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A Crueldade em Três Facadas: Adeus Prematuro à Inocência Juvenil


Professor Fagundes***


Na tarde sombria de hoje, mais uma comunidade escolar foi abalada pelo impacto cruel e trágico da violência. Um estudante do 9º ano da Escola Estadual Maurício de Castro, em São Bernardo do Campo, tornou-se vítima de uma violência estrutural que ceifou sua vida aos 15 anos. Três facadas foram suficientes para extinguir prematuramente o futuro de B.E.A.O.S, mergulhando a comunidade, a família e os amigos em uma dor profunda e irremediável.


Essa terrível ocorrência é apenas a mais recente em uma série de eventos chocantes que têm assolado as escolas brasileiras, especialmente no estado de São Paulo. Antes, éramos testemunhas de ataques direcionados a indivíduos, a figuras que por alguma razão eram alvo de repúdio. Hoje, vivemos em uma realidade onde as instituições de ensino tornaram-se alvo de uma quantidade surreal de violência, atingindo não apenas as estruturas físicas, mas, o que é ainda mais alarmante, as vidas de jovens promissores.


Ao olhar para os dados que temos à disposição, surge um quadro assustador. Nos últimos anos, o Brasil registrou 24 ataques a escolas, mais da metade concentrados nos últimos quatro anos. Esses números não são apenas estatísticas; são vidas interrompidas, comunidades devastadas e famílias despedaçadas. É uma narrativa que se repete, uma crise que cresce a passos largos.


Essa epidemia de violência nas escolas não pode ser desvinculada de uma análise mais profunda do sistema educacional brasileiro e das políticas que o cercam. Não se trata apenas de eventos isolados, mas de um problema estrutural enraizado em desigualdades sociais, na falta de investimentos em educação e segurança, e na desvalorização sistemática da classe docente.


Essa onda de violência exige uma resposta imediata e eficaz das autoridades. Não é suficiente ficar nas falácias de sempre, é necessário um comprometimento sério e concreto. Melhorar as políticas públicas, aumentar os investimentos, fortalecer a capacidade de participação social e, acima de tudo, valorizar a ciência, a tecnologia e a produção do conhecimento são passos fundamentais. É crucial enfrentar diretamente aqueles que, de maneira retrograda, propõem que as soluções emanam de uma entidade divina, em detrimento da necessidade de ações humanas concretas, retardando assim as respostas que somente os esforços humanos podem oferecer. Como bem afirmou o filósofo Albert Einstein: "Os problemas significativos que enfrentamos não podem ser resolvidos no mesmo nível de pensamento em que estávamos quando os criamos." Esta citação ressalta a importância de abraçar a responsabilidade humana na busca por soluções eficazes, em vez de delegar a responsabilidade a forças externas.


À medida que buscamos soluções, é crucial lembrar que por trás de cada incidente, há uma história de dor, perda e trauma. Os eventos trágicos em Blumenau, São Paulo, Aracruz, Sobral, Barreiras, Saudades, Alexânia, Suzano, Goiânia, Janaúba, São Caetano do Sul, Realengo e tantos outros lugares não podem ser esquecidos. São lembranças dolorosas de que a violência nas escolas é um problema crônico que clama por atenção urgente.


É necessário que a sociedade como um todo se una em busca de soluções. A desvalorização da educação e o desrespeito à vida devem ser combatidos com a mesma urgência que dedicamos a outras crises. Não podemos mais aceitar que nossas instituições educacionais se tornem campos de batalha. Este é um apelo a uma ação séria e comprometida por parte das autoridades, da sociedade civil e de todos os envolvidos na construção de um futuro mais seguro e promissor para nossos jovens. Chegou o momento de exigirmos políticas públicas abrangentes que envolvam todos os ministérios, visando aprimorar os financiamentos, promover a conscientização social e elevar a cultura educacional da população. É imperativo reconhecer e valorizar o poder transformador da educação, não apenas como um meio de enriquecimento pessoal, mas como um catalisador do crescimento humano, coletivo e econômico do país.


Este não é apenas um problema das escolas; é uma questão que afeta a sociedade como um todo. Sejamos a voz da mudança, exigindo investimentos adequados, políticas públicas eficazes e um comprometimento real com a segurança e o bem-estar de nossos jovens. Unidos, podemos romper esse ciclo de violência e construir um ambiente educacional onde todos possam prosperar.


Referências Bibliográficas:

Freire, P. (1970). A Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra.

Hooks, B. (1994). Educação como Prática da Liberdade. Paz e Terra.



Professor Fagundes – Formado em Física e Matemática pela Universidade de Mogi das Cruzes. Pós-graduação nas áreas de Educação de Jovens e Adultos, Psicopedagogia Clínica e Hospitalar, e Gestão Escolar. Seu envolvimento com a educação transcende a teoria, refletindo-se em papéis práticos como Coordenador Pedagógico na prefeitura de SBC e como professor titular de Física no estado de São Paulo. Militante Sindical e políticos atuando em várias frente desde 1992 na APEOESP, SINDISERV e PSOL.


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