Filhos da terra

Cris Oladeyi***

O homem que vem de longe

este vem para retirar.

Ouro, prata e madeira

Para isso atravessa o mar.

Ele chega nesta terra

Manda e desmanda neste lugar

Sequestra o negro, oprime o índio

Trouxe consigo o castigo.

A 'Esta terra de palmeiras

Onde canta o sabiá'.

Retira de nossa mente

tudo que de bom há

Usa no dorso chicotes.

Nas mãos usa correntes.

Escraviza este lugar.

Só não tira o canto do pássaro,

porque este só sabe cantar

Mata sonhos e esperança

Ao som de sua chibata que ecoa no ar.

Arde ainda em minha pele,

a tristeza da lembrança.

Que quando ainda era criança

O filho de dono de gente.

Seus olhos não eram inocentes

Eu nem sei se era gente.

Açoitava cavalo e inocente.

Este fruto do mal é o herdeiro

Disto se exalta o senhor.

Que ri de suas maldades

Ele é pura crueldade.

No meu corpo sinto a dor

Com sua mente insana

Ele se sente superior

De nove meses passados

Eu vejo o nascer da criança

Fruto de tanta dor

Pele mestiça e sofrida

Nascida do dissabor

Assim nasce o brasil

Este misto e varonil

De toda raça e cor.

Somos filhos de um estupro

Autora:

Cris Oladeyi (Cristiane Martins) mora na cidade de Ribeirão Pires, mãe, avó, assistente social, poetisa, compositora e militante em defesa da população em situação de rua. Atua desde 2016 com foco nas mulheres e famílias marginalizadas. É autora publicada na coletânea "Escritores Inesquecíveis – Uma Trilogia: Solano Trindade, um Tributo". É conhecida pelo nome ancestral iorubá "Cris Oladeyi”, que significa aquela que vem com a sorte.