
o canto luminoso da manhã.
Heba ayyad
Jornalista internacional Escritora Palestina Brasileira Poetisa


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