Por - Maria Lúcia Silva Santos***
Em Rumo à estação Catanduva, o autor Aldo Santos, chama a atenção para um problema, sendo uma história escrita com a vida de um filósofo muito respeitado, descreve em sua obra a lição que extraímos diante do sofrimento humano é acreditar sempre que um mundo novo é possível com a superação, união e organização dos “condenados do mundo”, que assumem papel transformador na cultura.
O artigo é muito mais expositivo e emprega a cultura sobre as formas de lutas, resistência, e a vontade vencer que é preciso, que configura em uma nova forma de conscientização no conteúdo. É nesse sentido que o autor teve a capacidade de contar a sua história através de várias narrativas.
Para Santos, cada ação desenvolvida no transcorrer de sua trajetória de vida deve gerar compreensão de maneira autônoma, ou seja, sem criar uma dependência entre os conteúdos para que, juntos, possam fazer sentido na mente do receptor da mensagem. Em suas páginas, o autor se apoiou no sofrimento e na aventura que seus pais relatam ter vivido durante 17 dias em que migraram para São Paulo num pau de arara, pois era a única forma de transporte possível naquele momento histórico.
O livro se encarrega de relacionar tudo o que vivenciou com sua família e os sofrimentos desde o seu nascimento. O autor retoma o conceito de escravidão coletiva, onde “as pessoas não tinham direitos e eram submetidas a todo os tipos de dureza em que o trabalho exigia”, e que mostram a forma que eram tratados .Além da compreensão da origem da palavra boia fria, esta palavra segundo o autor “está relacionada à comida que era preparada antes do nascer do sol e na hora da boia já estava fria”, que demostram a forma de trabalho e um novo pensamento convergente que se lançaram em uma grande aventura com o intuito de romper o círculo de miséria em que viviam. Desta forma, seguiam na expectativa de uma mudança radical de vida, modificando a forma de sair daquela situação através de novos desafios. Rompendo assim a vida sentimental e os valores construídos, mas que era necessário e inadiável. O autor compartilha os seus conhecimentos e as lutas enfrentadas durante a infância e juventude de seus irmãos, bem como as suas próprias histórias.
A obra tem capítulos, nos quais Santos trata sobre o conceito de improviso no uso de produtos fortes para matar as pragas existentes na lavoura, pois não tinham preparo para tal tarefa. Analisando o ocorrido com ele, os produtos usados após inalado lhe causou o envenenamento. Nela apenas alguns exemplos analisados para mostrar que as pessoas não morrem ou são substituídas, mas sim incorporadas e transformadas por novas oportunidades para lutar pela sua vida.
Através desse contexto, as pessoas que lerem podem avaliar e compartilhar conhecimentos, observar um processo de interação que teve vários efeitos positivos e também vários efeitos negativos. Santos defende a ideia de que grande transformação na sua vida e de seus familiares ocorreu através da luta pela sobrevivência e com a criação de resistência em meio as dificuldades que enfrentaram, pois, essa vinda a São Paulo, mudou a forma de observar e ver que “os demais componentes de viagem eram pobres e negros, lutando pela vida e também sem saber o verdadeiro significado da guerra sem fim” que era a miséria social. Essa situação facilitou a criação de conteúdos e abriu espaço para discussão, sobre a forma de vida vivida em plena ditadura militar e algo que não era plenamente possível somente através de muita luta, mesmo porque na época as pessoas eram abandonadas a própria sorte e submetidas a técnicas e cultura de morte.
Na parte final da obra, o autor mostra como a cultura da época foi capaz de munir cidadãos comuns com recursos que mostram a verdadeira guerra pela vida onde em nome de desenvolvimento e colheita razoáveis, “os produtos, ou seja, os venenos utilizados, na prática destroem o meio ambiente, matam pássaros e pragas, e, por conseguinte, os humanos também”, visto que foi vítima durante longos anos da tuberculose causada pelo uso desse produto e enfrentou a duras penas a cultura da morte.
Santos acredita no potencial das vítimas sem noção dos riscos, mas que ainda há um longo caminho para percorrer na busca pela realização dos ideais. Para o autor, ainda existe uma lacuna, pois nem todos têm acesso à conhecimento. Através de sua obra, enfatiza a necessidade de estimular relações construtivas e ativas das pessoas que passam por todo tipo de flagelo humano.
Outro ponto abordado é o perigo que o improviso causa, “pois conviver com riscos era natural naquele mundo de trevas”, sendo que os recursos representavam que quando não há uma preparação sobre o uso apropriado das máquinas cheias de veneno, BHC, afeta diretamente a saúde das pessoas. Em 1969, Aldo Santos, apresentou uma forte crise de hemoptise, precisando ser internado, ocasionando marcas profundas na luta pela vida e conheceu a história de vários internos, onde cada uma contava suas histórias trágicas. Pensavam sobre um futuro imprevisto e inesperado, capaz de influenciar o comportamento das próximas gerações. O ocorrido ainda serve de alerta e de orientação para a sociedade nos dias atuais, só que hoje os mesmos venenos são aplicados com novos recursos tecnológicos e que mesmo em meio a tanta evolução não deixa de ser arriscado. Seria de grande utilidade uma nova versão do livro, que abordasse esses novos produtos de combate as pragas como objetos de análise.
Por fim, o autor acaba concluindo que são “muitas vidas ceifadas, a natureza envenenada e o avanço do agronegócio fazem parte do plano diabólico da opressão capitalista que, há mais de 500 anos dizima indígenas, negros, camponeses e operários em nome do progresso”.
Em vista disso, essa é uma obra de leitura não só para especialistas na área e estudantes, mas também para o público em geral, que deseja compreender as implicações sociais provocadas pelas desigualdades, injustiças e explorações.
Rico em dados e exemplos vividos na própria pele, o autor decide transformar toda a sua trajetória de vida e de sua família em que se viram obrigados a saírem de suas terras devido à seca e as condições de trabalho na época, sendo duramente escravizados. Com sua vasta experiência se tornou modelo pautado como símbolo de luta, resistência e coerência, mostrando assim que a negritude e pobreza não pode ser inferior em relação a toda sociedade, e que o negro tem seu valor, mas ainda não tem o real espaço merecido. O autor “tem atuação marcada na luta pela educação, saúde, habitação, transporte, defesa dos animais, no movimento negro e estudantil”.
E mais uma coisa, seu livro é emocionante, sua história de vida é muito sofrida Aldo. Não só a sua como a de sua família também. Mas isso nos ajuda a repensar em nossas vidas que as vezes reclamamos demais e não paramos para refletir no sofrimento das pessoas.É um grande exemplo de luta e superação e você é um guerreiro desde que nasceu. Graças a Deus que sobreviveu e hoje pode dar testemunho, sabe que eu já te admirava e agora mais ainda. E gracas a Deus você nunca desanimou e nem sua família. Muito importante seu livro e sua história para nova geração que reclama de tudo e não dá valor a nada . Parabéns Aldo.
Maria Lúcia Silva Santos - Estudante de Jornalismo e defensora dos Direitos Humanos.
Boa reflexão