
I Congresso Brasileiro De Filosofia da Libertação e
I Simpósio de Professores de Filosofia do Estado de São Paulo
4, 5 e 6 de sembro de 2013.te
Dia 04/09
Boas Vindas:
Daniel Pansarelli: Universidade Federal do ABC, atua principalmente com temas relacionados à: filosofia moderna e contemporânea; filosofia política e ética; e ensino de filosofia, integrante da Comissão de organização do Congresso.
Pretendemos com esse congresso construir um espaço de encontro, de socialização de expectativas e pesquisa; de construção de redes.
Minicurso:
Breve Histórico da Filosofia da Libertação: uma abordagem introdutória – Euclides Mance
O primeiro dia foi dedicado à emergência da filosofia da libertação nas décadas de 60 e 70, bem como suas conexões com diferentes elaborações teóricas sobre a libertação naquele período, particularmente: a pedagogia libertadora, a sociologia da libertação e a teoria da dependência, o pensamento de libertação na África e Europa, a antropologia da libertação, a teologia da libertação e o teatro do oprimido. Também serão referidas, neste momento, algumas elaborações posteriores, dos anos 80, que fizeram surgir a psicologia da libertação, e dos anos 90, tratando da economia solidária como economia de libertação.
Objetivo retomar 45 anos da Filosofia da Libertação. O professor Arturo Roig, argentino, diz que ao fazer história da filosofia é possível ampliar a base documental, na perspectiva da interação dos discursos. Passa pela investigação de práxis de movimentos sociais de libertação. São 500 anos de história da América latina, num processo de dominação e resistência com lutas de libertação - agressão social e política – dominação econômica e dependência.
Década de 50 – Teoria sobre Desenvolvimento Econômico nos EUA – Problemas sociais seriam solucionados na última etapa do capitalismo.
Não se faz relação Desenvolvimento e Subdesenvolvimento – Theotonio dos Santos – Teoria da Dependência (leitura crítica e marxista dos processos de reprodução do Subdesenvolvimento periférico). Movimentos sociais no processo de luta por libertação, processo de repressão dos anos 60/70 na América Latina – processo de silenciamento.
Anos 60 – Paulo freire Educação como práxis de libertação 1965/68 – Pedagogia do Oprimido e outros. Obras influenciam e integram pesquisas em diferentes áreas. Contribui para a Filosofia da Libertação. Práxis da Libertação que valida e acordo de comunicação “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”. Ideia de comunhão, inclusive do processo de libertação. “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, midiatizados pelo mundo.” Os homens se educam porque são livres, não o contrário. Ontologia de Freire – Libertação e Razão (linguagem). Crítica ao solipsismo. Comunicação de corpos conscientes. Teoria da Ação Dialógica (libertação) versus Teoria da Ação Anti-Dialógica (repressão).
Educação como práxis (atividade humana) de libertação: A pedagogia de Freire constitui alguns dos ingredientes mais importantes para o desenvolvimento de uma Filosofia da Libertação.
O processo de libertação é sempre inacabado. As diferentes maneiras de pensar promovem o acordo comunicativo e formam o caráter libertador do pensamento elaborado. Compartilhar conhecimento é construir processos de libertação intelectual por meio da colaboração e da reciprocidade dos interlocutores, conforme seus interesses em construir novas reflexões. O sujeito não pode pensar sozinho. Não há um “eu penso” e sim “um pensamos”. Dialógica transformação do mundo. Freire faz uma crítica ao ensino de Filosofia – não é reproduzir pensamentos, mas problematizá-los. O melhor aluno de Filosofia é aquele que pensa criticamente esses pensamentos. Conhecer não é reproduzir o conhecido.
O amor – ato de comprometer-se com a causa do oprimido. É preciso acreditar na capacidade do outro de libertar-se.
O fundamental não é substituir o conteúdo da dominação pelo da libertação, mas o modo de educar. Dimensão utópica da educação.
A Filosofia deve ajudar o aluno a problematizar a realidade, e não transferir conteúdos para sua mente, simplesmente. O ato de conhecer não se dá por meio do ato de reproduzir aquilo que já é conhecido, uma vez que a realidade está sempre mudando. É para esta realidade dinâmica que o aluno deve atentar-se, valendo-se de uma humildade dialogal. Ou seja, é preciso acreditar nas capacidades do outro e no seu potencial enquanto colaborador na construção do saber, para que tanto o Eu quanto o Outro sejam libertos de raciocínios herméticos.
Sociologia da Libertação – Orlando Fals Borda, 1968 – “Es possible una sociologia de la liberación?” Colonialismo intelectual – pensamento europeu que se afirma na América latina – teoria hegemônica. Livro do Freire já era conhecido – introjeção de cultura do dominador no dominado. Libertação intelectual das Ciências Sociais – o papel que elas ocupam no processo de libertação. Para mudar o mundo é necessário compreendê-lo (1968), anterior à Teologia da Libertação.
Teoria da Dependência apresenta binômio dependência e libertação (de, para). FHC é possível haver desenvolvimento em meio ao processo de dependência.
Theotonio dos Santos – ruptura da teoria da dependência.
A história de cinco séculos de dominação da América Latina é marcada por lutas e resistências. As heranças desse processo revelam algumas facetas da dependência relacional entre subdesenvolvimento periférico e desenvolvimento central, que está associada ao acúmulo de riquezas e desenvolvimento nos centros, em detrimento da pobreza e miséria concentradas nas periferias – pela transferência de bens e valores das margens para os núcleos.
Filosofia da Libertação – Pensamento africano, europeu e latinoamericano. Uso da categoria libertação.
África – 60/70 – lutas de descolonização. Filosofia própria - temas tratados//mimetismo da cultura do colonizador, reestrutura do caráter de dominação, identidade, divulgação cultural e humanismo. Filosofia como fator de libertação.
Negritude // trocar cultura européia pela África. Negros latinoamericanos não são africanos, troca-se uma ilusão por outra. Frantz Fanon (1952)
Ebenezer – camaronês – A Filosofia é por essência um ato reflexivo.
Hebert Marcuse – Dialética da Libertação.
Emmanuel Lévinas 1961 – Totalidade e Infinito.
Novas formas de pensar a Filosofia dependerão das disposições de estudiosos em se colocarem como observadores ativos dos acontecimentos presentes. Deve-se motivar revisões dos estudos filosóficos, de modo que estas revisões atendam de maneira mais satisfatória e igualitária os anseios da pluralidade e multiformidade características das sociedades contemporâneas.
Debate
Novas gerações – consumismo – libertação econômica – produção de uma economia cultural, libertadora. América Latina: o não ser, o ser negado.
Eduardo Nicol (1965) – pensador espanhol que vivia no México. A verdade é constituída de maneira social. Fiodor Dostoievski, em Os Irmãos Karamazovi: “todos somos responsáveis por todos e eu mais que todos os outros”. Lévinas - “Somos todos culpados de tudo e de todos perante todos, e eu mais do que os outros.”
Mesa de Debates 1:
Ensino da Filosofia da Libertação
Antonio Joaquim Severino – professor de Filosofia, 22 anos PUC-SP, Filosofia da Educação, 22 anos USP; Programa Pós Graduação Educação Universidade Nove de Julho.
Levar em conta a experiência de vida das diversas comunidades e suas culturas. Processo de descolonização implica no respeito às culturas. O conquistador não deixa o conquistado se manifestar. Enfraquece raízes culturais.
América Latina. A Filosofia da Libertação nasce no contexto de dominação por parte dos pensadores – fundado na logosfera européia. Leopoldo Zea, Enrique Dussel. Para libertar povos preciso libertá-los das malhas do pensamento dos dominadores. A Filosofia da Libertação não pode se isolar, deve colocar-se na perspectiva multicultural.
Alípio Casali – 40 anos PUC-SP. Filosofia no Foco Educação. 25 anos Pós Graduação em educação PUC-SP, um dos primeiros estudiosos do tema Filosofia da Libertação; vice-reitor da PUC, secretário municipal 1989-92 governo Erundina.
O tema nos coloca diante dos jovens estudantes que hoje no país se colocam na cena política e histórica. Ambiente que nos cobra enquanto educadores no campo da filosofia.
1). Discutir a possibilidade do ensino da Filosofia; Ensino da virtude – Afirma a possibilidade e a obrigatoriedade do ensino da filosofia. Não um campo que se restringe a um conjunto de conhecimentos técnicos. Posição diante do mundo. Inerente ao vínculo//compromisso com a humanidade. Não é possível pensar a Filosofia senão uma atividade crítica; e a um processo de libertação. Lugar de libertação negada, de opressão, de alienação. Levando em conta que remete ao que é ensinar? Insignare (imprimir um signo, uma marca) que ultrapassa a nossa transmissão de conhecimento. Essencial da Educação.
1). Ponto de partida – Libertação. Interrogar acesso do sentido do conhecimento e da ação, no lugar da produção de vida. “Libertação é negação da negação e afirmação do sujeito”. Roteiro da construção coletiva de um discurso novo. A Filosofia da libertação começou com a Filosofia da política, adentrando no discurso da política, no espaço da sua maturidade.
2). O quê e como ensinar? Seguir dialogando com as demais filosofias, no sentido de organizar sua posição e justificativas. Experiência de conhecimento histórico – para que se supere um certo narcisismo juvenil contemporâneo, que os mantém aprisionados no pequeno mundo de suas sensações e opiniões. Não é possível fazer comunicação com os jovens sem ser e partir disso. Dificuldade em ultrapassar a repetição das opiniões versus reflexão filosófica. Para entrar na história e na produção da violência, da vítima e da alienação e os mecanismos que a produzem.
3). Destino de aprendizagem. Para que? Não se justifica um esperado valor da instrumentalidade das ciências puras que geram a tecnologia. Pelo sentido prático, poético e estratégico da filosofia – uma práxis da libertação e transformação, linguagem própria dos jovens. Vivemos hoje um tempo histórico condensado – interesses dos jovens pela ética/política, estamos em tempo de ensinar e aprender. A cidadania, a ética e a política sejam apresentadas como temas principais da filosofia hoje em nosso país. Redução da ética ao seu exercício no campo da subjetividade (manifestações) ética na política versus ética da política. Ética no mercado – complexo. Redução da política – porque pensada como gestão e corrupta, sem mediação das instituições. Redução da própria cidadania.
4). Epílogo – Projeto juvenil uma oportunidade para repensar em linguagem do ensino da filosofia. Crença ilusória “vamos mudar esse país através das redes sociais”. Andar mais a par das demandas juvenis – tema da simplicidade versus simplificação. O simples não é fácil. Política sempre foi o ponto de partida da filosofia da libertação.
Carlos Giannazi – professor e diretor de escola pública em SP, Mestre e Dr USP História; deputado estadual PSOL duas vezes vereador pelo PT
Debate importante no momento político em que estamos vivendo. Fiz pedagogia e trabalho na educação. Filosofia da libertação rompendo com o modelo tradicional, colonização teórica imposta. Pretendemos construir uma filosofia própria da América Latina. Qual seria o papel da Filosofia da libertação no atual cenário político? Como nos ajuda a entender esse momento?
Década 60 – repressão física e intelectual, inclusive reformas na educação promovida pelos generais versus pensamento crítico.
Década de 90 – auge do neoliberalismo, governo Lula/Dilma fez muito mal para o pensamento crítico e organização da juventude. Paralisou a crítica, porque cooptam os vários movimentos, inclusive setores do MST, CUT, UNE. Perdemos referências de mobilização hoje no Brasil. Perdemos capacidade de mobilização. Rebaixamento do ponto de vista crítico. A volta do ensino da Filosofia no Ensino Médio é uma luta história. Saudações à Aproffesp – Associação dos Professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo que contribuiu para isso. Debates, resistência até que a lei foi aprovada e a LDB alterada, Filosofia volta como disciplina obrigatória. Que filosofia? Agora temos de fazer esse debate. As manifestações questionam os símbolos do capitalismo, estrutura social, modelo de organização que temos hoje. Isso tem que ser trabalhado e a Filosofia poderia dar grande contribuição. A filosofia não pode ser neutra em relação à educação. O educador tem que tomar partido de classe social. Paulo Freire jamais aceitaria o que está sendo feito hoje na educação em São Paulo.
Debate
Alípio – Vanguarda não constitui um movimento revolucionário, ainda que tenha exercido pressão política – fim do voto secreto, em votação desde 2006. Câmara neutraliza incômodo que estão produzindo. Ausência de mediação política – fascismo, fim das organizações (partidos, sindicatos). Para lideranças e professores de filosofia oportunidade de papel pedagógico. Filosofia da libertação coloca em pauta a identidade nacional.
Severino – Manifestações da juventude passaram a ser tema no diálogo, no debate, nas aulas do professor de filosofia. Oportunidade ímpar, privilegiada de fazer análise, de reflexão, que se caracteriza pelo seu caráter crítico. Desvelar – processo construindo nossa identidade, nos livrando da colonização.
Giannazi – Manifestações expressam a crise da representatividade política (partidos, sindicatos), não é de “vamos exterminá-los”. Pode ser fascista? Várias bandeiras levantadas, agora mais pontuais (médicos, professores, sem tetos). Manifestações estimulam outros movimentos. Grande saldo despertar as pessoas à participação. Estatuto da Juventude é contra a juventude (não garante, por exemplo, a meia entrada para estudantes, disponibiliza 40% do total de cota dos ingressos). O governo vendeu para a UNE o monopólio da carteira estudantil. As manifestações são disputadas pelos vários setores, mas tem esse caráter mais de estímulo para outras manifestações. As mobilizações achacoalham nossos teóricos de organização. Projeto de Lei instituindo o ensino da filosofia também no Ensino Fundamental – junto com a Aproffesp, tramitando na Comissão Permanente para ser encaminhado para votação no plenário da ALESP e depois o governo sancionar.
Mesa de Debate 2:
Interfaces Filosóficas
Júlio Cabrera – argentino, radicado no Brasil, Doutor em Filosofia pela Universidade Nacional de Córdoba (Argentina).; Professor do Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília., autor de vários livros como “O Cinema pensa” (1996); “O diário de um filósofo no Brasil”
Polêmica com Dussel o princípio material da Ética. Ideia de perfomática da libertação. Noção de vida tem de ser qualificada. Filosofia da Libertação e o ato de libertar-se. Mudar práticas acadêmicas, noção de filosofia, de profissionalização. Libertação textual – produzir textos de forma subversiva, que sejam eles mesmos libertários e libertadores. Introduzir autores da América Latina e brasileiros. Mudar currículo de Filosofia.
Eduardo de Oliveira (Duda) – IFIL Instituto de Filosofia da Libertação
Filosofia da Libertação e negritude. Pensar no Brasil dentro do pertencer africano-brasileiro. Prática da capoeira, exercício de libertação. Nietzsche – a morte de Deus, pensamento da vertigem. Roda de Capoeira – fique atento, se não como você vai enfrentar a roda lá fora. O IFIL mapeou conceitualmente 100 autores da América Latina, 100 autores da África, trabalho disponível no site http://www.ifil.org
Enrique Dussel – filósofo argentino exilado, radicado no México, desde 1975; professor Departamento de Filosofia na Universidade Autônoma Metropolitana; doutor em Filosofia pela Universidade Complutense de Madrid; doutor em História pela Sorbonne de Paris, entre outros títulos. Fundador com outros do movimento Filosofia da Libertação.
Os grandes filósofos pensam a realidade. Não há Filosofia latonoamericana? Temos que definir a filosofia de outra maneira, temos que romper com o colonialismo eurocentrista, o helenocentrismo. A filosofia da libertação a nível de vida. O fundamento da cultura é a vida. A vida vale para a ética e não para a política? Não, vale para as duas.
Debate:
Dussel – Vida como princípio ético. Não vivemos para argumentar, mas argumentamos para viver. Na filosofia deveríamos ser mais performáticos como na capoeira.
Duda – Epistemologia do racismo. Capoeira não é na sua origem do Brasil, roda de capoeira era forte de sentido para viver. Racismo é um fenômeno estético. Mobilização do desejo além da razão.
Solenidade de abertura:
Aldo Santos – presidente da Aproffesp - Associação dos Professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo, coordenador da APEOESP-SBC e representando as entidades que tornaram possível o Congresso.
Libertação não é apenas um jargão de palavra vazia, mas um compromisso. As recentes revoltas populares e sua continuidade é um momento importante para os trabalhadores em geral. Para mim libertação é participar juntamente com os trabalhadores e estudantes nas praças públicas, enfrentar a ofensiva do capital e tomar partido na sociedade, ao lado do pobre, do oprimido contra tudo o que mata. Filosofia da Libertação debate da militância efetiva no dia a dia, na construção da sociedade. Em 1919 Rosa de Luxemburgo, dizia que quem não se movimenta não sente as correntes que o prende. Congresso extremamente importante no sentido de reafirmar nosso compromisso na luta. Não há espaço para os indiferentes (Gramsci), nem para analfabetos políticos (Bertold Brecht). Lutamos por uma sociedade livre, igualitária e socialista.
Conferência de abertura:
Enrique Dussel
Há muitos especialistas em filosofia da libertação que não nasceram na América Latina. 1906 – Filosofia da Religião. Os estudantes não sabem o que se passou na América Latina em 1968, devem conhecer o que falaram seus antecedentes. A filosofia não pensa filosofia se não pensa a realidade. Em 1968, um grupo de pensadores pensa a realidade. Intelectuais orgânicos (Gramsci). Preparam metodologicamente o discurso/método filosófico.
Em 1942 – Leopoldo Zas, mexicano, os discípulos e jovens não sabem disso. 1945 – guerra mundial - nova filosofia na Europa, guerra fria; 1954 – América Latina: Vargas, populismo. Em 1968 – 400 estudantes mexicanos são mortos, em Paris nenhum. Filosofia é a primeira herança de 1968.
1964-1984 – ditadura militar Brasil, surge a filosofia da libertação, no contexto da ditadura militar e movimentos sociais anti-ditadura.
02/10/1973 – atentado à bomba à minha casa, vou para Colômbia, depois Costa Rica e finalmente me fixo no México. Ensinava Filosofia, origem da libertação. Em toda América Latina os povos se moviam.
Como eu construo o outro? Código de Murab (viúva, criança, pobre, estrangeiro); Karl Oto Apel; Theotonio dos Santos (2003).
1969 – Teoria da Dependência - é possível uma filosofia em nossa América Latina?
1514 – Bartolomeu de Las Casas criticou a ética e a política, um século antes de Descartes (1637), tido como o primeiro filósofo moderno.
Revelação do outro – Lévinas. O filósofo da libertação continua com a eurocêntrica. Marx Filosofia econômica – crítica marxista da sociedade real. Três revoluções na América Latina: Cubana 1956, Sandinista 1979, Zapatista 1998.
Paulo de Tarso – o princípio de Justiça é o consenso dos oprimidos como atores da transformação da história.
Aprisionamento dos estudos filosóficos na América Latina ao pensamento europeu. Ausência de autores latinoamericanos da Filosofia na grade curricular do curso.
Imperialismo norte-americano exemplo de poder opressor sobre Estados menos desenvolvidos. O capital monetário sobrepõe-se à cultura e às preocupações de cunho social e político dos Estados subdesenvolvidos.
A transferência vertical do pensamento filosófico europeu à América Latina não difere da forçosa transferência da cultura do dominador para o dominado, como é o caso das grandes potências globais para com os países pobres e emergentes.
Materialismo eurocêntrico e norte-americano contaminou a consciência latino-americana. Do mesmo modo, a Filosofia eurocêntrica imprimiu seu peso sob os estudos filosóficos ao Sul do Ocidente.
Manifestações populares no Brasil podem ser justificadas em decorrência de um olhar mais atento do povo, que toma consciência de seu poder de transformação do contexto de desigualdade e deformação político-social em que está imerso. Reclamar os direitos de acesso à saúde, transporte, educação, lazer, moradia de qualidade não é outra coisa senão reclamar o direito à dignidade e à igualdade, que devem ser legitimadas pelo Estado. “O poder está nas mãos do povo, não nas mãos da burguesia; o princípio da justiça é o consenso dos oprimidos” – Paulo de Tarso.
Dia 05/09
Minicurso:
Breve Histórico da Filosofia da Libertação: uma abordagem introdutória – Euclides Mance
No segundo dia foram agrupadas as reflexões filosóficas do período de emergência em dois eixos: o primeiro em torno da Crítica da Filosofia e da investigação sobre as condições para uma Filosofia Crítica; e o segundo em torno da relação entre Filosofia e Libertação. Foram igualmente apresentados elementos do período de críticas, sínteses e difusão (final dos anos 70 ao final do anos 80), agrupando-se as reflexões em torno das diferentes classificações das correntes internas à filosofia da libertação, das críticas que os autores se fizeram mutuamente e da revisão de suas posições a partir dessas críticas.
Síntese - Primeira etapa da Filosofia da Libertação 1966-1976, período marcado por movimentos sociais, repressão e lutas. Libertação tratada por diferentes disciplinas. Pensamento Crítico. Interrelação que as elaborações tiveram entre elas. Filosofia da Libertação na América Latina – filósofos argentinos, certa organização de um movimento filosófico: Salazar, Leopoldo, Arturo, Dussel, entre outros; Hugo Asmman (Brasil).
Discussão conceitual – 1968 – Existe uma filosofia da nossa América Latina? (Salazar) Não existe uma filosofia original e autêntica da América Latina. É possível haver? É preciso romper com a dependência frente à hegemonia européia. Cultura alienada, filosofia expressão máxima da cultura. Há possibilidades de libertação.
Leopoldo Zea – Filosofia americana abordagem historicista, há tradição de pensamento latinoamericano. Debate ecoou pela AL. Argentina: até 1973 surgem vários pequenos grupos de filósofos nas várias universidades. Governos militares, repressão movimentos sociais e resistência. Retorno de Peron. Debilidade na interlocução - como massas populares e marxismos. 1971 – 2º Congresso de Filosofia em Córdoba. Urgência de criar categorias. Hugo Asmman. 1973 – Temos um novo congresso, publicação do primeiro manifesto – novo estilo de filosofar latinoamericano, desde o povo das nações dependentes – tema do oprimido práxis da libertação. Recuperar passado filosófico da AL. Condições de possibilidade – 9 passos (Salazar):
1). Filosofia como região cultural,
2). Compreender o caráter da totalidade social
3). Compreender a base econômica social desta prática
4). Esclarecer papel determinante da dimensão econômica na produção cultural
5). Compreender caráter de sistema dessa sociedade marco e micro sistêmico
6). Salientar estrutura social conflitiva
7). Estrutura de classes
8). Interrelação
9). Considerar o papel determinante da ação libertadora.
Como a filosofia opera dentro dessa totalidade (Bondy). Arturo André Roig – História das idéias na AL
Articulação do filosófico e do extra-filosófico. A filosofia pode cumprir uma função ideológica. Toda práxis tem uma teoria, consciência da alteridade. Demandas populares//reformulação das demandas por atores políticos de acordo com seus interesses. Reformulação, caráter ideológico. Porem-se para si como valiosos. Minha história é valiosa, aí se tem processo de libertação.
Rodolfo Kush – filosofia participa da cotidianidade, multiformidade cultural – fenômeno do negro, do índio. Como traduzir uma cultura. Tradução – gera ambiguidade, hermenêutica simbólica. Existe uma cultura do ser europeu que se impôs na AL. Cultura do Estar na AL oprimida, negada, mas não destruída, é latente. Negar a negação dessa cultura como um processo de libertação. É preciso recuperar os conceitos tradicionais das comunidades indígenas, por exemplo.
Dussel – trajetória ampla de elaboração 1ª etapa até 1976/77. AL dependência e libertação. Ética que se formula faca a face, sair do cotidiano acrítica. Compromisso existe de possibilidades libertadoras. Discipularmente, o que escuto do outro. Consciência ética frente às injustiças. O que se espera da filosofia é que seja filosofia. Desconstruir as filosofias pré-existentes. A filosofia não é política, mas possui função política. O filósofo fica na rua, fora da estrutura do poder, para lançar a crítica libertadora. Jogo das categorias básicas da filosofia da libertação, a partir de Dussel:
1). Proximidade – face a face; o eu e o outro juntos na construção dos processos mais elementares do relacionamento humano: a convivência, a divisão de um espaço comum, o cuidado recíproco e a “proximidade” mesma. Estes processos são anteriores à linguagem e à Ciência;
2). Totalidade - relação com entes do mundo; princípio que diferencia a alteridade (o outro; tudo aquilo que não é o “Eu”) particular da alteridade coletiva; ou seja, separa o subjetivo do objetivo, o sujeito do outro sujeito e, por fim, o sujeito do objeto;
3). Mediação – capacidade que os entes têm para realizar um projeto ou ação, valendo-se de instrumentais mediadores para se chegar a um fim específico;
4). Exterioridade - dialética da ação e percepção particulares com a ação e percepção coletivas; modo como o meio afeta o sujeito e vice-versa;
5). Alienação - não-reconhecimento do “Eu”; cegueira da consciência crítica; ocorre toda vez que, por exemplo, a mulher é negada – cultura machista, negação da alteridade;
4). Libertação – permite suprimir a alienação, desde a alteridade, a exterioridade do outro; permite formular críticas sobre si mesmo e a realidade presente; Transontologia – dialética das práxis – momento analético.
Hugo Asmman – brasileiro. O uso da linguagem em sua relação com a práxis efetiva. Tema da corporeidade vivente. 1972. Recuperação sucessiva da linguagem da libertação. Gustavo Gutierrez 1971- primeiro livro Teologia da Libertação. A linguagem da teologia da libertação. Discurso versus ação. Linguagem facilmente manipuladora. Importante análise crítica da linguagem.
Teologia da Libertação – como emerge na AL, caldo da cultura anterior. A partir da Ação Católica – Método Ver Julgar e Agir, a partir dos anos 50. JAC, JEC, JIC, JOC e JUC – Ver/Julgar teórico (a partir da fé) compreender a realidade política, social e econômica. Cristãos – necessidade análise crítica da realidade. Ampliar seu ver, julgar e agir pelos quatro lados: Social, Político, Econômico e Religioso. Reforma agrária, êxodo rural, cooperativismo, analfabetismo são questões contempladas pela Ação Católica. Tudo isto é anterior à “sistematização” da Teologia da Libertação, que, para muitos, nasce na década de 1970 com o teólogo peruano e sacerdote dominicano Gustavo Gutiérrez. Semelhante à Filosofia da Libertação, a Teologia da Libertação surge de uma práxis articulada com conflitos e denúncias de uma realidade social desfigurada e opressora dos menos favorecidos.
Herbert de Souza – a história é a transformação do povo evoluindo.
D. Helder – não estratégica violenta porque esmagada pelo imperialismo.
José Coblin – derrubar os privilégios através da força.
Pe. Camilo Torres – colombiano, deixa de ser padre e participa do Exército de Libertação Nacional, 1966. Não existe Teologia da Libertação em texto, só na práxis.
1971 – publicado Teologia da Libertação de Gustavo Gutierrez. Teoria da Dependência, lança nas ciências sociais. Análise crítica da realidade com categorias marxistas. Nova maneira de fazer teologia, a partir da realidade, utopia.
1072 – Leonardo Boff “Jesus Cristo Libertador” ortodoxia versus cristologia – Ortopraxia – práxis de Jesus.
Juan Luiz Segundo – caráter libertador da teologia – método//suspeita – o papel da teologia dentro da totalidade – processo de repressão, silenciamento do Boff
Teatro do Oprimido – Augusto Boal – amigo de Paulo freire, anos 60. Estratégia – Pedagogia da Libertação do Freire, difundido em mais de 70 países. EUA faz a 20ª Conferência da Pedagogia e Teatro do Oprimido.
Teatro – Brasil Círculos Populares de Cultura anos 60 – floresce um teatro popular para dialogar com o povo. Uma verdade a ser levada para as massas. Teatro Invisível – processo de reflexão sobre a realidade.
Teatro Fórum – interação na cena permite formular a sensibilidade. Técnicas do teatro transportado para o processo de libertação. Pessoa pode escrever seu próprio papel, sua própria história.
Antropologia da Libertação – 1967 – primeiras reflexões – papel na crítica do sudesenvolvimento. 1969 – Andreas Gunder Frank - Teoria da Dependência - com Theotonio dos Santos, Ruy Mauro Marini, Vania bambibi – ruptura do centro com a periferia.
Jean Copans 1969 – a antropologia da libertação deve se libertar da antropologia.
Segunda metade da década de 70 – boom de publicações libertação.
Psicologia da Libertação – 1967 – encontro na Inglaterra - David Cooper – movimento anti-psiquiatria. Destruição da espécie humana (racismo, opressão) – suicídio humano. Processos de dominação. Atuação em redes sociais – Antonio do Nascimento Moreno 1967 - Teoria Matemática da Comunicação.
Ignacio Martín Baró – voz crítica em um regime de opressão. A voz crítica não se cala... Vítima de uma chacina. Papel do intelectual coerente na transformação da realidade.
Pensar de maneira crítica na AL tem consequências. Martín Baró elabora filosofia da libertação, é uma transformação não só teórica, mas prática. A filosofia da libertação é a libertação da filosofia. 1). Novo horizonte; 2). Nova epistemologia; 3) Nova práxis.
Tomar controle de sua própria existência (alienação pessoal, opressão social). Não há como fazer filosofia do sujeito, mas filosofia social (desde, a partir do povo oprimido e não para). Não objeto de análise, mas sujeito – recuperação da identidade latinoamericana (memória, potencialização das virtudes populares).
Direito alternativo – Ricardo Prestes Pazello – onde surgiu categoria libertação? Uso alternativo do direito (AL anos 80); Aloysio Ferraz Pereira; Shelma Lombardi de Kato; Roberto Lyra Filho “O que é o Direito?”, coleção Primeiros Passos.
“Direito não deriva da lei é construído pela sociedade no exercício de sua liberdade”. História - processo de libertação constante. Direito achado na rua – vem de movimentos sociais. Eduardo Lima de Arruda Jr. – 1º Encontro 1991 – Santa Catarina – “Pluralismo Jurídico” – Boaventura Santos Sousa.
1979 – João Batista Ralph – justiça como instrumento de libertação. O oprimido deve ser um agente de sua libertação. Uma filosofia jurídica da libertação (Celso Luiz Ludwig).
Debate:
Método não é só um caminho, mas leva à meta. Conteúdo da filosofia vem da práxis da libertação.
Mesa de debates 3:
Pensamento Neocolonial
Benedito Eliseu Cintra – Filósofo 36 anos na PUC-SP
A corrupção. Fenômeno sociopolítico e ético de extrema gravidade. Vem das relações humanas (interhumanidade). Corrupção como inevitável? Carta Sétima de Platão. Saulo Secondo. Livro das Leis. Sedução/corrupção (conluio, cumplicidade).
Jung Mo Sung – filósofo e teólogo da libertação. Diretor da faculdade de Humanidades da Metodista.
1). Colonialismo tradicional; 2) Neocolonismo.
1). AL deixa de ser colônia no século XIX. Colo = cultivo. Um tomar conta que domina. O opressor precisa ter uma consciência limpa para que não seja o freio do processo de dominação. Povoadores do Novo Mundo. Missão de levar a Boa Nova – experiência euro-ocidental. Civilização – caravelas portuguesas levavam padres, as inglesas, cientistas.
Década de 60 – presidente de Gana cunha o termo neocolonialismo. Novo conceito substantivo neocolonial – império – “para além da experiência do império”. Crítica à Razão Utópica (Arbos); A maldição que pesa sobre a lei (Paulo de Tarso e Benjamin).
Não é mais um país que domina, mas um sistema que domina como império por atração e fascínio. Castigo não é sair, é ser expulso do sistema. Luta para entrar no sistema, tipo de dominação diferente. Lógicas econômicas e culturais e/ou militares, com outra lógica. Francis Fukuyama “Fim da História” – domínio do poder intangível. Missão dos EUA e elite do Primeiro Mundo “dar bons exemplos”. O ser humano aprende por imitação – neurônio espelho – não é um processo cultural, é orgânico. Padrão de beleza – a partir de um modelo 1). transcendental – que possibilita conhecer conceito perfeito de beleza, permite saber o que é mais feio, mais belo, fazer maquiagem aproxima a ideia de beleza perfeita. Processo de aproximação da perfeição, como exemplo, seguidores EUA, Europa. EUA Fukuyama exemplo de país civilizado. 2). Transcendental – impossível de ser atingido, transcende possibilidades de história. Papel da reflexão crítica superar as ilusões. Desigualdade Social preocupa Davos. Diferença excessiva coloca em risco o sistema e abre possibilidade para a volta de processos populistas. Populismo sistema irracional, surge da indignação. Celso Furtado em 1970 – padrão de consumo – elites dos países do terceiro mundo imitam as do primeiro. Processo que continua e agravou-se hoje – sonho dos chineses é o padrão de consumo dos EUA. Desejo: entrar no mercado de consumo. Populistas articulam demandas dos que estão por baixo. Alternativa a isso? Modelo soviético não dá conta das políticas humanas e sociais. Economia neoliberal – mercado livre. Imaginação popular transcendental – reino de Deus – serve para mobilizar, mas não serve para formular estratégicas políticas e governamentais. Transformar a imaginação em protesto/descrever. Poeta pode sonhar com o que deseja, ator político não. Tudo que é feito é ínfimo diante do impossível. A lei, a instituição salvam, governo, igreja não salvam.
Debate
Benedito – Filosofia da libertação, a história tem sentido, mas não tem fim, porque sempre haverá corrupção, mas há uma limitação. Paradoxo entre pecado e graça. De onde nasceu a morte de Abel? De alguma forma de corrupção e sedução. Pensar a metafísica da opressão.
Jung – Um dos papéis da filosofia da libertação é não fazer análise conjuntural, mas mostrar fundamentos da racionalidade. Questão do mal – o mal se apresenta como bem tanto para o progresso, crescimento econômico, ou num processo revolucionário. Paulo Freire: o oprimido quer ser opressor. Desmonopolizar conceito de beleza, padrão é dado pela mídia; emancipação total - subjetividade é transcendental. É da condição humana. Ser perfeito para os gregos é fazer-se Deus. Fazer-se perfeito como Deus que se faz humano é assumir a condição humana. A espécie humana é capaz de desejar além do possível (o impossível). Filosofia da libertação não é dizer que a Europa não serve, salto no pensamento exige muito trabalho. A razão européia não é verdade revelada. Não à redução de papéis – afirmação do sujeito – qualidade de ser sujeito humano.
Mesa de debates 4:
Ensino de Filosofia e Libertação
Aldo Santos – Presidente da Aproffesp e coordenador da Apeoesp/SBC
Destacar a importância do professor José Carlos, brilhante idéia de convidar alunas para acompanhar o evento. O ensino da Filosofia e da Libertação nos remete ao debate profundo. Citar momentos da história – o processo da filosofia e da libertação em si. Como diz Marilena Chauí, a filosofia está presente na vida de todos nós. Remonta os gregos. Desde os tempos imemoráveis – cada atitude individual ou coletiva, fenômeno físico, avanço tecnológico, entremeado de ações possíveis de análise filosófica. De que eixo cronológico surge a filosofia? Cenário: dois grupos bastante primitivos. O primeiro – fogo sobrenatural; o segundo comunicação de habilidades mais complexas com habilidade de fazer o fogo. Filme a Guerra do fogo. Modos de vida diferentes. Domínio do fogo – categoria fundante - elemento ontológico foi o trabalho – o ato de atritar provoca fagulhas, salto fundamental do conhecimento humano. Outro momento importante e conflitivo da história – escravos se organizam e colocam em cheque o Império romano, os espártacos. Cem mil escravos se organizam e enfrentam – elemento concreto da filosofia e da busca da libertação.
1492 – invasão dos países centrais na dita colonização. A opressão se põe em base de um pensar filosófico e teológico e dizima os nativos. Elemento do pensar da filosofia e do processo de enfrentamento dos nativos, luta por sua libertação.
1564 – Galileu – contestação das concepções filosóficas da época. Maneira de interpretar e ler o mundo.
Revolução Francesa/Revolução Industrial – luta de resistência versus pensamento dominante. Revolução Industrial – aparecimento de um elemento importante nesse processo, Karl Marx, em 1848 – Manifesto Comunista, que se mantém absolutamente atual. Levanta aspectos do ponto de vista da sociedade ao afirmar que a história da humanidade é a história de luta de classe – opressores e oprimidos. Interesses se chocam, são antagônicos. Determinante no processo humano, econômico. Modo de produção precisa mudar, se não as mudanças são inexistentes. Ponto Filosófico – o papel do filósofo não é observar ou justificar o mundo como total, mas transformá-lo. Não cabe na vala comum marxistas, stalinistas, leninistas, trotskistas. Para transformar o mundo em que vivemos é preciso organizar. Professores não se organizam, não enfrentam redes em suas escolas. É necessário transformar o mundo, organização do ponto de vista partidário, sindical e político.
Ponto de vista político – Trabalhadores têm uma grande necessidade não só a partir de ser intermediado, mas de classe, de interesses.
Década de 80 – Teologia na Assunção. Paulo Freire fazia um debate sobre obras de Leonardo Boff tema: qual era a Igreja que as pessoas buscavam? Do outro mundo, desse mundo ou do submundo? Qual é a Filosofia que nós queremos: a que está posta ou a que queremos transformar? Filosofia desse mundo (do chão da sala de aula que não cabe na academia). Realidade dos estudantes totalmente diferente da academia. Submundo dos alunos – negar o aluno, acolhimento dos alunos? A utilização de textos religiosos (filosofia do outro mundo), aplicações acadêmicas de filosofia – busca de competências e habilidades. Qual filosofia estamos fazendo? Temos que fazer filosofia do submundo, a partir da realidade cruel do menino, do professor agredido. Filosofia do outro mundo - filosofia mágica, ou do submundo - que pressupõe categorias críticas correspondentes à práxis? Você tem que ser crítico, tem que ir para a luta. Filosofia tem que ter correspondência com as lutas concretas. Filosofia que não manda os outros fazerem, falar da filosofia dos outros. Grito das ruas, dos excluídos, dos pobres, precisamos estar atentos. Não é possível pensar libertação com comportamento homofóbico, machista, racista. Falar em filosofia da libertação é exigir investimento na educação. Meu filho Júnior me passou algumas orientações: Filosofia da libertação passa pela formação de grêmios estudantis livres, debate da negritude, capoeira nas escolas; em que a filosofia da libertação poderá contribuir para o conteúdo e o currículo no Ensino Médio; Hoje perspectiva eurocêntrica. Esse congresso é importante para pensar neste setor e não se limitar à academia.
Francisco Gretter – Vice-presidente da Aproffesp,na luta pela volta da Filosofia desde 1983.
1990/97 – Rose Neubauer – Política do Banco Mundial crime contra adolescentes, tirar deles conteúdos de filosofia, até hoje se paga o preço. Burguesia quer trabalhador qualificado, não quer burro. Vejo a importância da filosofia dentro do contexto e as formas de reflexão filosófica. Lendo para os jovens a alegoria da caverna de Platão, constatei uma grande dificuldade de concentração, de linguagem, de formação cultural. Jovens apologia da mídia, do deboche, da bundice.
Função pedagógica da filosofia – métodos diferentes que levam para libertação. Aquele que estava acorrentado no fundo da caverna volta para libertar os que estão acorrentados. Compromisso de libertação individual e coletivo. Função como filósofo - ter compromisso político pedagógico, pessoal e coletivo. Não estou para ensinar história da filosofia, mas utilizo textos filosóficos, meter na cabeça dos jovens. Método socrático: eu sei que não sei. A filosofia nasce na consciência do não saber. Reconhecer que não sabe (não é igual a ignorância); mas estar aberto à verdade. Busca permanente. Nas escolas nascendo uma geração de jovens preocupada com a política – consciência crítica e vontade de mudar. Professores ficando loucos, deprimidos, devem ir para as ruas. Papel da filosofia na educação é fundamental.
Hugo Allan Matos – Universidade Metodista de São Paulo; do Conselho Executivo do Instituto de Filosofia da Libertação (IFIL), Aproffesp; Unifai – Centro Universitário Assunção
Ensinar filosofia desde o chão da escola. Libertação como rumo do ensino da filosofia. 1). Parâmetros curriculares Nacionais; 2). Ensino da Filosofia; 3). Filosofia da Libertação; 4). Ensino de Filosofia e Filosofia da Libertação.
1). PCNs – Normativas para o ensino da filosofia, concepção do que é educação, Ensino Médio, filosofia que deve estar na escola; papel da filosofia na educação. Páginas 44 e 45. Segundo o documento, a responsabilidade da filosofia é incentivar leitura de textos clássicos, conceitos polêmicos – cidadania, formas da ética, desenvolvimento da autonomia - mas não faz discussão dos mesmos. Qual filosofia pode fazer isso? Reflexiva (reconstrução racional dos educandos; crítica - ser capaz de ser crítico ou autônomo; desenvolvimento sensibilidade estética, identidade autônoma e ou participação democrática).
Na experiência da Aproffesp, percebido muito de que muitos professores de filosofia nunca leram os PCNs, dão aula sem referencial teórico, nunca se questionam sobre a possibilidade de exercer papel social para além da filosofia. Boa concepção do PCN se aproxima da filosofia da libertação. Muitos professores não têm sequer um planejamento de aula, apenas meio de sobrevivência. A partir das experiências da Aproffesp: a filosofia entra no currículo do Ensino Médio sem condições de ser cumprida. Seu modelo baseado no técnico-industrial. PCNs têm visão crítica, mas não têm condições objetivas para isso. Qual é a nossa visão enquanto professores de filosofia? A própria formação dos professores de filosofia é estritamente eurocêntrica, machista, etnicista, etc. A garantia da filosofia da libertação no currículo não garante que o professor terá uma prática de filosofia da libertação na escola. Com 2 horas/aula, enquanto disciplina, o professor não tem condições de ser articulador do Ensino Médio. Filosofia intermediadora de todas as disciplinas. Como? 3 horas ATPC – escola o que fazemos nesta hora? 3 horas em casa - Os professores coordenadores querem doutrinar os professores, não há bibliografia; avisos dos diretores, legislação... Consenso entre os professores, na escola cumpre burocracia. Não é só culpa do coordenador, da diretoria, da diretoria de ensino, trata-se de um projeto do Estado. Existe um projeto de educação do estado de SP que prioriza duas disciplinas que mais atendem às solicitações do Banco Mundial - Português e Matemática. A educação não está em crise, há um programa de educação muito bem estruturado. O que a gente está fazendo da filosofia no Ensino Médio?
Giselle Schnorr – Paraná – IFIL – Instituto de Filosofia da Libertação.
Quem são nossos educandos? Ensino Médio – Universidade do Paraná – cidade União da Vitória. A filosofia da libertação na AL: uma breve apresentação. Categoria ginga: olhar o mundo numa outra perspectiva. Joaquim Torres Garcia 1874/1949; Eduardo Galeano. As vivências, desafios e possibilidades; Brasil: uma ilha cercada de espanhóis. Coordeno o Pibid do Ministério da Educação na Unespar. Iniciação à docência. Trabalho em três escolas da rede pública com 20 bolsistas.
Ponto de partida – construção coletiva cotidiana e vivência na escola. Ensino Médio – ensino, pesquisa e extensão. Organização em redes de saber e conhecimento. Ensinar filosofar ou filosofia? Falsa dicotomia, se ensina filosofia, filosofando. Oficina – a escola que temos. Como perceber os jovens em sua escola? Teatro Fórum. Visibilidade fotografando a cidade. Temas: violência, capoeira. Estamos lidando com juventude, alto índice de evasão: homicídio/acidente de trânsito; é necessário que se repense o currículo do EM; os PCNs sofrem muita reatualização das diretrizes curriculares para EM. A filosofia da libertação nos oferece um potencial muito rico, desde que seja construído de fato com os sujeitos e não para os sujeitos. Fazer um falar libertador. Filosofia da libertação a partir das lutas de libertação social, colocando-se a si mesmo como valioso.
Debate:
Aldo – Não se deve ter perspectiva tecnicista. Há muitos colegas em profundo processo de alienação. Como ir contra a Secretaria do Estado? 16/8 – 3º Encontro em, 35 cidades do Estado – a Aproffesp sem nenhum aparato, sem assessoria, sem investimento, faz o que faz. O fato de estarmos hoje aqui - foi um aperto liberar os professores do ponto; ainda assim há condições que façam um relatório do encontro para a diretoria. Vamos produzir material desse congresso e cobrar a implementação da filosofia da libertação no currículo escolar e para publicação no site. A divergência, longe de ser um problema, é importante. Na diferença, a possibilidade do crescimento teórico. Critério é a práxis – o critério da verdade. Quando em junho as manifestações populares levaram milhões de pessoas para as ruas, percebemos que a juventude sabe o que quer. Querem transporte, tinham pauta: qualidade FIFA na saúde, na educação, no transporte. Precisamos de união e organização entre nós professores, não foi pouca coisa transformar filosofia como disciplina. A juventude nas ruas percebo alunos com algo na cabeça. “Tudo que fazemos é abstração, não serve para nada”, não é assim. Filosofia e Sociologia – reflexo nas manifestações, já vejo avanço dessa juventude dialogando suas dificuldades e debilidades.
Chico – Querem ir para ação política. A filosofia da libertação eu não conhecia. Subimos com 3 mil alunos, a mídia não falou nada. Movimento organizado a mídia não fala. Unidade é estratégia. O caderno de filosofia traz uma visão neotecnicista, de ideologia de competências e habilidades; história e conquistas – formação para o mercado do trabalho. A aprovação automática foi um crime contra o adolescente.
Hugo – Caminhos a seguir. Princípios da economia solidária versus modo de produção capitalista. Como conteúdo para filosofia – carentes de experiências de economia solidária. Duda nos mostrou a partir da capoeira, a Giselle, a filosofia na praça. Não há diálogo com o antagônico. Temos obrigação de relacionar com o diverso. Enrique Dussel fala do bloco social dos oprimidos em Ética na idade da globalização. Lutar dentro da Apeoesp para mudar a mesma. Eliminar dispositivo de representatividade legitima o fascismo. Manifestações - superação do modelo político que aí está. Currículo – instrumento da burguesia, caderninho de filosofia. Que seja o novo feito pelos professores, a partir chão da sala de aula.
Giselle – Milton Santos já dizia que temos que entender o Brasil, a partir do seu território e os sujeitos que os constitua. Escola é um espaço de exclusão, currículo espaço de disputa. Escola território de luta. A filosofia, primeiro, é uma ética e ética é atitude. Educação espaço de construção de sujeitos. Existe um divisor entre ensino superior e formação de professores.
Conferência especial:
Manfredo Araújo de Oliveira – professor titular da Universidade Federal do Ceará. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Ética. Atuando principalmente nos seguintes temas:Filosofia Transcendental, Reflexão, Subjetividade
Dussel – como surgiu pensamento filosófico na AL e como se encontra hoje? O pensamento de libertação da teologia e da filosofia a partir da indignação ética versus pobreza – 3º mundo. Libertação exprime uma nova consciência história – modo novo de entender a totalidade histórica. O novo – a compreensão que esta situação era provocada, construída. Produto de um determinismo histórico, de tal modo sem chances de vida e oportunidades não para todos.
Exigência ética – libertação, a partir do discurso do cativeiro. Pensamento da libertação hoje pensado um novo discurso, o ecológico, desafia a ampliar, pensamento mais amplo. Relação do ser humano com a natureza destruída – do planeta e das condições de vida. O ser humano num processo cosmogênico, processo de gestão permanente de si mesmo. Como a crise ecológica vai desafiar a filosofia para reestruturar o próprio modelo de pensamento? Crise que se compõe de várias crises do conjunto de projetos de modernidade.
Paradoxo controle dessa civilização; ameaça de aniquilamento da própria vida. Desenvolvimento tecnológico – a ciência e a tecnologia a serviço do mercado, de um crescimento ilimitado. Desemprego estrutural, produção técnica prescinde da maioria dos trabalhadores. Maior capacidade de dominação da natureza e da sociedade. Ciência que foi agendando a modificação até a manipulação da genética. Domínio tecnológico versus critérios morais.
Ciência, Técnica e Economia – O progresso humano se mede pelo aumento do PIB, independente se responde ou não às carências humanas. Norte Rico – 17% da humanidade versus Sul pobre – 83% da humanidade. Sujeito do processo é o capital. Tese econômica – único mecanismo capaz de coordenar a sociedade em sua complexidade é o mercado. Deslocamento do poder da esfera política para a econômica financeira.
Resultados: marginalização de milhões de seres humanos – exclusão. Acumular fim de todo o processo. Sociedade do crescimento = social do consumo ilimitado. Ser humano que não é capaz de consumir está fora do contexto.
Destruição sistêmica da natureza, por esse sistema, trouxe problemas globais, como efeito estufa; Brasil maior poluidor do mundo (desmatamento da Amazônia). Países ricos ficam estabelecendo regras para os do Sul. Para onde caminha a humanidade? Crise Ecológica. Abrir espaço para a transmodernidade. Crise nos dizendo que período histórico está chegando ao fim, abrindo à humanidade para um novo paradigma? A crise ecológica desemboca na crise de sentido da vida humana. Desafia a Filosofia e a Teologia a se rearticularem. Não dá mais para pensar nos parâmetros que pensamos. A Filosofia moderna, na sua forma paradgmática (Kant), reviravolta na arte de pensar. O sujeito é o ser humano (instância que dá sentido e inteligibilidade a toda e qualquer coisa. Ele é o parâmetro, o paradigma. Mundo compreendido como algo fragmentado que o homem organiza. A filosofia é uma teoria “reviravolta reflexiva da filosofia”. Nova tarefa da filosofia demonstrar os princípios.
Superação do pensamento moderno – desenvolvimento sustentável versus processo de autodestruição da humanidade. Teoria de descrecimento. Movimentos ambientalistas. Defesa da filosofia – atividade teórica, argumentativa que procura dar conta da realidade. Caráter ilimitado do seu objeto.
Precisamos de uma Ética que consiga pensar a injustiça social e a injustiça ecológica.
Dia 06/09
Minicurso:
Breve Histórico da Filosofia da Libertação: uma abordagem introdutória – Euclides Mance
No terceiro dia foram tratados os diálogos, temas e desdobramentos das reflexões até o final dos anos 90 e algumas elaborações posteriores. Igualmente foram recuperados alguns manifestos sobre a filosofia da libertação, lançados por diferentes grupos ao longo de sua história.
Diferentes visões – filosofia lateinoamericana da libertação, filosofia da libertação latonoamericana e filosofia da libertação.
A filosofia é um conceito universal. AL vários autores que disseram isso. Não existe pensamento latinoamericano//não tem como haver uma filosofia do americano.
AL marcada pela utopia – Zea - Cultura de humanismo. O homem concebido como valor absoluto. Francisco Miró Quesada – Pensamento de libertação está presente na práxis de todas as lutas.
Identidade Latinoamericana – tema pode se tornar um grande problema – racistas, machistas também, e as contradições aí dentro. Ontologia não acoberta a dominação e injustiça; contradições. Identidade do ser negado, em torno de um projeto sistêmico de libertação.
Manifestos 1974 na Argentina - Filosofia da libertação para a AL, prática específica de libertação para recuperação das elaborações da cultura. Práxis da Diáspora filosofia argentina – revisão do seu pensamento original. Horácio Cerutti. A filosofia da libertação tem uma linha populista – trabalha com a idéia de povo. Hugo Asmman, a linguagem. Conceito povo/popular – categoria. Elite/massa (população desarticulada)/povo (setores organizados da sociedade)
Pablo Guadajama – cubano, libertação a partir da cultura, no horizonte da libertação. Analisa vários grupos filósofos lastinoamericanos. A filosofia da libertação não é um autor e muito menos teólogos. Tem muitas matizes.
1). Brasil – a filosofia da libertação 4 etapas: 1). Final 1960/76 – Asmman, Paulo Freire; 2). 1977/82 – até aqui resenhas. Alípio Casali; texto de Antonio Paim (1982) saiu no Estadão “Quem tem medo da filosofia da libertação?” – discussão horrorosa; 3). 1983/87 – processo de divulgação trabalho de Dussel, nada traduzido; 4). 1988... Encontro Filosofia em Gramado – Carta de Gramado. Surgem vários grupos de estudo. Espaços organização para aprofundar os temas: CEFIL, IFIL... Etapa de muito novos – mil títulos/Secretaria do Paraná. Garantir acesso a obras raríssimas. Depois na Internet, a partir de várias produções – Antônio Sidekun, Manfredo, Duda, Sírio Velazco – idéia de uma ética da produção.
Conceito – Eixo de Lutas – vários autores sociais como articular, como integrar tudo isso? Na filosofia da libertação não é um partido que vai ser a vanguarda, é a unidade de luta e tem que atender demandas imediatas; enfrentar as estruturas capitalistas; construir o novo, mobilizar não só pelo contra.
Eixos de Luta – economia solidária – 222 mil iniciativas – 1,7 milhão de trabalhadores, afeta estrutura capitalista de produção; Reforma Agrária, Reforma Urbana. Ações estratégicas: avancem para o socialismo democrático.
Grandes desafios hoje para a filosofia da libertação – acesso a publicações dos diversos autores das diversas correntes; a crítica, não só conceitual nos espaços acadêmicos (crítica ideológica); construção de uma rede de pesquisadores aqui vamos avançar bastante. Rede Mundial de Filosofia da Libertação – Fórum Social 2003. Articulação com os movimentos sociais para produção filosófica Arturo Roig, Antônio Sindekun, Álvaro Fernandez.
Continuidade desse congresso – lista de e-mail como espaço: Fórum e Notícias; Site do Congresso (resultados desse encontro e informações do próximo); organização de grupos de estudos (via internet), elaboração apresentar no próximo congresso (artigos, textos para revistas; Curso de Extensão à Distância (UFMT – Cuiabá); Lista de orientadores; Rede de blogs integrada com o site do Congresso; vídeos. Diversidade das elaborações; Processo de internacionalidade da Rede.
Grupos de Pesquisa propostos: Pensamento Indígena; Linguagem; Introdução à Teologia da Libertação; Biopsicoética da Educação; Mulheres na AL; Filosofia da Libertação no currículo do Ensino Médio; História não oficial; Economia Biofísica e Solidariedade; Ecologia Política; Filosofia da Libertação das manifestações brasileiras; Pensamento africano na Psicologia e Filosofia; Filosofia da Libertação e Lévinas; Diversidade Sexual; Culturas populares; Como o Brasil se coloca no cenário da filosofia da libertação; Filosofia e Tecnologia; Teologia da Libertação e Filosofia da Libertação identidades e diferenças; A adolescente a o jovem no Ensino Médio; Direito alternativo; Alteridade erótica e Sexualidade; Anarquia e Poder Popular; Releitura do Marxismo da Ética e Economia da Libertação; Direitos Sexuais Reprodutivos; Espiritualidade laica libertária; Introdução a Modelos de rede; Ativismo Jurídico popular de Defesa do Oprimido; Pensamento pós-colonial; Teoria da libertação na perspectiva da morte.
Mesa de Debates 5:
Filosofia da Práxis
Suze Piza – Universidade Metodista - Pós em Filosofia contemporânea.
Estudantes brasileiros não têm acesso ao tema Filosofia da Libertação. Necessidade de produção da Filosofia. A filosofia que fazem no Brasil é a práxis ou não? Estamos muito longe disso. Pequeno espaço que ocupamos nessa imensidão, dominado pelo pensamento europeu. Avançar na forma de fazer filosofia.
Práxis – modo de ação. Não só produção simplesmente de uma teoria. A filosofia tem essa capacidade de produzir teorias para compreender e abraçar a existência. Tem se produzido muita ideologia, ao invés de produzir teoria. Assim, presta desserviço à sociedade. Muito mais perigosa. Ideologia que vem do senso comum – produção e descriminação//alienação. Intelectuais produzindo ideologia é grave. Filosofia contribui para emancipação da consciência versus a criação e fortalecimento da ideologia.
Vivemos momento perigoso – espalha-se numa velocidade assustadora de discursos, por exemplo, políticas públicas serviço de saúde ou discurso midiático.
Papel da filosofia hoje – no processo de construção que ajudasse abarcar a existência, atrelamento à Ética e não a uma lógica. Universidades privadas – filosofia está presente, até processo de reprodução desapareceu. Área incluída no discurso de mercado. O filósofo brasileiro - recusa do ensinar, de compromisso social (mesmo que seja só na produção do discurso). Recusa de olhar o próprio tempo. Filosofia habilidade de falar do passado e dos autores.
Márcio Fabri – Bioética – na Faculdade São Camilo, teólogo – Programa Pós Graduação.
Quem são os sujeitos atuantes? Médico e paciente (cartesianismo) sujeito e objeto. Sujeito de forma libertadora; sujeito concreto; sujeito institucional. Bases conceituação de sujeito – filosofia grega, termo do latim “o que está posto” subjacentemente. Sujeito - nomes que dava à realidade (antigos). Em inglês, italiano, francês – sujeito assunto/temática. Português – sujeito humano. Do que pode significar? Particularidades constituem o sujeito de Kant – o sujeito, propriamente dito, não conhecemos. “Eu e as minhas circunstâncias”. Sujeito agente – exterioridade (objeto) relação agente e paciente não existe. O sujeito humano consciência. Pensamento hegleniano – subjetividade moderna morre, sujeito moderno morre.
Torrent – sujeitos coletivos/subjetividade coletiva. Construção do sujeito ético – sujeito pensado com si mesmo é autodestrutivo, relação com o outro.
Exercício de liberdade. A liberdade supõe jogo de 4 condições: 1). Materiais de duas naturezas (ecossistema e trabalho humano); 2). Exercício do poder (poder de decidir na micro e macro política); 3). Informação e Educação (diferentes visões de mundo); 4). Condição ética – a liberdade promove a libertação do outro – liberdades privadas e públicas (chave da liberdade)
Processo de libertação: assegurar as quatro condições de liberdade para todo mundo.
Por que queremos ser livres? Por que expandi-la? O Bem-viver. O que é diferente da boa vida de Aristóteles (liberdade do escravo negada). Diferente do Bem-estar social. Invenções: duas esferas econômica (intermediação da vida privada) e política (intermediação da vida pública). Universalidade da liberdade. Livres, subalternos do trabalho (Marx) – liberdade do trabalhadores negada. Realização do Bem-Viver – Não existem duas esferas, a realidade é constituída de fluxos econômicos e políticos, a partir da democratização da esfera econômica. Superação do bem-estar. Fusão de duas vertentes da ética (verdade e mentira) – realização do Bem-viver não se refere aos bens materiais, desejos materiais = relação de proximidade entre as pessoas. O produto da festa não é a mercadoria, subjetividade do outro está na produção que ele faz (Marx).
Mulher Na Filosofia
Magali Mendes de Menezes – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Uma das condições da libertação é a libertação do outro. Não tem como falar de filosofia sem assumir as causas. Discussão do feminismo – relação das mulheres com a filosofia. Necessidade de rever os currículos e a história da filosofia, das mulheres pensadoras. Repete equívoco. Feminismo – ser assumido como um projeto fundamental. Não falar de uma, mas de mulheres. Tema importante de ser assumido pela filosofia da libertação, interculturalidade; exercício de escutar o outro na sua imensa pluralidade cultural. Feminismo e Interculturalidade – pensar besteiras, pensamento filosófico passa do cotidiano, obviedade. As mulheres têm mais legitimidade para falar do feminismo? Necessariamente perpassa pelo corpo. Histeria – deriva do cérebro // Pensar a partir do seu corpo. Aquele que sofre a violência - único capaz de falar? Como fazer com essa fala, expressar sua própria violência? O que é violência? O que é mais ou menos violento? De que forma a violência sofrida pelo outro pode se tornar universal? Constatação da violência. Como a filosofia seleciona o que quer falar? Filosofia feita opor sujeitos concretos. Corre o risco de fazer a discussão cair num equívoco – crítica ao projeto moderno. Intuições de saberes (indígenas, quilombolas) A filosofia exige reflexão da interculturalidade. Como esse território nos significa e como significamos esse território? Universalidade é um território – Como fazer os mesmos debates? Espaço onde estou. Sentir-se incomodado. Acabamos achando a violência engraçada. Lévinas – subjetividade maternal que é capaz de abarcar o outro, coloca e recoloca a questão da libertação.
Professor Raul Fornet Bettancourt – diferentes forças de estar na realidade – mulher, brasileira, negras, indígenas, quilombolas. Movimentos – volta de pensamentos europeus. O feminismo é um projeto ético, mas só pode pensar no diálogo intercultural permanente. Feminismo carrega em si uma discussão pedagógica mulher aprendendo a falar - Gênero, empoderamento. Franchesca Gargalo - como dizer, sem dizer o corpo.
Debate:
Conceito de inferioridade base conceitual da colonização
Suze – Filosofia vem sendo tratada como produto há muito tempo. Me preocupo no ensino – aluno vai estudar xadrez ou filosofia. Mulheres estão na história da libertação. 1). Como pensar os caras, tipo pensar o próprio pensamento; 2). Resgatar essas mulheres – espaço arqueológico. Escola Pitagórica tinha muitas mulheres. Rompimento da filosofia com aspecto mítico versus pensamento lógico. Razão como sinônimo de racionalidade. Experiências religiosas, interreligioso, elemento feminino - matrizes africanas, construir diálogo interreligioso, ambiguidade do conceito do outro. Simone de Beauvoir versus Lévinas (assumido pela teologia da libertação).
Debate:
Márcio – O fechamento do indivíduo em si próprio fica mono. Theodor Adorno – deixa falar a dor - condição de toda a verdade.
Euclides – Anarquismo grande contribuição, inclusive por ser aproveitado pela Filosofia da libertação. Consumo animal – 1 bilhão de pessoas na fome. Talvez a liberdade não seja só um exercício humano. Filosofia da libertação – crítica radical e profunda em todos os horizontes e apontar alternativas.
Sessões de Comunicação: (textos com os próprios apresentadores
Conferência de encerramento:
Lutz Keferstein – México, Professor investigador e Diretor Acadêmico do programa em Direitos Humanos da Universidade Autônoma de Querétaro
Justiça universal no mundo. Justiça frente à lei. Necessidade da prática da filosofia. Sujeito coletivo, comunitário. Ao longo da história, muitos termos usados – todo discurso é simbólico; pensamento mágico versus pensamento crítico. Culturas pré-hispânicas se relacionam com a natureza. Temos que aceitar a identidade entre religião e política institucional. As legislações têm de ser representativas de todos os setores da população, em uma realidade nacional. Clamor de modernidade.
É um erro divorciar religião e política – nem toda política é religiosa, toda religião é política. Crenças religiosas são subjetivas.
Religião implica intersubjetividade/comunidade. A modernidade é um projeto inacabado, ainda continua a opressão; as leis não podem ser subjetivas; mas atendem a interesses. Exemplos: a Europa central segue lendo horóscopo; reencarnação; seguindo as igrejas. Remitificação//cientificamente comprovado geração de novos mitos. Os próprios cientistas revendo. Teoria do Big Bang – todo o existente o universo – formulando modo de evoluir do universo como as comunidades originais.
Razão simbólica – está em todos os povos. A ciência está remitificada por toda a parte.
Os filósofos tendem a brigar por significados, uso de determinada palavra. Relação com o outro – pessoa como fim e não como meio (Kant).
Não podemos deixar de lado que há sujeitos que se definem como fim em si mesmos, em detrimento de todos do entorno. Sua vida versus sua identidade. Fazer do outro sujeito a serviço. Ideologia do consumo. Se rouba muito dos termos revolucionários/comportamentos e os devolve sem sê-los. (Rock In Roll; cabelos compridos, minissaias).
Anarcocapitalismo – mais revolucionário dos jovens pode dizer neoliberalismo. Indivíduo que domina o mercado é o que manda.
Ferramenta discursiva – discurso religioso textos empregados para oprimir os povos que se constituem autônomos há 5 mil anos. Imperialismo da fé.
Clamores por justiça e liberdade – Torá Novo testamento. Uma leitura libertadora da religião segundo a tradição judaico-cristã.
1). Tomada de consciência da necessidade heno normativa (escravizados por civilizações prévias – Abrão)
2). Desenvolvimento, construção e divulgação dessa consciência – Jacob/Israel
3). Consolidação – normativa vida – Moisés – não só tábuas da lei, leis jurídicas, outras
Fetichização da Torá – lei se torna mais importante que seu momento originário. Toda lei tem um espírito (valor jurídico) que é mais importante. Máxima forma de aplicação da lei versus Injustiça. Espírito da lei – justiça material. Defesa dos oprimidos, libertação dos oprimidos e condições para a realização de todas as identidades.
Religião – metodologia pedagógica, não é um princípio ético. A libertação pode separar para aquele quer separar. Opressão se dá em dois sentidos: que lhe impõe a religião, que lhe tiram a religião. Não se pode dissuadir uma pessoa de suas crenças religiosas, dizendo-lhe tratar-se de um modo sutil de coerção de sua liberdade e de seu pensamento. Mas, ao contrário, deve-se, a partir de sua religião, apresentar os “caminhos de libertação que lhe são inerentes”.
Assembleia da Aproffesp:
Aprovada moção de apoio ao povo sírio e em repúdio à intervenção dos estados Unidos na Síria.
Contribuição ao Debate.Aldo Santos
Esse Congresso de Filosofia da Libertação foi um momento importante da atuação da APROFFESP na luta por uma educação libertadora e progressista!