Lúcia Skromov***
A Palestina mete medo nos sionistas e coloca o Estado de Israel em cheque
Eu me pergunto quem ou o que vai salvar a Palestina e creio que muitos dos que a apoiam, senão todos, também se perguntam o mesmo. Todos têm a sua resposta acompanhada de dúvidas, diante de tudo o que segue acontecendo (mortandade por bombas e pela fome, destruição, prisões, tortura...
O genocídio em Gaza continua sendo um pesado tributo aos palestinos, de tal modo que chegamos a duvidar da eficácia das manifestações nas ruas, massivas ou não.
Mas não se pode negar que ainda é uma arma e uma poderosa que temos para defender a Palestina da tirania perpetrada pelo Estado de Israel.
Sem essas mobilizações, não importando o seu volume, mas sendo fundamental a sua constância, a Palestina perderia suas esperanças e ficaria isolada.
Sabemos que esse é um Estado sionista ilegítimo, mas Israel também o sabe.
Sabemos que esse Estado pode ser isolado e cair se a população não desistir de pressionar. E Israel também sabe disso.
Sabemos que esse Estado, quando em situação-limite, busca saídas para não desaparecer. Daí, os acordos com a farsa inerente a eles; acordos esses que o favorecem, deixando apenas sobras aos palestinos. São tramas somadas às tramas imperialistas, à sombra de uma ONU que só dá garantias no papel. Mas Israel sabe disso e não só se prevalece dessa situação para seguir impune, como usa desse estratagema para seguir usurpando territórios palestinos.
Não é o que a História registrou até agora? 76 anos de ocupação como Estado de Israel e, antes disso, como invasão sionista da Palestina a partir dos finais do século XIX e durante todo o século XX. Por mais de meio século o povo palestino foi acuado e, hoje, não encontra mais guarida nem dentro do próprio território ou do que dele lhe restou.
Esse é um cenário trágico, no entanto a pressão internacional sustentada lança uma luz sobre ele. Em que pese o poderoso lobby sionista em prática para esconder e distorcer informações, eliminando jornalistas, matando líderes antissionistas, perseguindo os seus inimigos, pressionando governos pelo mundo afora e infiltrando-se para determinar decisões dentro das instituições de muitos países, esse Estado não conseguiu nesses nove meses de guerra alterar a ordem desta a seu favor.
Tudo indica que a resistência palestina e o apoio internacional lograram colocar o Estado de Israel em perigo.
As perdas do lado palestino são incontáveis, mas as Forças de Defesa de Israel, ainda que com seu enorme poderio bélico, encontram-se em mau estado: baixas numéricas não declaradas que estão a exigir reposição que não virá mais voluntariamente, em função da crescente debandada da população de classe média israelita face à instabilidade política e social. Hoje, o governo genocida está sendo obrigado a lançar mão de meios legislativos para alterar as leis que isentam a participação dos ortodoxos na guerra. Ficou evidente para a população de Israel e para o mundo o despreparo dos soldados, quando se mostraram ineficazes para encontrar os túneis dos guerrilheiros palestinos ou mesmo para regatar os reféns. Grande parte desses soldados se encontram psiquicamente abalados, sobretudo os mais jovens que acreditaram na propaganda construída em torno de uma superioridade a toda prova. As máscaras se esgarçaram e estão caindo e com elas o mito do herói.
As encarniçadas lutas políticas intestinais estão levando o governo a adotar medidas de caráter de exceção, destinadas a prevenir qualquer situação que não lhe seja favorável e a reagir para repor uma normalidade às condições de vida. Inútil decisão, pois nesses momentos, para que sejam cumpridas, está sendo necessária a repressão como ferramenta e a repressão se volta contra os seus próprios cidadãos.
O Estado genocida viu fracassadas as tentativas de impor suas convicções às classes trabalhadoras de todo o mundo. Diante de estatísticas publicadas que garantem que 75%+ da população mundial entendem e aceitam o direito palestino de viver, teria que capitular, mas não o faz, porque significaria aceitar a derrota e, com isso, ver desmoronar o seu castelo de cartas: o Estado construído em bases fictícias.
Assim sendo, o que resta a ele é defender-se através do lobby. Cá entre nós, é o que tem de mais poderoso, pois a persuasão é permeada pelo dinheiro, pela exploração do ego, pela exposição na imprensa dominada pelas corporações judaicas, pelo tráfico de relações e, em tempos de eleições, pelo peso de votos da comunidade judaica.
As barganhas e favores costumam surtir efeito. A moeda de troca sempre será a Palestina.
Não é novidade entre nós a interferência dos sionistas nas nossas instituições, mas é inaceitável.
Recentemente, um setor do Partido dos Trabalhadores se movimentou para criar um núcleo em defesa da Palestina, chamando populares, organizações, movimentos e outros para um seminário no espaço da Câmara Municipal de São Paulo. Tratava-se de uma iniciativa, à imagem e semelhança do processo de gestação humana: demorou noves meses para vir à luz. Quando finalmente, porém, nasceria com a esperança de desenvolver-se, sofreu um aborto. Poder-se-ia dizer espontâneo, pois seus mentores e apoiadores foram tomados de surpresa com o impedimento de sua realização.
Não se pode dizer que foi algo nunca dantes navegado, pois nos tempos obscuros da ditadura aconteceram coisas semelhantes na dita Casa do Povo. Dessa vez, porém, envolveu o lobby sionista.
O presidente da Câmara Municipal, em um ofício à vereadora Zarattini, que propôs acolher o evento nessa Casa, mencionou como justificativa para a decisão “preocupações expressas” pelo Consulado Geral de Israel em São Paulo, mas sem fornecer detalhes.” Aliás, apesar da obrigação da transparência, nem é preciso fornecê-los, pois só mesmo os incautos não conseguem imaginar quais sejam.
Esse seminário estava agendado para acontecer às 19h, numa pacata terça-feira, no dia 25 de junho, em ambiente fechado: uma sala do Legislativo municipal que, em nenhuma hipótese, ofereceria perigo ou risco a adversários da Causa Palestina. No entanto, a simples construção de uma conversa que mencione a Palestina já configura uma ameaça aos sionistas. A isso chamamos de medo, o mesmo que eles pretendem plantar no nosso meio. Estão com medo? Ótimo. Antes eles do que nós, os apoiadores da Causa Palestina.
A “suspensão” foi fundamentada em uma lei que é bem possível que nem mesmo a vereança conheça, que dirá um simples mortal!!! Sem sombra de dúvida foi garimpada entre o que há de pior a ser adaptado ao argumento pretextado: “garantir uma análise detalhada dos aspectos relacionados ao evento, assegurando que todas as atividades promovidas nesta Casa estejam alinhadas aos princípios de respeito, diplomacia e segurança pública.”
Ofício suspendendo o evento do PT
No calor daquele momento, o público do seminário que poderia ter sido e que não foi, sentiu-se compelido a reagir. Protestos se deram no exterior da Câmara Municipal. O evento passou a ser aberto - o que foi muito bom, pois chamou a atenção e atingiu as pessoas que por ali circulavam. Contrariadas, as pessoas dispostas a ouvir o seminário ocuparam as calçadas e vozes exaltadas mostraram a gravidade da situação: limites ultrapassados por estrangeiros em uma nação soberana, sob a cumplicidade de representantes do povo. Tal comportamento gera uma preocupação genuína e impõe uma reflexão urgente: quem manda neste país, afinal? Se as nossas instituições são comandadas por interesses alheios aos da população que as sustenta com o suor de seu trabalho, é preciso tomar medidas cabíveis. Dentre essas, rever as tais decisões colocadas em prática por parlamentares que se supõe sejam representantes do povo.
No caso da “suspensão” do seminário, exigir que um corpo de vereadores escolhidos dentre os partidos apoiadores da Causa faça parte da mesa que discutirá a validade do evento em questão e que seja marcada uma data para que sejam apresentados os resultados conclusivos aos interessados. E somos muitos os interessados.
Mas é preciso atentar para um outro detalhe, para que não escape, um curioso detalhe: o tiro da presidência da Casa e cia. saiu pela culatra. De um lado, a explosão fez despertar sentimentos fortes como raiva, nojo e até desconforto na direção do sionismo; por outro, trouxe à tona a fraqueza de uma política apelativa. Os sionistas usam, a qualquer preço, de todos os meios possíveis por todos os lados para se manter no poder. Na verdade, um resto de poder ao qual se agarram, dentro e fora de Israel, tamanho o isolamento a que está sendo submetido o Estado ilegítimo que criaram.
Mas nem todos os recursos que existem são capazes de esconder o calcanhar desse “aquiles” (em minúsculas) e reduzir o medo que tomou conta dele.
No seio do sionismo, campeia o temor de ver dissolvido o “Lar Judeu”, ou, melhor dizendo, o sonho de conquista do Oriente Médio. Em outras palavras, trata-se do desejo sionista de resgatar o Reino de Israel, trazendo de volta um passado remotíssimo, mas dando-lhe uma nova roupagem, própria do século XXI.
Hoje, assistimos a um fenômeno: tanto maior o lobby, maior a reação dos manifestantes, de modo a impedir que esse reino seja construído sobre as ruínas do povo palestino e sua história.
Descaradamente os sionistas se apoiam na bíblia (a deles e a dos católicos) para manipular mentes. Contudo, o número de crianças e mulheres mortas é estarrecedor e são inegáveis essas mortes. Nem mesmo o lobby poderoso dá conta de escondê-las. Tal qual ocorreu nos tempos da Guerra do Vietnam, as fotos ganharam o mundo e falam por si só. Elas estão sendo capazes de dar conta de mostrar a farsa desses “ensinamentos bíblicos”.
No combate ao sionismo e seus truques, o que pode ser uma resposta mais rápida e eficaz é a conexão entre as organizações de diversas naturezas, movimentos sociais e partidos políticos, visando construir uma unidade pelo anticolonialismo. É o dever de todos que pretendem uma Palestina livre com um Estado soberano.
Lúcia Skromov – ativista político-social, do “Grupo Pelas Crianças e Vítimas da Guerra na Palestina” e “ABComitê Regional Unificado em Defesa da Palestina”.
02 de julho de 2024
Os povos do mundo despertaram muito tarde para a solidariedade ao povo palestino! Infelizmente!