Por:Chico Gretter.
Fui casado com uma judia, filha de judeus-alemães que fugiram da Alemanha nazista em 1933; vieram para o Rio de Janeiro onde construíram suas vidas. Com essa filha de judeus-alemães tive uma filha e dois filhos que, pela Lei judaica, são judeus por direito, pois no Judaísmo a descendência é dada pela mãe. Minha neta, filha de minha filha, está estudando em Israel, perto de Tel-Aviv, com bolsa da Escola Hebraica de São Paulo onde estudou o ensino fundamental e onde meu neto também estuda com 100% de bolsa de estudo, quota que a escola Hebraica fornece aos judeus que não podem pagar as altíssimas mensalidades daquela Instituição de ensino.
Fiz essa introdução porque, embora tenha filhos judeus, tenho uma posição sobre a “questão palestina” que colide em alguns pontos com a visão de meus filhos que são simpatizantes do judaísmo. Não sou um antissemita, mas defendo que os palestinos também tenham o direito já adquirido de terem seu Estado independente e autônomo, conforme o acordo entre as partes feito em 1948 que previa a criação de dois Estados: o de Israel e o da Palestina, região que ficara sob o domínio inglês desde os tempos coloniais. É justo que dois povos, duas etnias que se formaram naquela região há mais de três mil anos tivessem agora reconhecidos os seus estados nacionais modernos.
Todavia, após a criação do Estado de Israel, a geopolítica da região, cobiçada por potências mundiais como a ex-URSS e pelos Estados Unidos, além das potências europeias, interferiu no que havia sido previsto e o Estado palestino não foi criado; e por desentendimentos ideológicos, religiosos e de hegemonia na região, alguns países resolveram confrontar o Estado de Israel na década de 60, mas perderam a chamada “Guerra dos Seis dias” para Israel em 1967.
Desde então, o Estado de Israel só foi se fortalecendo e com a ajuda dos EUA, venceram guerras sucessivas e ampliaram o mapa de seu Estado, invadindo terras palestinas, principalmente a Cisjordânia. O que sobrou para os palestinos foram terras salpicadas por colônias judaicas que se multiplicaram nas últimas décadas e a Faixa de Gaza, uma tira de terra de frente para o Mediterrâneo cercada por Israel que controla toda a fronteira. A Faixa de Gaza se assemelha mais a um enorme campo de concentração onde os palestinos se espremem em ruas apertadas, prédios e escombros que se multiplicam com os costumeiros bombardeios do Exército de Israel que são justificados pela existência de grupos extremistas que ali se organizam e se escondem, sendo o mais importante o Hamas cuja ideologia é a não aceitação do Estado de Israel!
Diante dessa situação de conflito, guerras intermitentes e posições antagônicas, é bom saber que grande parte dos próprios israelenses não concordam com a política bélica de Benjamin Nethanyahu/EUA, que é um conservador apoiado por grupos religiosos ortodoxos e reacionários; todavia os que moram em Israel também temem os extremistas palestinos e o grupo do Hamas que pregam abertamente a destruição do Estado de Israel. Por isso, o conflito que se estende há tanto tempo e não se resolve, o que é agravado pelos interesses geopolíticos dos EUA e da Europa no Oriente Médio, dando total apoio ao Estado de Israel, mesmo que condenem ações mais contundentes como os bombardeios sobre a Faixa de Gaza realizados pela Força Aérea israelense, cujo exército é um dos mais bem aparelhados do mundo, sendo que possuem a bomba atômica e contam com o apoio direto dos USA, que têm interesses estratégicos e geopolíticos no Oriente Médio e Israel é sua ponta de lança.
Há também israelenses e palestinos que defendem a criação de um Estado único - Israelense-Palestino que contemple a representação de todas as etnias, grupos sociais e religiões existentes no território disputado há mais de três milênios por semitas (hebreus, judeus) e camitas (palestinos, árabes). Enquanto isso, os inocentes continuam sendo mortos pela intolerância, ódio e insensatez de ambos os lados, como as mais de 60 crianças (62 palestinas e 2 judias) que perderam a vida só neste último conflito na Faixa de Gaza e em Jerusalém, “Cidade Santa" para judeus, islamitas e cristãos!
Não sabemos qual "deus" irá vencer esse conflito que se desenrola por décadas, ou melhor, por milênios. Por isto e por outras coisas me tornei um agnóstico, pois não sei que deus é esse que seus adoradores acreditam que mata e manda matar. Cito aqui uma passagem do Evangelho de Mateus para que gregos e troianos, ou melhor, israelitas, palestinos, cristãos e islamitas repensem sua arrogância, prepotência e burrice:
“Jerusalém, Jerusalém, que mata os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos/as, como a galinha reúne seus pintinhos debaixo de tuas asas...e tu não quiseste! Pois bem, a vossa casa vos é deixada deserta...” (Mateus 23 37 – 38).
Ofereço estas minhas palavras soltas no ar do abismo da maldade humana às 64 crianças mortas nos bombardeios desse último conflito entre Israel e palestinos na Faixa de Gaza. Elas não mereciam isto, como não merecem todas as crianças da África e da América Latina que morrem todos os dias vítimas da violência e da fome!
Como agnóstico, envio meu protesto aos que acreditam no “deus” dos judeus, dos Cristãos e do Islâmicos: vocês nos envergonham! Yahweh, Allah ou Jesus, qual deus vencerá?
São Paulo, 25/05/2021.
Chico Gretter, professor, filósofo, socialista, agnóstico, pela criação do Estado Palestino e respeito ao Estado de Israel, pela existência e autodeterminação de todos os povos, nações e etnias!
Não sou antisemita nem apoio as ações do Hamas! Mas defendo a criação de um Estado Palestino!!!