Aldo dos Santos***
Minha Mãe, Maria Bevenuta de Jesus, nasceu em 13 de fevereiro de 1929 no Estado do Ceará e faleceu em 12/10/2005.
Mesmo quando minha mãe estava viva e quando eu ouvia essa música “Maria, Carnaval e cinzas” eu era tomado por uma inquietação interna, talvez por ser também a expressão de um poeta sofredor, Luiz Carlos Paraná, cuja interpretação de sua letra por Roberto Carlos tenha imortalizado também sua obra que foi e continua sendo um grande sucesso.
O autor compositor desta música escreveu esta letra em 1967, em plena ditadura militar na transição do governo Castelo Branco para Costa e Silva, de triste lembrança. Ou seja, minha mãe era também a expressão do sofrimento da migrante, mãe de 10 filhos e ao mesmo tempo era uma potencia inspiradora, como é o própria Carnaval com escolas e Blocos e todo tipo de manifestação popular.
Por muitos anos a ditadura militar e os opressores tentaram transformar o carnaval numa festa pagã, pecaminosa, mas o povo resiste esbanjando críticas e culturas variadas, contestações essas que os opressores e conservadores não gostam e nas masmorras religiosas o carnaval ainda é é motivo de condenação moral, sem razão e sem ética.
Portanto, é com alegria que comunico que nasceu "Maria no Carnaval", que viveu, lutou, criou e transcriou e continua viva na resistência das lutadores/as e na alegria e rebeldia da maior festa do povo Brasileiro.
MARIA, CARNAVAL E CINZAS
Nasceu Maria quando a folia
Perdia a noite ganhava o dia
Foi fantasia seu enxoval
Nasceu Maria no carnaval
E não lhe chamaram assim como tantas
Marias de santas, Marias de flor
Seria Maria, Maria somente
Maria semente de samba e de amor
Não era noite, não era dia
Só madrugada, só fantasia
Só morro e samba, viva Maria
Quem sabe a sorte lhe sorriria
E um dia viria de porta-estandarte
Sambando com arte, puxando cordões
E em plena folia de certo estaria
Nos olhos e sonhos de mil foliões
Morreu Maria quando a folia
Na quarta-feira também morria
E foi de cinzas seu enxoval
Viveu apenas um carnaval
Que fosse chamada então como tantas
Marias de santas, Marias de flor
Em vez de Maria, Maria somente
Maria semente de samba e de dor
Não era noite, não era dia
Somente restos de fantasia
Somente cinzas, pobre Maria
Jamais a vida lhe sorriria
E nunca viria de porta-estandarte
Sambando com arte puxando cordões
E não estaria em plena folia
Nos olhos e sonhos de seus foliões
E não estaria em plena folia
Nos olhos e sonhos de seus foliões
Metáforas e simbologias podem ser extraídas desta música que se expressa nesta metalinguagem do nosso cotidiano.
Maria continua na folia e nos olhos e sonhos dos seus conscientes foliões.
Aldo dos Santos. Militante sindical e do Psol
Em tempo. Solicitei que a Professora de literatura, Elaine Camilo desse uma olhada e eventual correção. A mesma assim respondeu: Que lindo!
Parece Manuel Bandeira
Nada mais representativo da cultura popular do que o Carnaval, ainda mais nos 60 e 70. Nada melhor do que o samba de morro, as macumbas cariocas e os malandros de terno branco para serem a verdadeira voz do povo naqueles tempos e, claro, muitas Marias, mulheres do povo que tiravam leite de pedra para sustentar suas famílias em meio à opressão, à violência, à fome, às exaustivas jornadas de trabalho.
Todo meu respeito a essas mulheres 👏👏👏👏👏👏
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