Alberto Souza***
Chávez sempre considerava o governo de Lula grande parceiro da luta anti-imperialista, pela integração latino-americana, apesar do Itamaraty, sempre aliado dos interesses dos Estados Unidos no Brasil e na toda América Latina, como um todo.
De fato, Lula, ao seu jeito, deu passos importantes pela unidade dos povos latino-americanos, em sintonia com o líder bolivariano. Ficou contra a ALCA, acolhendo manifestação de milhões de brasileiros e brasileiras, através de abaixo-assinados; contribuiu para a criação da ANASUL E CELALC.
Embora, não concordando com proposta de Chávez de fundação do Banco Sul, assim como de uma interestatal petroleira, instrumentos de suma importância para integração dos países da América do Sul e de outras regiões da América Latina.
Lula avançava, mas com restrições em relação à questão da integração regional liderada por Chávez.
Não queria ser visto como um anti-imperialista radical frente ao governo estaunidense. Nisso, seguindo a posição de sempre do Itamaraty, de nada fazer para contrariar os interesses do imperialismo.
Percebendo que Lula poderia, em certa medida, liderar contra-ponto a Chávez, o governo imperialista solicitou-lhe que usasse o seu poder de presidente da maior economia latino-americana para " acalmar" o decido antiimperialista do continente, ( forma de tentar jogar Lula contra Chávez) .
Lula assume esta tarefa, dizendo- se defensor de uma diplomacia pela paz entre governo e oposição na Venezuela. Na verdade, como queria o governo ianque, tentar convencer Chávez que amenizasse seu antiimperialismo, pois, como agia, com radicalidade, tornaria inviável " a paz democrática" com a oposição.
Lula, por aí, conseguiria, com seu prestigio, e a grandeza econômico do Brasil, o que o governo dos Estados Unidos não alcançaria. Não foi por acaso que o governo estadunidense enviou representante seu ao Brasil para conversas com Lula sobre este objetivo.
Do mais, Chávez fala de um novo caminho para a Venezuela e seu povo: o socialismo, chamando - o de Socialismo do Século 21, radicalizando mais ainda seu antiimperialismo e causando , com isso, maior radicalidade da oposição, pró- imperialista, em particular da área neofascista, em que já se encontrava Corina Machado e outros de mesma ideologia.
E mais ainda, em nome do socialismo, Chávez parte para organizar o povo, medida imprescindível para a construção de uma nova Venezuela.
Aí, as direitas internas e de todo o mundo se enlouquecem: " Coisa de comunista! Ditador! E o imperialismo se diz ameaçado.
Dificuldade maior para Lula, no seu intento de suavizar o antiimperiamos de Chávez.
Sem rompimento e até mantendo boas relações com o governo venezuelano , Lula - em relação à luta anti-imperialista, da mesma forma, a projetos de sociedade - era de estradas diferentes, diverge de Chávez. Um Lula pendular, pragmatista , face a conflitos irreversíveis.
Mais a mais, não se esqueça que para entender o caráter de um governo, deve-se analisar sua composição social, de classes. Lula, aliado a setores de direita, para governar, não indo além do tático, por não ser ideologicamente anticapitalista e, consequentemente, de anti-imperialismo moderado, não teria como ir longe, em apoio ao anti-imperialismo de Chavez e a seu Socialismo do Século 21.
Uma divergência que traria más consequências futuras, inevitáveis.
Em 2022, para derrotar o neofascista, candidato da " Terra Plana", de assustar até boa parte da burguesia, Lula recebe apoio de parte dos grupos econômicos e de sua mídia, Rede Globo...
Formada, assim, a Frente Ampla.
Claro, não só sobre as questões internas, sociais e econômicas,
notoriamente, na Frente Ampla, hegemonia dos representes dopoder econômico, limitando o governo e pressionando-o para posições à direita.
O que se daria inclusive na relação do Brasil com a Venezuela, centro latino-americano da luta anti-imperialista.
Lula acata a pressão. Parte para política de ingerência na vida política da Venezuela; a ponto de exigir deste país que apresentasse atas das suas eleições para presidente da República, como se a Justiça Eleitoral da Venezuela tivesse obrigação de apresentá-las a quem que seja. Lula tratou o Poder Judiciário da Venezuela, suspeitando dele. E o Brasil como um subimpério a impor regras a um pais, como se este não fosse soberano.
Venezuela reage ao "subimpério ". Nada de lhe entregar sua soberania; nada de entrega de atas.
Esta reação, porém, não ficaria sem castigo.
Vem a Cúpula dos BRICS. O governo de Lula -dirigido, na pratica, o Itamaraty, velho seguidor de políticas de agradar o imperialismo estaunidense - parte para castigar a Venezuela: veta seu ingresso nos BRICS.
A Venezuela é punida por um governo que se considera de um subimpério, por não ter acatado as suas ordens que, por tabela, eram ordens da Casa Branca.
Uma derrota da integração latino-americana; da Venezuela e seu povo, ficando fora de um organismo, cuja defesa de um mundo unipolar, mais justo, desdolarizado, é o mesmo pelo qual o governo venezuelano luta, por principio.
Agora, graças ao governo brasileiro, a Venezuela fica mais enfraquecida na sua resistência ao criminoso bloqueio econômico que lhe impõe o imperialismo.
Não fica isolada, porque a solidariedade internacional, principalmente da esquerda anti-imperialista, não lhe faltará.
Os vitoriosos, devido a tal veto, são: a oposição interna, mormente a neofascista, e a externa ao governo da Venezuela ; o Departamento de Estado ianque e o setor dos grupos econômicos de dentro do governo Lula, vendo suas pregações anti-Venezuela acolhidas e colocadas em prática.
Mas a história se corrige, reacerta seus caminhos.
Alberto Souza -Ex-vereador em SBCampo, Sindicalista e Escritor.
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