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Não Me Desviarei

Atualizado: 15 de set.

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Heba ayyad ***




Eu não sou covarde,

não é o peso do ferro que acorrenta meus passos.


Ali, bandos de vítimas, os trabalhadores cansados,

que regressam com a escuridão das fábricas e dos campos,

encheram os caminhos.

Seus olhos, feridos nas profundezas, apagados no brilho,

sussurram baixinho,

enquanto o chicote do carrasco conduz seus passos.


— O que produzem?

Troa a voz terrível,

como se fosse o destino maldito.

E permanecem abertas, na noite funesta,

as fauces das prisões.


E eles murmuram:

— Somos os povos que trabalham.


E há uma caravana que uiva perdida

nos labirintos do tempo,

cega, sem rumo, sem destino.

Milhões marcham — descalços, nus, famintos, sem lar.

Nas encostas, no mundo dos lixões e das ruínas, vasculham,

enquanto os ricos, satisfeitos, gargalham,

rasgam a noite nas tavernas do prazer.


O jazz ardente inflama peitos e gargantas,

mesas verdes transbordam de vinho e flores.

Um fogo de desejos atravessa marcos e fronteiras.


Será que ouvem? O estrondo dos trovões?

O clamor dos milhões de famintos rasgando os ouvidos da existência?

Não, não ouvem!

No inconsciente vivem, como se fossem rochas surdas.


Mas amanhã voltaremos,

certamente voltaremos,

à aldeia florida, ao casebre enfeitado de flores.

E caminharemos sobre os crânios dos senhores,

erguendo nossas bandeiras.


As vizinhas soltarão vivas,

as crianças dançarão, os pequenos cantarão,

as palmeiras, os salgueiros,

as acácias, plenos de frutos,

e as espigas douradas de trigo nos campos e lares.


Não, não nos desviaremos da luta!

Nossas pátrias hão de voltar,

e com elas, de novo,

o canto luminoso da manhã.


Heba ayyad

Jornalista internacional Escritora Palestina Brasileira Poetisa

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@ 2020 ABC DA LUTA 

OS TEXTOS PUBLICADOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES

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